Negócios do Esporte

Gaviões da Fiel processa torcida gay corintiana. Mas e o Corinthians?

Erich Beting

A Gaviões da Fiel decidiu entrar com um processo para impedir que a Gaivotas Fiéis, torcida gay que foi fundada por Felipeh Campos, que ficou nacionalmente famoso por participar da atração ''Qual é a Música'', de Silvio Santos. O motivo alegado pela Gaviões é o uso indevido do escudo do clube e um plágio do símbolo da própria torcida organizada.

O processo já está na polícia, e poderá modificar os planos de Campos na criação da primeira torcida gay de um clube de futebol (detalhes sobre o caso estão aqui).

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O curioso da história toda não é nem tanto o processo movido pela Gaviões, mas o argumento usado pela instituição para vetar a ''Gaivotas''. Ao denunciar o uso indevido da marca do Corinthians, a torcida organizada acaba criando um motivo para ela mesma acabar sendo punida.

Sim, a Gaviões acusa a Gaivotas de deturpar o símbolo do Timão ao descaracterizar o timão e usar elementos que fazem referência ao grupo LGBT. O argumento usado por Ricardo Cabral, advogado da torcida organizada mais tradicional é o de que é permitido o uso do símbolo do clube, mas não a ''deturpação'' dele.

O uso do símbolo do Corinthians, de forma ''correta'' ou ''deturpada'', caracteriza em apropriação de maneira indevida da marca de outro. Apesar de bater no peito e ter orgulho em dizer que a Gaviões é ''dona'' do Corinthians, legalmente isso não existe.

Tanto os Gaviões quanto as Gaivotas, ou qualquer outra torcida organizada no Brasil, deveriam ter a licença formal para uso da marca de um clube. Em tese, inclusive, as torcidas deveriam pagar uma licença para comercializar produtos com a marca dela e do clube.

Hoje, uma perda importante de receita dos clubes está na exploração comercial das organizadas. Para ficar no exemplo da torcida corintiana. Quando a Gaviões vende um produto, ela só o consegue pela existência do Corinthians. Sendo assim, deveria remunerar o clube pelo uso da marca dele. Por mais que esse artigo não necessariamente leve o símbolo do clube, possivelmente ele tem as mesmas cores e também faz alusão a ele, mesmo que de forma indireta.

As organizadas se transformaram, ao longo das últimas décadas, num poder paralelo aos clubes. Elas exploram comercialmente a marca e não pagam absolutamente nada por isso. Com receio de peitar o status quo, o clube permite o jogo e não faz nada para coibir a pirataria da sua marca.

O processo da Gaviões, dependendo do desfecho que tiver, pode abrir jurisprudência para que as torcidas organizadas sejam cobradas pelo uso da marca dos clubes.

Sinceramente esse seria um bom motivo para que começássemos a recolocar em ordem os negócios no futebol. Nenhuma torcida pode se apropriar de símbolos do clube sem ter a devida licença para isso.

Quem deveria abrir um processo por uso indevido da marca tanto a Gaviões quanto a Gaivotas é o Corinthians. Talvez a Gaviões dê a corda para ela mesmo se enforcar lá na frente…

Ao saber do possível processo, Felipeh Campos comentou a atitude da Gaviões. ''Engraçado, deveriam processar os torcedores que matam e indenizar as famílias que tiveram seus filhos mortos em campeonatos. São tão desinformados que me colocam como o cantor ''Pablo''. Primeiro: o Pablo era dublador e não cantor e juntamente com a Ellen Roche entramos na atração no início do ano 2000. Não existe plágio. Existiria plágio se tivéssemos colocado cílios e salto alto no brasão (Gavião). Gaivota é feminino e gavião é masculino. Deixam claro que é uma retaliação homofóbica e preconceituosa. Nunca quis denegrir a imagem da torcida. Em conversa com o meu advogado, ele disse que não existe por que me processarem. Eles que devem ficar espertos, pois homofobia é crime e ainda posso pedir indenização. Gays do mundo inteiro estarão no Brasil ano que vem para a Copa. Cadê o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e José Maria Marin, presidente da CBF, que não manifestam pelo assunto? Irão deixar chacinas acontecerem?'', falou.