O que a Fifa pode ensinar na questão dos ingressos
Erich Beting
Na última sexta-feira a Fifa anunciou o preço dos ingressos para os 64 jogos da Copa do Mundo. Nenhuma grande novidade foi apresentada pela entidade, que manteve a divisão básica dos bilhetes: 33% para o público final, 33% para os patrocinadores e outros 33% divididos em diversas categorias.
O interessante foi ver, na entrevista concedida pelo diretor de marketing da Fifa, Thierry Weil, após o anúncio, que diversas perguntas giraram em torno da dinâmica de venda dos bilhetes. Isso é bastante natural, uma vez que as reportagens sobre comercialização de ingressos são sempre vistas como prestação de serviço ao consumidor, e empresa de mídia nenhuma quer passar informação errada para quem lê, assiste ou ouve seu veículo.
Mas passou quase que desapercebida a questão do negócio em si. Afinal, quanto pode ser o faturamento com a venda de entradas para uma Copa do Mundo? E, nesse sentido, uma resposta provocativa foi dada por Weil durante o evento para a imprensa foi elucidativa:
''Em toda história, em apenas duas Copas do Mundo concedemos descontos no preço total do ingresso. Uma foi na primeira Copa do Mundo aqui no Brasil e a outra é agora. Tenho a dizer que o governo do Brasil é duro na negociação'', afirmou o executivo.
A brincadeira não deixa de ser uma forma de a Fifa reclamar sobre o modo de consumo do entretenimento no Brasil. Somos o único país do mundo que concede benefícios às pessoas para que elas consumam atividades de lazer. A partir de um conceito bacana, que foi a criação do benefício de meia-entrada para que alguns setores da população tivessem mais acesso a eventos culturais, criamos um monstro quando se trata da organização de eventos de entretenimento pelo país.
Em diversos países, o benefício da meia-entrada é concedido para o consumo de atividades culturais, como ir a um museu, exposição de arte ou algo do gênero. Foi dentro desse contexto que, no passado, surgiu a lei da meia-entrada também para estudantes.
Só que, por aqui, deturpamos esse conceito e estendemos o benefício para o consumo de qualquer atividade de lazer. O que era para ser uma forma de incentivo à cultura passou a ser uma forma de reduzir o custo para que alguns setores da sociedade consumam atividades que não são necessariamente culturais.
Pior ainda.
Ao colocarmos no mesmo balaio da cultura atividades como teatro, cinema, shows e eventos esportivos, contribuímos sensivelmente para o encarecimento de toda a indústria do entretenimento no país. Sim, não deixam de ser atividades de valorização da cultura, mas antes de mais nada todos esses segmentos listados são antes disso atividades para o lazer e entretenimento das pessoas.
Isso faz com que um promotor de eventos tenha de encarecer o preço cobrado em seu ingresso por não saber quantos bilhetes serão vendidos a preço cheio e quantos terão o valor pela metade.
A Copa do Mundo com o ingresso mais barato da história, como marqueteiramente soube se apropriar a Fifa, só é possível por uma legislação que tenta ser benéfica ao consumidor, mas ao privilegiar uma parcela, acaba se tornando lesiva à maioria deles.
A espetada que Thierry Weil deu no Brasil foi muito mais precisa e qualificada do que o ''chute no traseiro'' grosseiramente proferido por Jérôme Valcke tempos atrás. A Fifa pode nos dar o empurrão que faltava (apenas para ser mais político) para que nós repensemos a ''lei da meia-entrada'' para os eventos de entretenimento.
Afinal, em vez de garantir teoricamente metade do valor para apenas uma parcela da população, muito mais lógico, até mesmo para o promotor do evento, seria se todas as pessoas pudessem pagar a entrada inteira pelo valor atual da meia.
Até logo, São Paulo!
Sim, você foi enganado por uma manchete mentirosa. Não tenho mais nada a acrescentar sobre a baderna que se instalou no Tricolor paulista. A frase é só para avisar que o blogueiro vai fugir do frio que finalmente chegou a São Paulo e entrar uma semana em férias. Dia 1º de agosto voltamos às atualizações corriqueiras. Afinal, descansar é preciso!