O PES-2013 mostra a falta de visão do futebol no Brasil
Erich Beting
A Konami apresentou ontem para o mercado o Pro Evolution Soccer 2013. O jogo de videogame contará, pela primeira vez, com os 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro (leia mais detalhes aqui). A presença das equipes brasileiras é uma tremenda evolução competitiva para a Konami no mercado nacional, algo que a empresa tem buscado nos últimos três anos, quando passou a olhar para o público brasileiro com mais carinho com o início da transmissão dos jogos com o narrador Silvio Luiz.
Mas é simplesmente vergonhoso saber, pela própria Konami, que o acordo com todos os 20 times da Série A do Brasileirão só foi obtido um dia antes da apresentação do jogo para o público. Sim, é isso mesmo! Foi preciso que os executivos da empresa negociassem com cada um dos 20 clubes separadamente para que as equipes fizessem parte do game.
Quando discutimos aqui no blog o tiro no pé que os clubes brasileiros estavam dando ao abandonarem a negociação coletiva com a televisão para partir para acordos individuais, muitos discutiram que todos só tinham a ganhar. O caso da Konami, porém, só reforça o quanto os clubes perdem oportunidades exatamente por não terem uma entidade que represente os interesses comerciais deles.
O que os dirigentes raramente percebem, e isso é um fenômeno mundial, é que clubes de futebol são concorrentes apenas dentro de campo. Fora deles, não há qualquer hipótese de um clube ganhar consumidor do outro. O raciocínio é simples. Quando um torcedor vai consumir um produto de um time rival?
O caso da Konami só reforça isso. Imagine o quão trabalhoso é, para a empresa, negociar com 20 clubes diferentes quando poderia chegar a uma entidade e fechar um negócio diretamente?
Bom, resolvido esse problema, entramos em outro, que interfere, no longo prazo, no potencial de geração de receitas do futebol. Ao ficar na base do ''cada um por si'', o Brasil perde uma excelente oportunidade de construção de uma marca para o futebol do país. E esse é o ponto básico de revolução comercial dos principais eventos esportivos do mundo.
O grande mote para o sucesso comercial dos Jogos Olímpicos, por exemplo, são os aros que simbolizam as Olimpíadas. Da mesma forma, a taça da Copa do Mundo é um objeto que identifica o torneio e faz com que a marca seja desejada pelos consumidores. Para quem comprar o PES-2013, já na seleção das ligas nacionais poderá ser visto o assombro que é o Campeonato Brasileiro não ter nem ao menos um logotipo que identifique a competição.
O dinheiro da TV tem turbinado, e muito, o cofre dos clubes. Mas, há mais de uma década, os principais times de futebol do mundo perceberam que mais valiosa que a verba da televisão é o potencial de geração de receitas que vem do consumo do torcedor. E isso passa, necessariamente, por estruturar negociações conjuntas de marketing.
Imagine a gama de produtos que poderiam ser geradas do Campeonato Brasileiro de futebol? O mercado de videogames é um dos mais promissores e desejados pelas marcas em todo o mundo. Afinal, os games falam prioritariamente com um público jovem e de alto poder aquisitivo.
Qual seria o poder de barganha dos clubes numa negociação coletiva com a Konami? Há cinco anos, um racha parecido na negociação dos direitos de produção dos álbuns de figurinhas dos clubes gerou um impasse que simplesmente acabou com o álbum do Brasileirão.
Os clubes continuam a se enxergar como uma vitrine expositora de produtos (e, no caso, esse produto é o jogador de futebol), em vez de perceberem que são, na verdade, o próprio produto em si. Por isso mesmo continua a velha reclamação de que falta dinheiro no caixa e, pior, há poder demais concentrado na televisão. O cenário só vai mudar quando aceitar-se o óbvio. Acima de qualquer clube está a competição que ele disputa, assim como acima de qualquer atleta está o clube que ele representa.