Negócios do Esporte

A chantagem do esporte aos entes públicos

Erich Beting

Há algumas semanas, após a realização do UFC no Rio de Janeiro, Dana White, presidente da competição de lutas, afirmou que estava tendo dificuldades para fazer com que a cidade de São Paulo abrigasse um evento da empresa. A frase do chefão do MMA foi a seguinte:

''Estamos tendo problemas para ir a São Paulo, queremos ir para lá, estamos tentando! Faça aqueles governantes de lá ajudarem'', disse, entre risos.

A frase de White expõe uma realidade do esporte em todo o mundo, em especial nos Estados Unidos, e que felizmente aqui no Brasil não consegue ter eco na opinião pública. A força da realização de um evento esportivo faz com que, muitas vezes, o esporte chantageie os entes públicos para conseguir ter facilidades para fazer com que ele aconteça num determinado local. Em tempos de aproximação de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos por aqui, cresce o debate sobre a participação da esfera pública no financiamento do esporte de alto rendimento.

Nos EUA, é absolutamente comum a cidade ser pressionada para receber um time ou uma competição. Austin, no Texas, por exemplo, foi praticamente obrigada a investir quase US$ 200 milhões na construção de um autódromo para abrigar uma etapa da Fórmula 1 (a corrida acontece no próximo dia 18). A explicação dos gastos é a geração de receita a partir da realização da corrida de F1 na cidade, com a movimentação do turismo, do pagamento de impostos, etc.

Já na Europa, a profissionalização do esporte levou também ao surgimento de fenômeno parecido. Munidos de informações mais precisas sobre o impacto positivo da realização de um determinado evento, os executivos do esporte pressionam os governos a fazer investimentos ou conceder benefícios para que consigam pagar menos para alcançar seus objetivos.

É o tal conceito do ''pão e circo'' que domina a humanidade desde os tempos da Roma Antiga. Na gestão moderna de eventos esportivos, o conceito de que é função de governo ajudar a investir no entretenimento das pessoas ganha força. Em troca de popularidade, o governante muitas vezes cede aos caprichos do organizador e atende à ''chantagem''.

Aqui no Brasil a moda ainda não pegou. A maior explicação para isso é, sem dúvida, a falta de capacitação de quem gerencia o esporte em mostrar para a esfera pública o benefício de investir nisso. O único caso até agora, e que causou imensa repercussão negativa, foi o pacote de isenções fiscais ao estádio do Corinthians para a Copa do Mundo. A prática, porém, vai começar a ser cada vez mais comum, especialmente depois dos megaeventos, que trabalham ferozmente esse conceito.

Essa prática, aliás, talvez seja um dos legados que Copa e Olimpíada deixarão para o país. Infelizmente.