Negócios do Esporte

A Eurocopa itinerante e o preço das arenas modernas

Erich Beting

Quando assumiu a presidência da Uefa, Michel Platini foi venerado por ser um ex-craque dos gramados alçado à condição de chefe maior do futebol europeu. Como promessa de campanha, o ex-camisa 10 da seleção francesa prometia deixar a cartolada de escanteio e recolocar o jogador e os clubes como protagonistas do futebol no Velho Continente.

Por um lado a Uefa melhorou, e muito, a divisão de receita entre os clubes e, também, o acesso de times de países menores à Liga dos Campeões. Além disso, os atletas ganharam algumas tradições de volta, como receber a taça de campeão das competições da entidade na tribuna de honra do estádio.

Só que a nova decisão da Uefa soou para lá de estranha. Amparando-se na crise financeira que ainda assombra a Europa, a entidade anunciou que, em 2020, a Eurocopa só terá sede fixa nas semifinais e finais. Antes disso, os clubes vão perambular pelo continente para disputar as partidas, tal qual acontece nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

A decisão da entidade revela o lado perverso do ''caderno de encargos'' criado pela própria Uefa para abrigar suas competições. As exigências mínimas que os estádios precisam ter para receber um evento da entidade acabam tornando-os, na maioria das vezes, inviáveis ao longo do tempo. Dois casos recentes envolvendo a Uefa são as Eurocopas de 2004, em Portugal, e 2012, na Polônia e na Ucrânia. Nos três países são pouquíssimos os estádios que se mantêm rentáveis depois de passado o torneio.

A Uefa, então, viu-se numa encruzilhada. Não pode criticar o modelo que ela mesmo criou e, também, não pode privilegiar apenas os países que não terão ''prejuízo'' numa eventual realização do torneio. A ideia de fazer a Eurocopa itinerante é, sob esse aspecto, a solução mais racional para o momento. Essa é a boa notícia.

O problema é que o preço das arenas modernas, no dia a dia dos países, está se provando salgado demais. E a modernização tem virado, cada vez mais, sinônimo de fracasso econômico. Ou as entidades esportivas adaptam seu evento à realidade do local onde ele será realizado, o que é péssimo em termos de entrega de produto, ou então precisarão repensar o modelo em que, nos últimos 30 anos, calcaram o enriquecimento de suas contas bancárias.

Na Europa, a Uefa já mostra onde pode estar um caminho para achar uma solução.