Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2012

O que é que o Corinthians tem?
Comentários Comente

Erich Beting

Sábado, 21h, estádio do Pacaembu. Quase 27 mil torcedores estiveram presentes para assistir à vitória do Corinthians sobre o Grêmio. O roteiro é mais ou menos o mesmo em todos os jogos do clube paulista neste Brasileirão. Em média, são cerca de 20 mil torcedores por partida do clube, que não almeja o título e está nas posições intermediárias da tabela.

O curioso é que, no sábado à noite, o público do Corinthians foi exatamente metade daquele que, no dia anterior, feriadão de 7 de setembro à tarde, a seleção brasileira teve no estádio do Morumbi.

O que faz o Corinthians, hoje, ter uma presença de público diferenciada em relação aos outros clubes do país? Além, claro, da boa fase do time, campeão da Copa Santander Libertadores e a três meses da disputa do Mundial de Clubes, está uma série de outros fatores que leva o torcedor a ter interesse em deixar a comodidade do lar e ir atrás do entretenimento dentro de campo.

O primeiro passo dado pelo clube para isso é tornar a venda de ingressos praticamente online. É raro ver, hoje, partida do Corinthians com ingressos disponíveis para comercialização no dia da partida. No estádio do Pacaembu, aliás, as bilheterias fecham com horas de antecedência para o início do jogo.

Isso já inibe o fator imprevisibilidade, que é o torcedor deixar para decidir-se pela compra apenas uma ou duas horas antes de a partida começar. Ou seja, se o dia está com muito sol, o futebol facilmente perde para a praia, a piscina, etc. Isso sem falar no cinema com a família, no churrasco com os amigos e quetais.

Outro importante movimento que a diretoria alvinegra fez foi incentivar de forma inteligente o sistema de sócio-torcedor. Apesar de ainda ter como maior benefício apenas a compra de ingresso (algo que desde sempre critiquei aqui no blog), o Corinthians conseguiu fazer desse limão uma limonada. Ter a facilidade na aquisição de bilhetes, premiando aqueles que forem mais frequentemente ao estádio, foi a sacada mais genial do “Fiel Torcedor”. Isso incentiva o torcedor a ir ao jogo e a comprar antecipadamente o bilhete.

Mais um ponto fundamental foi a valoração do ingresso. Neste Brasileirão, as entradas variam de R$ 30 a R$ 180, sendo que essa última categoria de bilhete ainda dá direito a um traslado gratuito do torcedor para o estádio, um componente que sem dúvida faz valer o preço da comodidade.

No final das contas, o Corinthians acaba aumentando a arrecadação em bilheteria ao tocar num ponto fundamental. Ele criou facilidades para que o torcedor consiga ter acesso fácil ao ingresso e, também de forma importante, faz com que a ida ao estádio seja um programa legal de ser feito e com o sentimento de que é algo importante na vida do torcedor.

Isso dá trabalho e demanda investimento (dos mais variados tipos, passando pela qualificação de funcionários até chegar na alta tecnologia para formar o sistema de venda de bilhetes). Mas o resultado é claro. O Timão, hoje, é o clube que mais arrecada em bilheteria no Brasil e, mais do que isso, é o que mais leva torcedor ao estádio na proporção de taxa de ocupação dos assentos disponíveis.

Ganhar a Libertadores ajuda, é claro, mas a paixão do torcedor e a vontade de ir ao jogo independe dos títulos. A seleção brasileira, tão maltratada ultimamente pelo público, que o diga.


Bolt quebra as fronteiras numa velocidade impressionante
Comentários Comente

Erich Beting

Usain Bolt era, até uma semana atrás, um ilustre torcedor do Manchester United. Volta e meia, pelo Twitter, o velocista jamaicano mandava sua torcida para o clube inglês, comentava jogos e jogadores, mostrava realmente interesse pelo time. Agora, Bolt foi convidado pelo Manchester para disputar uma partida amistosa no ano que vem, contra o Real Madrid.

A atitude do clube inglês chega a ser surpreendente, já que não é tão comum na Europa os clubes “bajularem” personalidades de outros esportes. E o motivo é simples. Quase sempre a história dessas equipes é ligada ao futebol (as exceções entre os clubes top de linha atualmente são os espanhois Real Madrid e Barcelona), e por isso mesmo não há tanto costume em fazer uma ligação de atletas de outras modalidades com os clubes.

Mas até nisso Bolt mostra que é um fenômeno. O jamaicano também ajudou o Manchester a ganhar projeção e visibilidade mundiais ao ser associado ao clube, algo que até então era pouco comum de acontecer. Um clube que teve durante quase uma década a força descomunal de mídia e marca que é David Beckham e, depois, contou com Cristiano Ronaldo, precisou agora ir atrás de um cara de fora do futebol para causar repercussão mundial.

Usain Bolt mostra que também é capaz de quebrar as fronteiras numa velocidade impressionante. Depois de Michael Jordan e Michael Schumacher, talvez o jamaicano seja um ídolo realmente global do esporte, daqueles que qualquer modalidade e qualquer entidade desejam criar algum tipo de associação.

Para o bem do esporte no mundo, o que precisamos é justamente de mais atletas assim.


O mercado expandiu ou as pessoas mudaram de emprego?
Comentários Comente

Erich Beting

O São Paulo anunciou há pouco um acordo para que a Semp Toshiba seja a nova patrocinadora do clube até 2014 (leia aqui). O negócio marca a volta da empresa de eletroeletrônico para o esporte (estava ausente desde que saiu do Santos, em 2009, e tinha feito um acordo pontual com o mesmo Santos neste ano) e, mais do que isso, dá fim a uma angústia que perdurava desde o início do ano no São Paulo, que não tinha um patrocinador principal na camisa.

Mas a pergunta subsequente ao anúncio é óbvia. O mercado de patrocínio esportivo voltou a viver um processo de expansão?

Para a Semp Toshiba o negócio é extremamente coerente. Perdendo espaço para as rivais de peso como Samsung, Sony, Panasonic e LG, a empresa brasileira explora exatamente a tática de seus rivais coreanos no passado. Patrocina o futebol para dar visibilidade à marca e, assim, aumentar a popularidade, o que pode vir a gerar mais vendas.

O problema é que o setor de eletrônicos, que é um dos principais investidores do esporte ao redor do mundo, está um tanto quanto estagnado por aqui, ainda mais depois das desastrosas saídas de LG e Samsung dos seus clubes patrocinados. Sim, as marcas seguem investindo, não mais em clubes, mas em campeonatos.

Por isso mesmo a volta da Semp para apoiar um time de grande visibilidade é um tanto quanto óbvia. Mas aí é outro ponto importante. Ela acontece não tanto pela decisão da empresa em adotar como filosofia investir no esporte, e sim pela presença de executivos que já tiveram, no passado, a experiência de usar o futebol para alavancar vendas e formar a marca da companhia.

Na segunda-feira, Eduardo Toni foi apresentado como diretor de marketing da empresa. Não à toa, Toni foi quem gerenciou boa parte do contrato São Paulo-LG, quando era o diretor de marketing da multinacional coreana. Ele já sabe o quanto dá retorno para uma marca injetar dinheiro no esporte. A decisão, aí, fica mais fácil de ser tomada, ainda mais quando o responsável por planejar a verba é o próprio executivo que tem o conhecimento prévio do negócio.

Para o São Paulo, sem dúvida o negócio é espetacular. E o clube terá de trabalhar para criar um relacionamento que dure novamente tanto tempo quanto foi o antigo acordo da LG. Mas, para o mercado, o questionamento permanece.

Será que o mercado aqueceu/expandiu ou os patrocinadores é que continuam a atuar conforme as pessoas que são responsáveis por ele mudam de emprego?


E a briga pelos direitos de TV fica cada vez mais acirrada
Comentários Comente

Erich Beting

A ESPN anunciará na próxima semana a aquisição dos direitos para transmitir a Copa do Brasil Sub-20, que acontece entre outubro e dezembro (detalhes aqui). Até aí, aparentemente, o negócio não é nada demais.

Competição que estreia no calendário do futebol nacional este ano, a Copa do Brasil Sub-20 está longe de ser um grande evento e é uma grande aposta do que será, ainda mais acontecendo paralelamente a outras grandes disputas das equipes profissionais. Mas o negócio é emblemático para o mercado brasileiro de direitos esportivos.

Depois de quase duas décadas, uma emissora consegue “bater” a Globo e conseguir exclusividade sobre um evento de futebol no país. E num momento que é extremamente delicado para o mercado de compra de direitos na TV paga brasileira. A entrada da Fox no começo do ano “bagunçou” o coreto e gerou uma inflação que há muito tempo não se via. Ou melhor, há cerca de uma década, quando a entrada da PSN causou o mesmo alvoroço.

Depois de a Fox elevar em quase cinco vezes o valor que era pago pelos direitos do Campeonato Italiano, que saltaram a estrondosos US$ 20 milhões apenas para o território brasileiro, e a Globo contra-atacar negociando um prolongamento do contrato com os clubes de futebol no Brasil para ter as maiores competições, a ESPN dá agora o ar de sua graça com esse negócio com a CBF.

O único problema, nisso tudo, é que a escalada de preços e de concorrência não vem acompanhada de uma evolução na gestão de quem é o detentor desses direitos. Fosse isso, nenhum clube teria aceitado a luva a ser paga pela Globo para ampliar seus contratos e passaria a entender que a força está com eles para aumentar o valor que é pago atualmente e discutir, de forma contundente, quais os planos da emissora que deterá os direitos no segmento de TV fechada, para um mercado que vai se transformar substancialmente num país cada vez mais conectado à internet e também com mais acesso à TV a cabo. Isso sem falar na chegada da TV por demanda, algo que em menos de dez anos acontecerá no país.

Mas debater isso é perda de tempo depois que implodiram com a negociação coletiva dos direitos. Pelo menos o consumidor vai ganhando mais opções dentro de um mercado que ficou quase uma década estagnado. E isso, no fim das contas, ajuda o próprio esporte, mesmo sem ele estar pronto para isso.


A Nike começa a matar a Umbro
Comentários Comente

Erich Beting

Primeiro foi um comunicado “meio que ao acaso”, em 31 de maio, anunciando que após quatro anos da compra da Umbro, a Nike decidia colocar à venda a marca de origem inglesa para manter o foco nas atividades centrais da empresa. Hoje, a fabricante americana também anunciou que passará a vestir a camisa da seleção inglesa em 2013, encerrando 60 anos de parceria com a Umbro.

O desfecho do caso significa exatamente o tiro de misericórdia na fabricante inglesa, que sempre foi focada em futebol e tinha no time inglês o seu principal produto. Tanto em termos de expansão global da marca quanto em venda de artigos. Agora, sem o English Team, a pergunta provavelmente fica sem resposta; quem irá querer a Umbro sem o seu maior ativo?

O fim da parceria com a seleção inglesa marcará provavelmente a derrocada da Umbro no cenário esportivo, mais ou menos como aconteceu com a Le Coq Sportif no passado (o então famoso galo francês foi cedendo terreno para os concorrentes até definhar). Ela também é mais uma evidência de que o mercado de fabricantes de material esportivo está polarizado entre Nike e Adidas, com as outras empresas “roubando” ainda pequenas fatias que estão disponíveis.

O fracasso do acordo Nike-Umbro também mostra o quanto a empresa americana “sentiu” o golpe da compra da Reebok pela Adidas, lá em 2005. Na ocasião, a marca alemã viu na compra da concorrente a melhor forma de entrar nos Estados Unidos com peso suficiente para atrapalhar os negócios da sua maior rival. O tiro foi tão certeiro que a Nike tentou revidar comprando a Umbro, com o intuito de tomar a liderança da Adidas no futebol que durava mais de seis décadas. Durante alguns meses antes da Copa de 2010 isso foi possível, mas com o fenômeno Jabulani a marca das três listras rapidamente retomou a liderança no segmento.

Agora, a Umbro começa a entrar no seu ocaso. É possível, ainda, que alguma marca chinesa resolva comprar a fabricante para adquirir a capacidade de fazer uniformes sob medida, um dos principais diferenciais da empresa inglesa. Fica a certeza, porém, de que no mercado de futebol nunca mais teremos uma marca tão charmosa como ela.