O jogo de empurra (e de cena) da reta final da Copa
Erich Beting
Virou um enorme jogo de empurra, e de cena, a reta final da turbulenta preparação brasileira para a Copa do Mundo. O debate da vez é sobre o pagamento das estruturas provisórias dos estádios, ou seja, daquilo que será usado unica e exclusivamente para o Mundial. Por contrato, esse dinheiro deve sair de quem se dispôs a receber as partidas. A Fifa, como boa dona da festa que é, chega apenas com o bolo, deixando para os anfitriões todo o custo estrutural do evento.
Sem qualquer juízo de valor, essa é a regra do jogo. Que o Brasil não concordasse com ela previamente, ou então que batesse o pé contra alguns dos tais ''Padrão Fifa'' que sempre existiram e que vão continuar a existir, seja a Copa aqui ou acolá. Dinheiro em caixa para isso não falta, como mostra a reportagem da Máquina do Esporte em mais um especial sobre as finanças da Fifa (leia aqui)
Só que a briga para saber quem paga a última das contas pré-Mundial é, curiosamente, um tremendo jogo de cena de governantes e donos de estádios. Como agora o bordão ''não vai ter Copa'' não cola mais, espertamente o Brasil passou a se apropriar da ameaça de não fazer o evento se não chegar um bombeiro para apagar esse incêndio.
Hoje não passa de um jogo de cena esse jogo de empurra. Os donos dos estádios querem jogar nas costas da Fifa o debate, provocando um pouco mais a ira da opinião pública sobre a entidade, que precisa ser dura na resposta e lembrar que o compromisso assumido pelo país foi de que ele faria a Copa custe o que custasse, literalmente.
Em meio a um cenário problemático de críticas aos excessivos gastos públicos, a esfera pública tirou o pé do acelerador e deixou de lado o discurso de cinco anos atrás, quando o Brasil era lindo e maravilhoso e a conta da Copa nem precisava fechar de tão magnânimo que seria receber o evento. Do outro lado, os três donos privados de estádios do Mundial fazem o jogo do ''a fonte esgotou'' para conseguir mais benefícios para ter sua arena novinha em folha.
A Fifa, nessa história, ficou com a bomba na mão. É o preço que se paga por ser um dono de festa tão exigente. Sim, é a regra do jogo. Mas será que não está na hora de a entidade rever um pouco se é realmente essa a melhor forma de mostrar o ''jogo bonito'' que ela tanto tenta apregoar? Esse jogo de cena não poderia servir para que, em 2018, ela não precise de novo apagar incêndios que ela própria poderia ter evitado?
Festa boa, afinal, é aquela em que todos, convidados, anfitriões e donos da festa, saem satisfeitos. Não dá para o dono querer fazer a lista de presentes, exigir de seus anfitriões e convidados que eles comprem tudo o que está lá e, no fim, não dizer nem obrigado. Depois de umas três festas nesse esquema, é preciso rever os conceitos…