O marketing nunca está acima do esporte
Erich Beting
O Corinthians divulgou nesta segunda-feira a lista com 23 jogadores para disputarem o Mundial de Clubes. Nela, não consta o nome do chinês Zizao, contratação meramente marqueteira do clube paulista. A ausência do jogador chegou a ser lamentada por algumas pessoas sob o argumento de que seria folclórica a presença de um atleta chinês na disputa da competição.
No ano passado, com outra dimensão, é claro, chegou-se a cogitar a presença de Pelé entre os 23 nomes santistas para o Mundial. Até mesmo ventilou-se a ideia de fazer com que o mais ilustre camisa 10 do futebol pudesse jogar alguns minutos pelo Santos na competição. No fim das contas, Pelé foi ao Japão para promover o clube e nada além disso.
Os dois casos evidenciam o óbvio, mas que muitas vezes é esquecido. Nunca o marketing pode estar acima do esporte. Por mais barulho que possa causar uma ideia ousada (como a presença de Pelé no Mundial), ela sempre tem de estar balizada pela questão técnica.
O maior benefício que existe para uma estratégia de marketing ser mais bem sucedida é ter o resultado esportivo vencedor. E o maior risco que existe é exatamente quando o marketing interfere no desempenho esportivo. Por mais bem planejada que possa ser uma campanha, quando ela claramente atrapalha o desempenho esportivo, ela coloca por terra toda a iniciativa.
No passado, por diversas vezes os dois lados da indústria do esporte, patrocinador e patrocinado, trocavam os pés pelas mãos e achavam que o marketing poderia falar mais alto. Com a profissionalização, tanto de quem investe quanto de quem faz parte do esporte, isso é cada vez mais difícil de acontecer.
Seria interessantíssimo, do ponto de vista do marketing, o Corinthians colocar Zizao em campo no Mundial. Era a oportunidade mais do que perfeita para o clube se aproximar do mercado chinês, que adoraria entender a história de por que um atleta do país disputa a principal competição entre clubes do mundo por um clube brasileiro. Mas o marketing do clube nunca poderia estar acima de uma decisão técnica. Sim, são 23 jogadores, tranquilamente um atleta poderia fazer parte do grupo mais como figurante, mas o risco de precisar de alguém mais qualificado e não poder utilizá-lo para levar um ''turista'' é ainda maior.
Afinal, no esporte, o melhor marketing que existe ainda é a vitória…