Quanto vale a Libertadores? Para o Galo, mais de R$ 100 mi
Erich Beting
A pergunta é dirigida a você, torcedor. Para você, quanto valeria o título de uma Libertadores? O Atlético-MG inicia nesta quarta-feira a busca derradeira pela tão sonhada taça continental. Os amigos atleticanos que tenho nunca estiveram tão esperançosos e, ao mesmo tempo, maravilhados com o clube. Desde que me conheço por gente, este é o melhor Galo que já vi jogar, batendo aquele belo time de 1999. Possivelmente com a conquista da América, essa equipe será considerada a melhor da história do clube.
Mas esqueçamos a bola e voltamos à pergunta. E aí, torcedor do Galo, quanto vale ganhar a Libertadores?
Quando assumiu a presidência do clube, em 2008, Alexandre Kalil sempre disse que focaria os esforços em montar uma equipe vencedora. Ainda não conquistou um título nacional, inexistente da galeria de taças do clube desde 1971, mas está próximo de alcançar um feito maior ainda, que é a primeira grande taça internacional da história do Atlético. Para alcançar esse objetivo, Kalil adotou a estratégia antiga de gestão dos clubes.
Com todas as qualidades e os defeitos dela!
Primeiramente, deu mais bola para a bola jogada dentro de campo do que qualquer outra coisa dentro do clube. Crítica muito grande do Galo em seu ano de comemoração do primeiro centenário foi a de que o clube tinha um ótimo departamento de marketing, mas um time que jogava a Segunda Divisão Nacional. O orgulho ferido do péssimo desempenho em campo foi compensado com esse time forte e vingador de agora. Mas para isso, Kalil simplesmente abriu mão do marketing, tal qual faziam os gestores ''das antigas''.
O presidente do Atlético partiu do princípio de que futebol e marketing não podem se misturar, possivelmente ignorando que toda a recuperação de grandes clubes na história recente da bola passou por um trabalho conjunto de reestruturação do departamento de futebol e formação de um sólido departamento de marketing e comunicação, responsável por estreitar a relação do torcedor com o clube sem depender exclusivamente do desempenho dentro de campo.
Mas a lacuna deixada pela ausência de um departamento de marketing poderia ser preenchida, realmente, pela construção de um time vencedor, que não precisa de comunicação para vender, apenas de um bom produto. Mas aí entra a segunda parte do enrosco. Como formar uma equipe forte se as fontes de geração de receita estão estagnadas pela ausência de iniciativas de marketing?
E é aí que entra a dura resposta para o torcedor do Atlético. Hoje, a conta dessa busca desenfreada pelo título da Libertadores já passa dos R$ 100 milhões. Pelo menos é esse o resultado que se tira a partir da análise dos balanços financeiros do Galo entre 2010 e 2012.
Em 2009, o clube amargou um prejuízo anual de R$ 23.248.264,00. No ano seguinte, o déficit foi menor, de R$ 19.966.822,00. Em 2011, o prejuízo foi o mais alto dos últimos tempos, de R$ 36.142.952,00. E, no ano passado, chegou a R$ 33.202.547,00. A soma dos últimos quatro anos da gestão Kalil dão exorbitantes R$ 112.560.585,00 de prejuízo.
Mas, mais preocupante que o déficit nesse período é a escalada dos empréstimos feitos pelo atual mandatário do clube. Mesmo tendo aumentado a arrecadação a partir de aumento dos valores dos contratos de TV e patrocínio, frutos de situação de mercado, e não de méritos negociais do clube, o Atlético tomou emprestado, de instituições financeiras e outras empresas, mais de R$ 50 milhões entre 2008 e 2013.
No primeiro ano frente ao clube, Alexandre Kalil fechou 2008 tendo contabilizados R$ 105.956.113,00 milhões em empréstimos. Em 2012, o número saltou para R$ 167.009.999,00. Ou seja, em cinco anos, o Galo foi buscar R$ 61.053.886 milhões no mercado, tendo de pagar juros sobre esse valor. Mais preocupante ainda é que, no curto prazo, as dívidas já somam quase R$ 50 milhões (e deve ultrapassar esse valor já no final desta temporada).
Se, dentro de campo, não há o que criticar o atual Galo, fora dele é uma temeridade o que está sendo feito com as contas do Atlético. A escalada de gastos irracionais poderá gerar, no médio prazo, uma situação insustentável dentro do clube. Mais ou menos da mesma forma que hoje vivem Vasco, Flamengo e Palmeiras, para ficar apenas nos casos de grandes clubes do país.
Endividar-se para crescer não é um problema, desde que o pagamento dessas dívidas não seja feito com a aquisição de novas. Pelo que se dá para ler do balanço financeiro do Galo, a inédita conquista da Libertadores pode ser um motivo de muita alegria para o torcedor neste curto prazo. Mas, no médio e longo prazo, possivelmente o Atlético terá de pagar a conta desse momento mágico vivido dentro de campo.
A cobrança pela performance esportiva é um fardo que o gestor precisa saber carregar para tentar equilibrar as contas de um clube. Quando a ganância de ver o time campeão fala mais alto do que a racionalidade gerencial, a gastança desenfreada cobra seu preço. Será que vale todo esse esforço para ser campeão da Libertadores? Por que, do jeito que esse título está sendo construído pelo Galo, o custo será bem mais alto para recolocar o clube nos trilhos no futuro.