Rio Open pode ser o novo Guga no Brasil
Erich Beting
“Tive uma semana fantástica, o torneio é muito bom. O Brasil e o Rio de Janeiro precisavam de um evento desse tamanho. O próximo passo, porque não, é tentar um ATP 1000”. Foi mais ou menos essa a declaração, que mais parecia promessa de campanha, de Rafael Nadal tão logo conquistou o Rio Open, torneio de tênis encerrado no domingo na Cidade Maravilhosa.
Ainda na quadra principal do complexo montado no Jockey Clube Brasileiro, Nadal levantou a bola do Brasil como nunca tinha feito. E jogou no ar a ideia de o país abrigar o ATP 1000, competição que só perde em importância para os quatro Grand Slam.
Nadal não foi o único a elogiar o torneio. Diversos outros atletas do porte de top 10 do ranking falaram bem da organização do Rio Open. Sinal de que há ótimas chances de, para o ano que vem, os próprios atletas ajudarem o torneio a ganhar fama.
E isso, para o desenvolvimento do tênis no Brasil pode representar o segundo grande passo desde o fenômeno Gustavo Kuerten. Guga foi importantíssimo para que o tênis ultrapassasse a barreira elitista que tinha. Quando tivemos o número 1 do mundo, há quase 15 anos, passamos naturalmente a ter contato com o tênis como nunca antes na história.
Agora, o salto é outro.
Ao termos um torneio da magnitude de um ATP 500 (o terceiro em grau de importância do calendário), passamos a ter atletas mais qualificados jogando em solo nacional. Isso atrai cada vez mais público e, com isso, o interesse pelo esporte aumenta.
Outro aspecto curioso é que os jogadores brasileiros crescem ao disputar torneios assim. Neste ano, Thomaz Bellucci chegou às quartas-de-final. Com isso, subiu 22 posições no ranking. Mais atletas na ponta asseguram um aumento da cobertura da mídia sobre o esporte.
Mesmo na estrutura provisória do Jockey, o Rio Open conseguiu satisfazer patrocinadores. Com o espaço do clube para relacionamento, todas as marcas tinham estandes com espaço para interação com o público e, assim, conseguiam exibir produtos a potenciais clientes.
Pode parecer uma certa heresia, mas havia mais espaço para ações de marca do que em Roland Garros, principal templo do esporte (e que, é verdade, sofre bastante com a falta de espaço para a locomoção do público).
O único porém, mais uma vez, foi em relação à cobertura televisiva. Com os direitos de transmissão restritos ao Sportv, o Rio Open perdeu a chance de expandir o torneio para outros meios.
Mas, num cômpito geral, é um evento que tem condições de alçar o tênis para outros públicos. Para isso, porém, é fundamental que seus organizadores tenham noção de que esse é um projeto para médio e longo prazo.
Esse, talvez, seja o principal desafio a ser vencido pelo Rio Open. Fazer um projeto mais longo num país que culturalmente olha apenas o amanhã. Se conseguir, ele tem enorme potencial para ser o responsável pelo segundo grande salto do tênis no Brasil.