Negócios do Esporte

O público prova o valor do Estadual

Erich Beting

Só na Bahia e no Rio Grande do Sul as finais dos Estaduais tiveram mais de 30 mil torcedores no estádio. O levantamento do público presente ao primeiro jogo decisivo dos campeonatos locais pelo país evidencia o óbvio. Para o torcedor, o Estadual em si é entediante.

Os motivos são os mais variados, mas refletem uma nova realidade no país, que se evidencia desde que o Brasileirão passou a ocupar 8 meses do ano e os Estaduais foram espremidos em apenas 3 meses. O modelo que sustentou por seis décadas o futebol no Brasil, antes mesmo de a modalidade ter alcance nacional, não tem mais razão de ser.

Quando o calendário do futebol era dividido em dois semestres, os Estaduais ganhavam importância. Durante meio ano, eles eram, ao lado da Libertadores e da Copa do Brasil, principal motivo de interesse do torcedor e dava relativo dinheiro para os clubes. Quando o Brasileirão passou a ser disputado por pontos corridos, a importância do Estadual foi reduzida. Não só pelo maior apelo da competição nacional, mas também pela questão financeira. Com o dobro de datas, o Brasileirão passou a representar, só em receita de TV, um aumento de mais de 100% de receita, lá em 2003. Com mais jogos entre times de maior torcida, também, aumentou a receita em bilheteria no longo prazo, além de promoções com empresas (entre 2005 e 2008 a Nestlé patrocinou a competição, por exemplo).

Hoje, os Estaduais viraram um estorvo.

Para os clubes pequenos, eles representam 3 meses em que a vida é colocada em jogo. Para o atleta e para o clube, chegar um pouco mais longe é questão de sobrevivência.

Para os clubes de maior torcida, eles viraram um problema. Chegar até as finais não os assegura os louros da vitória. Perder antes da decisão é um caos. Além disso, decidir um título com menos de 3 meses de temporada é algo que desgasta completamente os atletas.

Como não há volta para o Estadual mais longo, é preciso repensar a função dele para os clubes. É, mais ou menos, o que fizeram os clubes da Europa com as taças nacionais. Terceiro torneio na escala de importância, eles são relegados muitas vezes ao time reserva. Por aqui, torneios internacionais, Brasileirão e Copa do Brasil precisam ter prioridade na montagem do planejamento de temporada.

Os Estaduais, repensados, também assegurariam aos clubes menores uma maior capacidade de planejamento e mesmo de projeção no futebol. Hoje, a vida é decidida em dois meses. Num calendário mais espaçado, é possível ao clube menor não disputar apenas o Estadual, mas fases preliminares de Copa do Brasil, torneios interestaduais e outras competições, dando mais chance de o clube aparecer.

Uma coisa é certa. Nem mesmo nas finais os Estaduais empolgam o público. E esse é o motivo que faltava para que se repense toda a estrutura das competições do futebol no Brasil.