Avanti, Palmeiras! Mas não dá para melhorar, não?
Erich Beting
O Palmeiras sofreu nesta quinta-feira um ataque. A sala que vendia ingressos para o jogo contra o Santos foi destruída por torcedores que tentaram roubar bilhetes. Antes, outros também tentaram usar uma mesma carteira de sócio-torcedor para comprar mais ingressos que o permitido. O estrago foi feio. Mas pior ainda foi a impressão deixada pelos maus torcedores.
Pela primeira vez, um jogo importante do clube, como o clássico contra o Santos, na Vila Belmiro, não terá o privilégio das torcidas organizadas na aquisição de bilhetes. O Palmeiras decidiu fazer o óbvio. Venda restrita para os sócios-torcedores. Se sobrar bilhete, aí o público ''comum'' pode tentar comprar.
O movimento do clube foi perfeito. Antes, atitudes como essa tinham sido timidamente tentadas. Em 2008, o Inter na final da Copa Sul-Americana teve o Beira-Rio fechado para o sócio-torcedor. O Corinthians, na vitoriosa campanha da Libertadores em 2012, deu muito mais vantagens para os associados comprarem os bilhetes. Nos dois casos, porém, as organizadas ainda tiveram facilidades para comparecer aos jogos.
Agora, não. O Palmeiras usou a bandeira do sócio-torcedor para tentar reduzir a força do torcedor organizado. O movimento, claramente, atingiu quem precisava. E o clube sofreu a represália típica daqueles que não se conformam em perder o poder.
O único erro do clube foi não ter proporcionado a venda dos bilhetes pela internet. Para fazer parte do programa de sócio-torcedor (o Avanti), é preciso usar a web. Então por que não fazer a venda toda on-line? Ok, o jogo era fora de casa. Mas o Santos, rival do domingo, usa a mesma empresa para a venda de ingressos pela internet.
Reduzir ao sócio-torcedor o bilhete de um jogo é, na atual conjuntura do futebol, uma medida eficiente para reduzir a força das organizadas. Ao passar para o clube o controle de quem está no jogo, é possível diminuir a influência do torcedor que vai em bando. Na Europa, os carnês anuais de ingresso têm essa função. Antecipação de receita e perda de força do torcedor organizado. No Brasil, o sócio-torcedor é a válvula de escape para isso.
O que os clubes precisam entender é que estamos entrando numa nova era. A ida do torcedor a um local físico para a compra de um ingresso tem de ser o último recurso disponível. Hoje, cerca de 50% do país tem acesso à internet. É gente mais do que suficiente para que um estádio fique constantemente lotado. De qualquer time.
Avanti, Palmeiras! O caminho é esse mesmo. Se é possível dizer que existe um ''dono'' para o consumo de um torcedor, ele é o clube. A torcida não pode, nunca, ter o poder sobre isso. Só que, para isso, é preciso colocar-se na pele desse consumidor. Como é que pode, hoje, a compra de um bilhete não estar ao alcance de um clique?
É possível melhorar muito o sistema. Até para continuar a fazer com que o bom torcedor seja, cada vez mais, a regra, e não a exceção.