A Fórmula 1 ainda é um produto no Brasil?
Erich Beting
A pergunta ecoa, de forma retumbante, após o final de semana de mais um GP de Fórmula 1. Dessa vez com transmissão ''aniquilada'' pela TV, que abandonou a disputa na metade para exibir o amistoso entre Brasil e França no futebol. O resultado, como não poderia deixar de ser, foi o de uma ''lavada'' que o mundo da velocidade tomou na comparação com o mundo da bola. Na medição da audiência, a F-1 teve praticamente metade do resultado apresentado pela seleção brasileira (leia aqui).
Com apenas um brasileiro na disputa, e sem um título do país há mais de 20 anos, a Fórmula 1 tornou-se um caso emblemático das transmissões esportivas na TV aberta. Já é a segunda vez em menos de um ano que a Globo não exibe ao vivo uma prova completa nos últimos tempos (a outra havia sido em novembro de 2012, quando o GP dos EUA foi exibido só pelo Sportv para dar passagem ao jogo que decretou o rebaixamento do Palmeiras à Série B).
A preferência pelo amistoso da seleção, que poderia ter o horário de início esticado para as 17h, é um sinal de que a coisa não anda tão bem assim no Ibope da F-1, que é quem baliza o sucesso de uma atração na TV aberta no país. Segundo Ricardo Feltrin, profundo entendedor do tema, a audiência da F-1 despencou de 19,4 pontos de média para quase 9 pontos entre 2002 e 2012.
Cada vez menos a F-1 é, no Brasil, um produto ''popular''. Sim, ela ainda conserva um índice relativamente interessante de audiência, mas se formos comparar com o esforço de divulgação que a Globo faz, o custo-benefício da equação promoção do evento x retorno em audiência é pequeno.
Assim como acontece hoje no MMA, em que a presença de atletas brasileiros em alto nível gera um interesse mais amplo da população, a F-1 sofre como qualquer outro esporte quando não há um representante do país em mínimas condições de fazer um bom papel. Aos poucos, o esporte vai ficando restrito ao público que é fã da modalidade. E isso, para a TV aberta, é um problema.
A continuar esse cenário de queda do interesse das pessoas pela F-1, o grande problema que a Globo terá pela frente será justificar os aumentos sistemáticos do preço cobrado pela cota de transmissão da temporada. Em 2010, cada uma das cotas valia R$ 56,5 milhões. Em 2013, as seis entregas publicitárias foram negociadas a R$ 65 milhões.
Vai chegar uma hora em que será impossível o valor da cota aumentar enquanto a audiência só cai, por mais que a entrega comercial em outros programas da Globo, como o Jornal Nacional, seja sempre interessante.
E a pergunta que parece ser cada vez mais latente no mercado brasileiro é a de se a Fórmula 1 ainda é um produto no país. Logicamente que o interesse do público específico sempre vai existir. Mas a sensação que dá é a de que precisaremos de novos gênios nas pistas para voltar a fazer do evento mais valioso do automobilismo um produto realmente atrativo para o mercado brasileiro.