Beijo ou sinalizador? O que você quer para um estádio?
Erich Beting
Na semana em que mais uma tragédia acometeu o futebol na América do Sul, uma notícia vinda do Nordeste brasileiro deu uma baforada de esperança de que dias melhores virão para a experiência de um torcedor num estádio de futebol em terras latino-americanas. O Fortaleza fez, na semifinal da Copa do Nordeste, uma ação com o público. O casal de torcedores que fosse flagrado dando um beijo no telão do estádio do Castelão ganharia uma hospedagem no hotel patrocinador do clube cearense (detalhes aqui).
A ação é a típica celebração do que deve ser um programa num jogo de futebol. Uma ida pacífica, em festa, para reunir casais, famílias, pessoas que vão lá para apoiar um time, mas sem matar ou morrer por ele. Perder faz parte da brincadeira, respeitar aquele que pensa diferente de você, também. É uma ação de civilidade, de vida coletiva, de respeito às pessoas.
Num local com assentos demarcados, com telão para que o público se veja e interaja durante o tempo que ficar no estádio, com respeito às pessoas, tudo contribuiu para que você tenha uma experiência bacana. É o princípio de ação e reação. Bom tratamento gera bom tratamento. Respeito reproduz respeito. Alegria retorna em mais alegria.
Muita gente que é fanática por futebol, aprendeu a gostar dele desde a infância e a frequentar os estádios desde pequeno, demoniza aquilo que chamam de ''futebol moderno'', em que há a preocupação pelo bem-estar do público acima de qualquer coisa. Preconiza-se que esse tipo de comportamento afasta o ''torcedor verdadeiro'', aquele que pula, grita, faz festa e incentiva o time, muitas vezes colaborando para levá-lo à vitória.
Um estádio moderno é um estádio que não pulsa. É apenas um simples espectador de uma partida de futebol. Sem paixão, sem alma, sem vibração. Até poderia ser verdade, caso não estivéssemos no Brasil. A paixão pelo futebol impede que tenhamos estádios frios, sem festa de torcida, sem entoação de cânticos para incentivar o time.
Mas os próximos anos serão cruciais para a mudança definitiva do perfil de quem vai a um jogo de futebol. Os novos estádios vão atrair um novo tipo de público. Fanático ou não pelo futebol, mas sem dúvida composto por pessoas que gostam do esporte e querem ter uma boa experiência de realização de um programa quando vão a um campo.
Os novos estádios sem dúvida vão diminuir a importância do torcedor na experiência do jogo. Culturalmente, temos a ideia de que o verdadeiro dono de um espetáculo esportivo tem de ser a torcida, e não os jogadores. Como amante do esporte, não consigo pensar que o atleta não seja o bem mais precioso e o principal motivo para se acompanhar uma competição. A torcida é parte do evento, mas não pode ser o centro dele.
Ter um estádio com mais beijos e menos foguetes sinalizadores parece ser a escolha mais óbvia entre todas. Afinal, muito maior do que a torcida, é o time que joga. E, mais ainda, a companhia com quem se vai a um estádio…