Só o esporte pode reduzir a força da TV
Erich Beting
As reclamações a respeito da mudança do set de vôlei para 21 pontos em vez dos 25 para atender a uma exigência da TV trazem à tona de novo uma discussão recorrente no esporte. É possível popularizar o esporte sem a televisão?
Futebol, vôlei e basquete no Brasil hoje são provas de que a lógica está invertida na relação entre o esporte e a mídia. Em vez de ser o meio, a televisão é vista no país como o fim. Ou, pior ainda, como o único meio para a existência do evento.
O grande ponto que o esporte no Brasil ainda não conseguiu entender é que o conteúdo não é a televisão quem fornece, mas o próprio evento esportivo. Historicamente, sempre deixamos a cargo das emissoras de TV a produção de imagens de um evento. Isso fez com que a mídia ganhasse uma importância muito grande para o esporte. Sem uma boa exposição dada por ela, a competição está fadada a naufragar.
O Brasil talvez seja um dos poucos países no mundo que tenha, ainda nos dias de hoje, uma concentração tão grande de mídia. A TV Globo segue a ter, mesmo atualmente, cerca de 50% da audiência no país. Isso faz com que a emissora ganhe grande importância no desenvolvimento e promoção do esporte.
O problema, porém, é que dessa importância criou-se uma relação de subserviência com a emissora. O esporte sempre viu na Globo não apenas o meio para transmitir seu evento, mas como a própria produtora dele.
Essa relação simplesmente não existe no restante do esporte pelo mundo. A TV é o meio que propaga o esporte, que por sua vez é o dono do conteúdo. O YouTube é a melhor prova de que o consumo da informação pode se dar por qualquer meio, e que o valor maior quem dá é o próprio conteúdo.
Para diminuir a força e a influência da televisão no esporte, apenas o conteúdo esportivo pode fazer frente.