Negócios do Esporte

O abismo entre Corinthians e Chelsea

Erich Beting

Corinthians e Chelsea escancaram, no Japão, o abismo que existe entre as duas equipes. Pelo menos no que diz respeito à fama de um e de outro em solo japonês, os ingleses ganham de goleada a disputa.

Os outdoors “provocativos” do Corinthians próximo ao estádio de Stamford Bridge, em Londres, levam o torcedor alvinegro à loucura. De clube sem conquistas internacionais a marca exposta na capital inglesa, o corintiano tem, com justiça, de celebrar a mudança de patamar no mundo da bola. Ou, pelo menos, no mundo da bola verde e amarela.

A pretensa internacionalização da marca corintiana a partir das campanhas que a Nike tem promovido para o clube não passa de um projeto ainda de principiante quando comparada à estratégia de “tomada de terreno” do Chelsea em solo japonês.

Por décadas o torcedor brasileiro, impulsionado pela mídia e pelos dirigentes, acreditava que seus clubes seriam marcas internacionais e temidas pelos adversários a partir do momento em que jogassem no exterior e, mais do que isso, conquistassem títulos mundiais.

Enquanto o Brasil parou no tempo com esse conceito, os clubes europeus foram, aos poucos, trabalhando para se tornarem marcas globais, uma vez que o mercado local atingiu uma saturação, seja por limite geográfico, seja por exploração comercial do torcedor. Esse processo começou no início da década de 90, com o Manchester United e a revolução ocasionada pela criação da Liga Inglesa de futebol. O Manchester percebeu que teria de extrapolar os limites da terra da Rainha para poder aumentar a legião de fãs e, dessa forma, aumentar seu faturamento comercial. Para isso, porém, não adiantava tentar conquistar a Europa. Foi por isso que os ingleses decidiram partir para o mercado asiático com afinco. Ao estudar o comportamento do oriental, muito mais calcado no atleta do que no clube, o caminho para o gol foi executado por David Beckham.

Pouco depois, quando o sucesso financeiro do Manchester também deu mostras de que se refletia dentro de campo, os clubes europeus acordaram para o óbvio. Para ganhar mais, em todos os sentidos, tinham de fazer suas marcas serem conhecidas pelo mundo todo.

Para isso, apostaram no tripé básico: exposição na mídia, realização de partidas amistosas no exterior e, por fim, venda de produtos.

O Corinthians, hoje, ainda se encontra num estágio primário. Sem exposição na mídia (os horários dos jogos no Brasil são péssimos para o mercado asiático e, além disso, a distribuição ainda é voltada para o brasileiro que mora no exterior), resta ao Timão tentar usar a semana em solo japonês para mostrar um pouco de sua história.

Por sua vez, o Chelsea já é conhecido a ponto de poder ter uma loja em Yokohama, palco do jogo decisivo do Mundial de Clubes. O japonês já sabe quem é o Chelsea, conhece (e idolatra) os atletas e, claro, tem interesse em consumir algo relacionado ao atual campeão da Europa.

A boa notícia é que o Corinthians se preocupou em tentar mostrar ao torcedor japonês quem é o clube, contar um pouco da história, relembrar momentos históricos do clube. Contou, para isso, com uma tremenda ajuda da Nike, que engajou-se na ativação da marca corintiana por todo o mundo.

Só que, para o bem do futebol do Brasil, não podemos depender sempre da presença de um clube para a disputa do Mundial para fazer esse trabalho de divulgação da marca. Hoje, há um abismo entre a fama dos clubes brasileiros pelo mundo e a dos europeus. A solução passa, prioritariamente, pelos clubes elaborarem um bom programa de divulgação do futebol do país no exterior. E isso depende, obrigatoriamente, de uma negociação coletiva de transmissão do Campeonato Brasileiro. Pelo menos para o mercado estrangeiro.

O caminho a ser percorrido é longo…

*O blogueiro viaja a convite da Toyota