Jogador de futebol americano lançará ações próprias na bolsa
Erich Beting
Imagine se Michael Jackson tivesse lançado ações na Bolsa de Valores? Quantas pessoas comprariam uma ação do astro da música? Esse é mais ou menos o pensamento que guia o mais controverso IPO (Oferta Pública Inicial de ações) que deve ser feito na Bolsa de Valores dos Estados Unidos nesta semana.
A empresa Fantex decidiu criar um novo tipo de negócios para operar em bolsas. O fundo terá uma carteira de atletas. Esses, individualmente, serão transformado em empresas e ''lançados'' na Bolsa. A ideia é captar dinheiro com essas ofertas públicas de ações e, em troca, dar aos acionistas participação sobre parte dos rendimentos dos atletas. O modelo de negócios é até similar aos fundos de investimento em jogadores que têm pintado no futebol. Mas com uma enorme diferença, já que prevê a participação individual dos atletas.
O jogador de futebol americano Arian Foster será o primeiro a testar esse modelo, em IPO prevista para acontecer ainda esta semana.
Serão 1.055.000 ações colocadas à venda a US$ 10 cada. Com isso, espera-se levantar US$ 10,550 milhões. Desse montante, US$ 10 milhões vão direto para o atleta. O restante ficará para a Fantex. Não será possível a nenhum comprador obter mais do que 1% das ações.
Em troca, Foster, que é running back do Houston Texans, fornecerá 20% de sua receita para os seus acionistas. O valor, porém, não vai incidir sobre contratos prévios, investimentos pessoais do atleta, pagamento de salários não-relacionados ao futebol americano, pensão do sindicato dos atletas e obras de autoria do atleta (letras de músicas e livros, por exemplo).
A ideia, claramente, é aproveitar o potencial comercial de Foster. E, logicamente, esse é um movimento típico que só pode acontecer com um mercado esportivo absolutamente maduro e desenvolvido como o americano.
Poucos atletas conseguem ser, de fato, empresas. Nos EUA, a proporção logicamente é maior, já que há uma cultura de investimento no atleta como garoto-propaganda, palestrante, consultor, etc. Por aqui, esse tipo de iniciativa raramente conseguiria dar certo. Não apenas por um controle grande feito pela Bovespa para permitir IPOs de empresas, mas pela falta de maturidade do mercado de atletas.
Na bela história de Foster, a possibilidade de ganhos com os negócios do atleta é real. Mas, da mesma forma, a chance de a ''empresa'' naufragar é enorme. Especialmente pelo risco de lesão, que torna a ''companhia'' muito frágil. O conceito é interessante e, num mercado como o dos EUA, pode realmente pegar. Para outros lugares, ainda precisaríamos de uns 30 anos, pelo menos, para que um negócio desses funcionasse.
O risco maior, porém, continua a ser entender o quanto a performance esportiva vai interferir na especulação sobre o ''valor'' da empresa Arian Foster.