Negócios do Esporte

O fenômeno do Inter no sócio-torcedor

Erich Beting

A Ambev comemorou nesta quarta-feira o fato de o projeto ''Movimento por um futebol melhor'' ter alcançado a marca de 600 mil torcedores. Concebido para tentar elevar a 3 milhões o número de sócios-torcedores entre os principais clubes do país, o movimento ainda está longe da meta de chegar a 1 milhão de pessoas até o fim deste ano.

Mas o grande fenômeno do projeto é o Internacional.

O clube conta, hoje, com cerca de 18% de todos os sócios cadastrados pelo programa. São praticamente 106 mil associados ao clube, que lidera com folga o ranking. Hoje, o Inter tem cerca de 1,9% de sua torcida (cerca de 5,7 milhões de pessoas segundo o último levantamento do Ibope) associada ao clube. O número impressiona. É maior, por exemplo, do que o Barcelona tem de associados, sendo o clube espanhol uma potência mundial.

Qual seria o grande segredo do Inter?

Na origem, a criação do sócio-torcedor foi uma alternativa encontrada pelo clube para aumentar a presença de público no Beira-Rio e ter mais dinheiro. Foi lá no início da gestão de Fernando Carvalho que o Inter buscou um caminho para atrair torcedor e ganhar dinheiro de alguma forma. O clube criou o sócio-torcedor e deu a quem fosse contribuinte o direito a entrar gratuitamente no estádio.

O sistema entrou em colapso em 2006, na reta decisiva da Libertadores. Na campanha do primeiro título continental, o sócio-torcedor virou a menina dos olhos. Em 2008, a grande celebração do clube foi ao lotar o Beira-Rio para a decisão da Sul-Americana apenas com sócios-torcedores. Era a consagração do modelo. No ano seguinte, no centenário, o projeto de alcançar os 100 mil sócios, quando até cachorro teve sua carteirinha. Desde então, o clube vem tentando engajar o torcedor, fazer com que ele tenha interesse em ficar sócio. Hoje, são mais de R$ 40 milhões ao ano provenientes do programa.

O sucesso do modelo do Inter está calcado, como pode se ver, não apenas em fornecer ingressos para os jogos. A origem do programa foi assim, mas depois disso o clube passou a trabalhar para fazer com que o torcedor resolvesse sentir-se ''obrigado'' a se associar. Como sempre digo por aqui, é importante que a paixão do torcedor pelo clube seja correspondida.

O Inter parece que chegou a um limite de associação. É difícil acreditar que o clube, sem uma melhora na performance esportiva, possa atingir os 200 mil associados, meta que foi atualmente estabelecida pela diretoria de marketing.

Os números do Colorado mostram que os outros clubes podem crescer. Para isso, porém, precisam começar a estudar mais para ver como foi que o Inter criou esse fenômeno.