Negócios do Esporte

Patrocinadores começam a ativar ingressos para a Copa

Erich Beting

O insucesso de um considerável número de pessoas na aquisição dos dois primeiros lotes de ingressos para a Copa do Mundo acendeu nos patrocinadores do Mundial a luz verde para o início das campanhas de incentivo de vendas atreladas aos bilhetes. Só nesta semana, Liberty Seguros e Visa se juntaram à Coca-Cola como empresas que lançaram ações para o consumidor tentar a sorte de conseguir um ingresso para a Copa.

Previstas desde a assinatura do contrato com a Fifa, essas ações são talvez o grande benefício tangível que uma marca tem ao patrocinar o Mundial. Sendo a única em seu segmento com permissão para ter iniciativas desse gênero, a empresa cria uma promoção que dê ao torcedor a chance de ir para um jogo do torneio e, assim, além de tornar a marca mais agradável aos olhos do consumidor, pode conseguir um incremento nas vendas.

A partir do próximo dia 6, quando serão definidos os jogos da Copa, as marcas devem começar o bombardeio de comunicação na mídia das suas promoções atreladas, primeiramente, aos ingressos. Para 2014, a previsão da Fifa é de que cerca de 485 mil bilhetes sejam usados pelas marcas para as promoções.

Ou seja, o montante de ingressos que os patrocinadores dispõem para as ações de marketing com o consumidor é um pouco mais do que a Fifa disponibilizou para os torcedores brasileiros (a carga à venda para o torcedor local foi de 426 mil bilhetes).

A justificativa para essa distribuição está na ponta da língua da entidade, logicamente. Os patrocinadores são responsáveis por cerca de 60% da receita da Fifa com a Copa do Mundo. Sendo assim, boa parte dos ingressos ficam para eles como ''trunfo'' para ações com o consumidor. Em tempo, é preciso explicar que o patrocinador também paga por esse ingresso. Ou seja, a receita da Fifa é mantida.

Esse modelo de negócios foi inventado pela própria Fifa, ainda nos anos 70, sob a gestão de João Havelange. À época, com um mundo muito menos interligado e com a Copa do Mundo sem o mesmo tamanho de hoje, era muito mais simples realizar ações desse tipo.

O problema desse modelo de negócios nos dias de hoje é que, a cada Mundial, ele só faz aumentar a insatisfação do torcedor anfitrião do evento. Num Brasil que já tem de aceitar diversas exigências da Fifa, a população local não ser a prioridade da alocação de ingressos soa como um motivo a mais para que o evento tenha um aumento de críticas por parte de quem tem também de desempenhar uma função de anfitrião da Copa do Mundo.

O bombardeio de promoções de ingressos por parte dos patrocinadores está só começando. Assim como a sensação, mais uma vez, de que a Copa do Mundo pode ser de todo mundo, mas não é, com certeza, do Brasil.

Talvez nunca a Fifa tenha imaginado quão complexo seria administrar a Copa do Mundo brasileira…