Negócios do Esporte

A seleção vai voltar a ser um produto?

Erich Beting

Essa acho que é a dúvida que permeia boa parte dos patrocinadores da seleção brasileira desde o domingo. Será que, com o excelente desempenho obtido pelo time nacional, a seleção voltará a ser um produto para que essas marcas explorem?

Nunca a seleção teve tanto patrocinador quanto agora. Prepare o fôlego para contar. São 12 patrocinadores do time brasileiro: Nike, Ambev, Itaú, Vivo, Sadia, Nestlé, Extra, Gillette, Volkswagen, Gol, MasterCard e Seguros Unimed.

Isso ficou claro na estratégia adotada por Itaú e Ambev, que patrocinam também a Copa do Mundo. As duas marcas preferiram falar do evento do que do time brasileiro.

A única a fazer alguma coisa para reforçar o patrocínio foi Gatorade. A marca, que no Brasil faz parte do rol da Ambev que pode usar o status de patrocinador da seleção junto com Brahma e Guaraná, criou vídeos com o time brasileiro para serem exibidos nas redes sociais. A ação também se justifica pelo fato de sua maior concorrente no mercado, a Powerade, ser patrocinadora da Copa.

Todos os outros patrocinadores, sem exceção, pouco fizeram para lembrar o torcedor de seu vínculo com a equipe. Um pouco por conta do sentimento duvidoso em relação ao desempenho dos atletas e o engajamento do torcedor com o time, outro pouco por conta de experiências frustrantes no passado (como a Brahma e o ''time de guerreiros'' de 2010).

Só que esse comportamento impõe um desafio para as empresas e outro para a CBF a partir de agora.

As marcas precisarão saber como trabalhar a comunicação do patrocínio. Se resolver, só agora, demonstrar orgulho por apoiar o time na ''alta'', possivelmente passarão a ser vistas como oportunistas aos olhos do torcedor. Exceção que pode ser feita a Gol, Sadia e Seguros Unimed, que entraram no patrocínio praticamente com o jogo na prorrogação.

Quem quiser, terá de construir uma história que leve adiante o relacionamento entre torcida e time, superando até o momento da Copa do Mundo. Isso acaba sendo bom para a própria indústria do esporte, já que exigirá mais investimento na ativação do patrocínio (o que significa mais ações de publicidade na mídia e também ações fora da mídia para o torcedor).

E aí entra o desafio que a CBF terá pela frente. Como ela fará para dar conta de mais de dez empresas solicitando diferentes ações para atender a seus anseios? Atualmente, o departamento de marketing da entidade não conseguirá dar conta. É por isso que sempre dissemos por aqui que o processo de profissionalização da indústria do esporte no país virá de fora para dentro.

Com mais de R$ 200 milhões de faturamento com os patrocinadores, a CBF terá de criar um departamento que consiga atender a esses patrocinadores. Do contrário, passada a Copa esse dinheiro, fatalmente, começará a reduzir…