Felipão, o elo que faltava à seleção
Erich Beting
Fui contra a saída de Mano Menezes e à contratação de Luiz Felipe Scolari para a seleção brasileira. Não achava que fosse o momento. Afinal, após dois anos, Mano vinha conseguindo renovar a geração de atletas brasileiros e dava um novo estilo de jogo para o Brasil. Felipão, por sua vez, tinha comandado a nau furada do Palmeiras, rebaixado no Brasileirão.
Era uma aposta no passado e, mais do que isso, um risco muito grande de que antigas caras que não funcionavam mais pela seleção, como Kaká e Ronaldinho Gaúcho, pudessem ser novamente alçados à condição de ''salvadores da pátria'', fazendo com que o Brasil perdesse principalmente a chance de criar um time vitorioso para 2018, mais do que para o Mundial do ano que vem.
O começo de seu trabalho mostrou que o caminho inicial era esse mesmo. Brecar a renovação e apostar nos mais velhos. Em campo, ficou provado que o jeito era jogar a responsa para os mais jovens, algo que Mano Menezes fazia, mas sempre pressionado.
Mas Felipão era o elo que faltava para essa seleção.
Num time que perdeu totalmente sua relação com a torcida, era preciso um cara carismático para mudar essa história. Embora ainda falte um plano de resgate da imagem da seleção brasileira com o torcedor nacional, Felipão serve de ''tapa-buraco'' no curtíssimo período que existe antes da Copa do Mundo.
O elo do time com a torcida, dos jogadores com o sentimento de representação do país são simbolizados por Felipão. Tanto que na entrevista após a suada classificação brasileira à final da Copa das Confederações, o treinador fez questão de ressaltar que foi a vitória conquistada pelo torcedor brasileiro.
Com certeza teve o dedo de Felipão a atitude dos jogadores pré-jogo, em que os atletas quebraram o protocolo da Fifa e seguiram, junto com a torcida, a cantar o hino brasileiro. Da mesma forma, a entrada de Bernard em campo para ''chamar'' o torcedor também foi uma forma de fazer com que as duas partes continuassem unidas.
Ao jogar para e com a torcida, Felipão faz um trabalho muito mais de marqueteiro do que de treinador do time nacional. As falhas que são apresentadas durante os jogos ficam diminuídas com os resultados, e na base do ''brasileiro com muito orgulho, com muito amor'', a seleção chega adiante.
Felipão se apropria, no fim das contas, do slogan ''juntos num só ritmo'' que é o mote da Copa de 2014. E num período turbulento do país fora dos estádios, consegue trazer uma harmonia que não existia dentro deles há menos de um mês para a seleção brasileira.
Talvez seja o caso de pensar em Felipão como diretor de marketing da CBF depois que a Copa acabar…