Pode ser a gota d’água
Erich Beting
Talvez tenha sido a santa providência quem acabou com a resistência em Resistencia ontem, dando um fim um tanto quanto melancólico ao ''Superclássico das Américas''. Síntese do despreparo gerencial do futebol na América do Sul, o jogo que não houve resumiu bem o descaso com que foi tratado um dos confrontos de maior rivalidade no futebol mundial.
A ideia de criar uma partida para promover Brasil e Argentina é boa. Se houvesse espaço no calendário mundial para isso e um bom gerenciamento do evento, seria perfeito. Mas, com os dois times usando apenas atletas que atuam em seus países, o jogo perde em atratividade. Mais. Com as respectivas confederações usando a partida para fazer média política, só piora, a ponto de ter de cancelar a partida por falta de luz numa cidade no interior argentino.
Foi-se o tempo em que era possível o dirigente fazer o que bem entendesse com relação a escolhas de jogos e locais de partida. Hoje, com o atleta cada vez mais valorizado, geralmente o primeiro pensamento é preservar a integridade do jogador. Depois, tem de ser escolher um local que atenda também o interesse de patrocinadores e televisão.
Isso é o que prega a cartilha básica de organização de um evento esportivo. Algo que, considerando-se a qualidade dos dirigentes que comandam o futebol tanto na Argentina quanto no Brasil, está longe de ser objeto de estudo.
Talvez o mico de ontem tenha sido a gota d'água. Pode ser que a vergonha a que se submeteram duas das mais tradicionais seleções de futebol do mundo faça com que as coisas comecem a mudar. Para quem viu no domingo passado Argentina e Nova Zelândia se enfrentarem num amistoso de rúgbi, quarta-feira teve cara de que o futebol está preso há cerca de 50 anos no passado.