Por que a Geo desistiu do esporte?
Erich Beting
A confirmação veio na noite desta sexta-feira, após algumas semanas de um certo zunido no mercado de que a Geo Eventos, empresa pertencente às Organizações Globo, havia encerrado suas atividades no esporte. Depois de quase três anos tentando emplacar como uma empresa organizadora de eventos esportivos, a Geo realmente abriu mão de trabalhar no segmento (saiba dos detalhes aqui).
Mas o que será que levou a empresa a não querer investir mais em esporte?
Organizadora, com extremo sucesso, do festival de música Lollapalooza no último mês, a Geo percebeu o óbvio: fazer dinheiro com esporte não é assim tão mágico como em outros segmentos. Sim, apesar das cifras milionárias que todos nós costumamos reproduzir aqui pela mídia, não é todo mundo que consegue fazer grandes quantias de dinheiro com o esporte.
Pelo contrário. É muito, mas muito difícil obter um retorno financeiro significativo. E a saída da Geo a dois meses da Copa das Confederações e a um ano da Copa do Mundo revela muito do quanto o mercado esportivo brasileiro não decolou na mesma proporção da expectativa das pessoas.
Curiosamente o mercado esportivo brasileiro comportou-se de forma contrária ao que seria o ''natural'' desde que o país foi eleito sede de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. A partir de 2008, começaram a pipocar notícias de que novas agências surgiam, de que grandes grupos de mídia estavam abrindo um braço esportivo, de que gigantes do exterior finalmente iniciavam operações no país tropical. Isso tudo, claro, antecipando-se aos megaeventos.
Só que o que vimos foi que as agências surgiram, só que a demanda de trabalho para elas não acompanhou esse ritmo. Tanto que a 9ine, que teoricamente é uma das que mais cresceu nesse movimento, vive hoje primordialmente de ser a agência de publicidade da Duracell. O segmento de atletas dá um trabalho significativo para uma receita comparativamente pequena, a área de gestão de marcas também apresenta pouco retorno e, o que é o maior problema de todas essas empresas, a elaboração de projetos tem encontrado extrema dificuldade em achar quem pague a conta.
O fechamento da Geo Esportes é mais um reflexo disso. Para que esperar 2014 ou 2016 se, atualmente, quando teoricamente o esporte estaria em evidência, é muito mais rentável para a agência trabalhar com o segmento de shows?
A resposta está exatamente nessa diferença do mercado. Hoje, a indústria dos shows no Brasil está muito mais consolidada. Mesmo com a falta de infraestrutura para a realização de grandes eventos, encontramos um meio de trazer os grandes nomes mundiais e ter consumidores para isso. É a profusão de Rock in Rio, Loolapalooza e shows de diversos nomes consagrados no gênero comprovando o ótimo momento desse mercado.
No outro lado, o esporte continua a ser um meio que tem pouco engajamento do público e, principalmente, do patrocinador. É mais fácil convencer uma empresa a pagar uma cota milionária para um festival de música do que para um evento esportivo. Os artistas, também, cobram muito menos para fazer um show do que um atleta para realizar uma performance. É essa a realidade do mercado brasileiro.
O crescimento da indústria esportiva passa, necessariamente, pela melhoria de infraestrutura para a realização de eventos e, também, pelo amadurecimento de quem cuida da gestão esportiva. Se isso não acontecer, o mercado continuará a ser para poucos, e as grandes empresas que se aventurarem no setor vão perceber que, no final das contas, o trabalho empenhado não compensa o lucro aparentemente pequeno.
A Geo deixou o esporte porque, por mais próximo que estejamos dos dois maiores eventos esportivos do mundo, trabalhar com o dia-a-dia esportivo no Brasil ainda é um negócio que não envolve grande lucratividade. Isso, para uma megaempresa, é desinteressante. O problema é que esse movimento poderá encorajar, agora, outras grandes agências a abandonarem também o segmento. E isso, para um caminho de profissionalização, pode ser muito prejudicial.