Negócios do Esporte

O padrão Globo de entretenimento

Erich Beting

Durante décadas, a Globo construiu a fama de seu jornalismo ancorada no princípio da padronização da produção do conteúdo. Marcado pela formalidade, esse modelo começou a ruir dentro da cobertura do esporte nos últimos anos. Numa época em que as opções de entretenimento são várias, em que o comportamento do consumo de mídia pelo público jovem mudou radicalmente, não cabia mais uma cobertura televisiva sisuda sobre esporte.

Há cerca de cinco anos o Padrão Globo de Jornalismo que marcou cerca de quatro décadas da televisão brasileira começou a ser transformado, na cobertura esportiva, para uma espécie de Padrão Globo de Entretenimento. Aos poucos, a informação sisuda foi substituída por aquela mais leve, que tem um caráter informativo também, mas que presa primeiro pelo entretenimento.

O consumidor fanático chiou e condenou rapidamente o novo formato de jornalismo esportivo da emissora. Acontece que, na medição da audiência, o Globo Esporte finalmente voltou ao topo em seu horário e, também, projetos novos, como o Central da Copa e os Gols do Fantástico passaram a ter repercussão.

Em 2013, a emissora adotou de vez o entretenimento em detrimento da informação tradicional. Prova disso são as transmissões-show que têm sido feitas no futebol, sempre com convidados e papos amenos mesmo durante a partida. Mais uma vez, o fanático possivelmente vai migrar para os canais por assinatura, que são mais técnicos, ou para outros canais com o modelo tradicional de transmissão.

A novidade agora é a contratação de dois nomes fortes para o time de comentaristas. Ronaldo reforçará a equipe do futebol, enquanto Rubens Barrichello fará parte do time da Fórmula 1. Mais uma vez a ideia é que ambos ajudem no conceito de que as transmissões são parte de um pacote de entretenimento, em que as histórias dos atletas serão reforçadas para dar mais ''leveza'' à cobertura.

Considerando todos os conflitos que existem da presença de Ronaldo, agente de atletas que fazem parte da seleção e membro do comitê que organiza a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, o padrão Globo de entretenimento precisa, urgentemente, consultar um pouquinho o histórico do padrão de jornalismo da emissora.

Nada contra a capacidade de Ronaldo como analista, pelo contrário, ele sempre foi alguém que soube transmitir informação e ponto de vista. O problema é acreditar que a opinião dele não estará viciada em demasia.