E o mercado, hein?
Erich Beting
A pergunta é cada vez mais trazida à tona em muitos encontros com pessoas que fazem parte da indústria do esporte. Um dos privilégios de ser um ''representante da mídia'' é poder conversar com os profissionais que têm construído o mercado esportivo brasileiro e, assim, poder trocar ideias, conhecer projetos e perceber o movimento da indústria como um todo.
E, chegando cada vez mais perto de Copa do Mundo e Olimpíadas, todo mundo começa a olhar com certa desconfiança não só para o agora, mas principalmente para o futuro do esporte no Brasil. E aí fatalmente a sequência de perguntas é: ''E o mercado, hein? Não está meio estranho?''.
De fato o mercado não está no ponto que se imaginava. Mas também isso é um reflexo da morosidade do esporte brasileiro em se profissionalizar. Entenda-se por isso um movimento que faça com que não seja ''errado'' trabalhar dentro das entidades esportivas recebendo altos salários. Só assim começaremos a equiparar o nível dos investimentos feito pelas empresas com o nível dos profissionais que gerenciam essa verba.
Um exemplo claríssimo disso é a construção de novos estádios, motivada pela Copa do Mundo. Se tivéssemos seguido à risca o cronograma estabelecido pela Fifa, teríamos desde janeiro 12 estádios de alto padrão em funcionamento no Brasil. Qual seria o impacto disso na receita do futebol?
Só para se ter uma ideia, apenas na partida inaugural a Itaipava Arena Fonte Nova alcançou a maior arrecadação da história do futebol na Bahia. Da mesma forma, assegurou um contrato que lhe dá R$ 10 milhões por ano da Itaipava pelo naming right. Isso sem entrar no mérito de aumento da arrecadação com Mineirão e Castelão já reinaugurados, ou com a Arena do Grêmio gerando mais receita.
Hoje o esporte vive uma bolha de crescimento. Nunca se priorizou investir tanto nele quanto agora. A partir de dezembro, quando tivermos definidas as partidas da Copa do Mundo, os investimentos só tendem a aumentar. Mas esse fluxo de dinheiro, é claro, vai sofrer um decréscimo quando terminarem os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
O mercado não estará tão valioso quanto agora, mas também não estará tão desvalorizado como era. Mas saber qual o patamar exato que ele vai ficar pós-2016 depende, e muito, do que será feito agora para absorver esse aumento de investimentos. Do contrário, vai ficar aquela estranha sensação de quem está trabalhando há anos com isso de que o bonde passou e nós estávamos na estação errada…