O ouro de tolo de Arthur Zanetti
Erich Beting
Arthur Zanetti conquistou, no último sábado, um feito inédito para a ginástica brasileira. O atual campeão olímpico conquistou o Mundial na Antuérpia, na Bélgica, sendo o primeiro da modalidade a conquistar o posto máximo nas duas principais competições da ginástica.
A performance nas argolas de Zanetti, porém, contrasta diretamente com seu discurso fora da área de disputa esportiva. Logo após a conquista do ouro, mais uma vez o atleta falou em querer mais ''reconhecimento'' do mercado pelos feitos alcançados.
Sem dúvida Zanetti é um monstro naquilo que faz. Possivelmente será o maior ginasta do país durante muito tempo, pelo menos até o momento em que houver uma estrutura mínima para produzirmos ginastas além de aberrações como ele.
Mas ao reclamar da falta de reconhecimento pelas conquistas ou da falta de estrutura para competir, Zanetti cai no mesmo erro de outros atletas que, igualmente, tiveram boa performance mas teimaram em reclamar da falta de apoio.
É um erro primário um atleta, ao conquistar um grande feito, reclamar que não há apoio para ele. Isso gera um efeito imediato para quem já o apoia ou pretende apoiar. A falta de estrutura para a prática de quase todos os esportes no Brasil é uma realidade. Por isso mesmo, não é privilégio de um ou outro esportista não contar com patrocínio ou mesmo a condição ideal de treinamento.
Logicamente que, quando o atleta atinge o máximo da performance, como é o caso de Zanetti, o impacto daquilo que ele fala se torna mais forte. Por isso mesmo, ele precisa tomar bastante cuidado quando faz críticas à ausência de patrocinadores ou à falta de estrutura.
Zanetti mesmo parece ter aprendido com a repercussão que causou no começo do ano, quando chegou até a ameaçar competir por outro país. Tanto que, na abertura da página de abertura do seu site, já agradece aos patrocinadores pela conquista de sábado passado.
Mas o alerta ainda é válido, porque em entrevista ao ''Bandsports'' ainda na Bélgica, ele já clamava por ''mais reconhecimento''. E, hoje, ao desembarcar no Brasil, não reforçou a ajuda dos patrocinadores aos jornalistas.
O atleta precisa parar de ver a profissão que ele desempenha como algo ''nobre'' ou diferente do que os outros fazem. Assim como qualquer outra pessoa, ele é alguém que trabalha para ganhar dinheiro. A remuneração em forma de patrocínio existirá para aquele que entregar não apenas desempenho dentro de quadra, de campo, da piscina, etc. É preciso saber trabalhar para dar retorno ao patrocinador.
Do contrário, ele só vai aprender na marra, como aconteceu com Cesar Cielo, campeão olímpico e que bateu de frente com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) na primeira entrevista no Brasil pós-ouro.
Essa é a grande curva de aprendizado que ainda falta existir no esporte brasileiro. O atleta segue achando que o patrocínio é um mérito dele ao ter performance, quando isso na verdade é só mais um atributo para ser colocado na lista de benefícios que ele pode trazer para uma empresa.
Reclamar quando se obtém a performance é tão absurdo quanto um empresário reclamar da alta carga tributária quando consegue um lucro recorde para a sua empresa. O discurso soa incoerente. Insistir nessa reclamação é ainda pior.
Os ouros de Arthur Zanetti devem ser venerados pela mídia e transformados em mais oportunidades para o atleta. Do contrário, será apenas um ouro de tolo, que valerá para contar grandes histórias, mas não para garantir o futuro como profissional do esporte.
Por mais duro que possa parecer, a performance esportiva não é o fim para um atleta, mas o meio do caminho.