Negócios do Esporte

A farra do bolsa-atleta

Erich Beting

Na última semana o governo anunciou com a pompa de sempre a lista de atletas beneficiados com a bolsa de auxílio para que continuem a ser atletas e não precisem dividir seu tempo com outras atividades. Os ''melhores momentos'' do lançamento incluíram o recorde de atletas beneficiados (4.992 no total) e o valor total investido, que ultrapassa os R$ 72 milhões.

O problema, porém, é a farra que se tornou o programa.

Para começar, não deveria ser função do governo dar dinheiro para o esportista, mas sim dar condições de infraestrutura para que surjam novos atletas no país. A formação de talentos no esporte nacional carece muito mais da falta de lugar para a prática do esporte do que propriamente de recursos para quem já está em desenvolvimento profissional.

E aí entra o ponto estarrecedor da lista de quase 5 mil contemplados pelo auxílio. Ao todo, 287 desses atletas estão enquadrados na categoria de ''atleta olímpico''. Ou seja, são esportistas que já disputaram os Jogos Olímpicos ou têm índice para tal. São atletas que já possuem alta performance e já alcançaram o topo da pirâmide dificílima de se escalar que é a do atleta profissional.

Em tese, esses esportistas não precisariam de incentivo do governo para ter um ''salário'', para poder viver só do esporte. Mas dá para entender que algumas modalidades e atletas contemplados precisem, realmente, desse tipo de auxílio. Só que aí entra a questão do abuso para que sejam concedidos os benefícios.

A lista de contemplados do bolsa-atleta publicada no Diário Oficial (pode ser vista aqui) traz algumas aberrações, como os atletas do vôlei Bruninho, Sheilla, Murilo e Jacqueline, por exemplo. Ou então o tenista Thomaz Bellucci, o iatista Bruno Prada, a judoca medalhista de ouro em Londres, Sarah Menezes.

Num governo que se caracterizou, desde 2003, pela criação de programas de incentivo em dinheiro para melhorar a qualidade de vida das pessoas, era natural que se implementasse um sistema parecido com o esporte. Até aí, nada de errado em fazer isso. É o que se espera de quem está no cargo público, que é pensar no bem-estar das pessoas, independentemente de origem, classe social, etc. Mas é simplesmente inadmissível que atletas que possuem contratos de patrocínio pessoal, tenham salário de clubes e outras benesses também recebam o benefício.

Ou o Ministério do Esporte coloca um critério prévio para seleção de atletas que vai além da performance esportiva ou a farra só ajudará para aumentar o abismo que existe entre aqueles que já atingiram um grau de maturação dentro do esporte e aqueles que ainda sonham em ser um esportista.

Afinal, Bruninho e Bellucci ganharem dinheiro do governo para seguirem na profissão é tão bizarro quanto se Eike Batista e Abílio Diniz fossem enquadrados no programa bolsa-família…