A mudança que teima em não acontecer no esporte
Erich Beting
Há poucos dias, aqui no UOL, Juca Kfouri em seu blog tocou num ponto fundamental para discutir o futuro do esporte no Brasil. Com o título de ''Ajude a mudar o esporte brasileiro'', Juca convidou o leitor para assinar uma petição que pede mudança no sistema de comando das principais entidades esportivas brasileiras (para quem quiser ir até lá, é só clicar aqui).
Curiosamente, no mesmo dia o site da ESPN trazia uma brilhante reportagem que explicava, ou pelo menos tentava, a queda do Atlético Goianiense no Campeonato Brasileiro (leia aqui a excelente matéria de Thiago Arantes). Em resumo, o Dragão caiu por conta da queda do sistema de influência política que auxiliava o time a manter-se na elite nacional numa meteórica ascensão desde 2005.
As duas histórias, por sua vez, exemplificam algo que já foi falado aqui no blog e que já foi, inclusive, motivo para o mesmo título dado ao post de hoje. O esporte, no Brasil, teima em não mudar. E é isso o que, no médio e longo prazo, inviabiliza a profissionalização da indústria esportiva no país.
Quando nós elogiamos algumas iniciativas do esporte pelo mundo, invariavelmente elas estão ligadas a uma gestão altamente profissional do esporte. Uma final do futebol americano, um evento do MMA, um jogo da Liga dos Campeões da Uefa… O que faz o esporte ser tão espetacular nos EUA é o tratamento que é dado a ele como espetáculo. E entenda-se por espetáculo toda a cadeia produtiva. O atleta, o torcedor, a mídia, os organizadores. É tudo um show para entreter o público. A Europa copiou e adaptou esse modelo nos últimos 20 anos, e o resultado é o que vemos por aqui nas transmissões de torneios internacionais. Um show cada vez maior, elevando o nível do evento como um todo.
E, em todos esses casos, não é o sistema político que diretamente interfere na criação desse modelo. As ligas esportivas americanas, por exemplo, são 100% empresariais. São empresas com donos, que não atendem a interesses políticos. Já na Europa, o modelo varia de país para país, mas há exemplos bons dos dois lados, tanto de clubes com donos quanto de entidades meramente políticas.
A essência, nos dois casos, está na qualificação de quem é responsável por gerenciar o esporte. O presidente assume, muitas vezes, a função política de representar a entidade, mas abaixo dele estão pessoas que são profissionais do mercado. Elas têm conhecimento técnico e base para fazer com que o clube tenha o melhor desempenho esportivo possível, ou o campeonato seja o mais lucrativo possível e de alto nível para o consumidor e para a mídia.
No Brasil, são raros os exemplos de estruturas esportivas que funcionam dessa forma. Daqueles de contar realmente nos dedos quem é capaz de fazer um trabalho assim. Por aqui, proliferam-se os exemplos como o do Atlético Goianiense, em que os investimentos são feitos com outros fins além do esportivo. Isso faz com que a casa caia tão logo o clube atinja os interesses de quem os comanda ou, então, quando a fonte seque.
A principal mudança que precisa acontecer no esporte não é a mudança no sistema de escolha dos dirigentes, mas na qualificação de quem está no poder. Ou, então, no desprendimento de quem está no comando. É muito mais uma questão de governança do que de governantes. O Vasco da Gama e o Palmeiras são dois exemplos recentes de que nem sempre mudar de ares significa melhorar de fato.