Negócios do Esporte

O torcedor não aceita mais não ser correspondido

Erich Beting

''Tem gente que só reclama, reclama, e… na hora de ajudar, cadê?''. Com essa singela frase, a diretoria de marketing do Flamengo tenta cobrar de seu torcedor a adesão maciça ao plano de sócio-torcedor do clube.

Pressionados pela Ambev e seu ''Movimento por um futebol melhor'', os clubes estão tentando fazer de seus torcedores associados. Na ponta final do processo, ele pode contribuir com a saúde financeira de seu time e, assim, ser mais feliz. Esse, aliás, é o mote para toda a campanha do ''Movimento'' e também dos clubes que lançam seus programas ou criam novos incentivos.

Mas a questão é simples. O torcedor não aceita que sua paixão só tenha correspondência de um lado só!

A ideia do Flamengo seria ótima, caso a diretoria do clube não estivesse ignorando um ''pequeno'' ponto. O torcedor não vai se sentir entusiasmado a ser sócio se não tiver benefícios palpáveis do outro lado. E, por benefício palpável, entenda-se muito mais do que simplesmente desconto em supermercado.

Ele precisa que a paixão que ele sente pelo clube seja correspondida. Não apenas em forma de bom desempenho a partir do aumento de receita. O que o torcedor precisa é ser colocado na posição de cliente pelo clube. Ele não é mais um apaixonado que faz qualquer loucura pelo que ama.

Quer dizer, até tem gente que faz isso, mas esse tipo de torcedor geralmente já chegou ao limite de paixão. Forçá-lo ao consumo é de uma estupidez sem tamanho. Nenhuma empresa, em sã consciência, obriga o consumidor a comprar seu produto apelando para o lado emocional.

No fim das contas, uma escolha pelo produto de uma determinada marca geralmente envolve também uma sedução do cliente. Historicamente, o futebol não precisava seduzir para alguém consumi-lo. A campanha atual do Flamengo lembra, e muito, aquelas que convocavam pessoas para o exército nos anos 30 e 40. Era uma ode ao sentimento patriota, ao dever cívico, à obrigação do indivíduo.

Por mais apaixonados que sejam os torcedores, não necessariamente eles nutrem do mesmo sentimento dos atuais membros da diretoria flamenguista, que decidiram lançar mão de suas renomadas carreiras profissionais para tentar salvar o clube. Na maioria das vezes o Rubro Negro cansou de ser maltratado por gestões fraudulentas, temerárias e afins.

Por que haveria de cumprir um ''dever'' justamente agora? E, para piorar, com o time capenga dentro de campo e sem grandes novidades fora dele pela ausência de um estádio para jogar dentro de sua cidade?

O torcedor não é obrigado a consumir um time, assim como um consumidor não é obrigado a escolher uma determinada marca. A paixão é excelente para fazer a compra por impulso acontecer. Mas, para isso, o torcedor precisa ser bem tratado pelo clube que ama.