A mancha do doping para o esporte
Erich Beting
O estouro de mais um escândalo de doping, dessa vez com alguns graúdos do atletismo mais rápido do mundo, gera mais uma vez uma escalada de debate em torno do uso de meios ilegais para que se alcance a vitória. Como já debatido aqui no blog quando do caso Lance Armstrong, o esporte de alto rendimento hoje segue uma ''cadeia alimentar'' tão maléfica que o difícil é ser um vencedor ''limpo''.
Tyson Gay e Asafa Powell são os dois nomes estrelares da vez. Gay já teve o contrato com a Adidas suspenso preventivamente. Caso o doping seja confirmado, o acordo será rompido, numa espécie de demissão por justa causa. A fabricante chinesa Li Ning, que patrocina Powell, até agora não se manifestou.
É o máximo que as marcas podem fazer quando têm atletas envolvidos em escândalos de doping. E é o que mais causa problemas para que o mercado de atletas profissionais consiga decolar.
A pressão por resultados, ainda mais numa modalidade que tem hoje um mito como Usain Bolt, torna-se tão grande a ponto de o doping parecer a única solução plausível para os atletas. Por isso mesmo, a rigidez no controle antidoping é tão ou mais importante que a própria divulgação do esporte em si.
O doping talvez seja a pior mancha para o esporte moderno, ainda mais pela transformação em negócio de tudo o que se refere ao alto rendimento. O escândalo do atletismo, se não parar por aí, pode colocar a modalidade na mesma crise de imagem pela qual atravessa o ciclismo desde o estouro retroativo do esquema de Lance Armstrong.
Para o bem do atletismo, é melhor ver vários casos de doping deflagrados do que conviver com a suspeita de que os heróis da modalidade são fabricados. E, urgentemente, é preciso que o Comitê Olímpico Internacional se preocupe em criar uma comissão de gerenciamento de crises para os escândalos que, invariavelmente, vão aparecer em diferentes modalidades.