Negócios do Esporte

O esporte que não se insere como entretenimento

Erich Beting

Fiz a brincadeira no final de 2011, em meio ao tradicional marasmo que irrompe no esporte brasileiro geralmente entre 20 de dezembro e a primeira semana de janeiro. Na ocasião, brinquei que já era hora de o vôlei criar uma rodada no dia de Natal. Em meio às reclamações de atletas e familiares deles, meu ''protesto'' acabou ficando em vão.

Só que, mais uma vez, tivemos exatamente o mesmo ''problema'' no esporte brasileiro nas três últimas semanas. Recesso de fim de ano, todos folgam, ninguém joga. E isso revela a total falta de visão do esporte como parte da indústria do entretenimento. Quem trabalha no meio esportivo já sabe que feriado e final de semana é geralmente o dia mais importante de trabalho. Mas é engraçado como, no Brasil, algumas datas viram ''sagradas''.

Ainda mais em modalidades que passam o ano inteira sufocadas pelo futebol, as datas comemorativas de Natal e Ano Novo poderiam servir como ótima válvula de escape para ganhar espaço na TV aberta e, mais do que isso, entrar no cotidiano do torcedor. O esporte é entretenimento e, como tal, precisa ser realizado no período de folga das pessoas.

Não é ''loucura'' que americanos e ingleses marcaram, para os dias 25/12 e 1°/13, partidas dos campeonatos de futebol americano e da liga inglesa de futebol. As maiores audiências de TV e até mesmo taxa de ocupação do estádio da temporada regular são aquelas dos eventos realizados nesses dias.

As datas festivas são momentos em que geralmente as pessoas estão com a família ou com o ''tempo livre''. Enquanto sobra tempo para o entretenimento, curiosamente falta opção no esporte brasileiro para atender o torcedor. Ainda mais agora, com a São Silvestre no período da manhã, nem mesmo a corrida do dia 31 de dezembro consegue ser inserida no calendário de audiência da televisão.

Enquanto o esporte no Brasil não se inserir como parte da indústria do entretenimento, continuaremos a ver a velha choradeira de sempre sobre a overdose de futebol na mídia esportiva nacional. O problema é que as demais modalidades seguem achando que vão viver só do esporte, sem perceber que é preciso criar um motivo para o torcedor comparecer ao seu evento. Isso passa, também, por aproveitar as oportunidades deixadas pelo futebol.

Do contrário, o grande evento transmitido no fim de ano continuará a ser a reprise daquilo que já vimos no ano todo…