A Fifa joga contra seu principal patrimônio
Erich Beting
É um escândalo a história que envolve a não-reimpressão dos ingressos de torcedores furtados na Arena de São Paulo na última segunda-feira (leia detalhes aqui). A partir do momento em que a Fifa proíbe que os torcedores furtados reimprimam seus bilhetes, ela presta um desserviço contra seu principal cliente.
Um dos maiores aprendizados que o futebol brasileiro tem com a Copa do Mundo é aprender a tratar o torcedor como um consumidor e maior responsável pelo espetáculo em campo. Desde sempre, a Fifa demonstra uma grande preocupação em fazer com que o torcedor tenha sempre uma experiência única nos estádios.
O assento não só está marcado, como é nominal. Nos estádios, sempre há opções de consumo e entretenimento pré, durante e após o jogo. Na cultura brasileira tão maltratada nos estádios, esses exemplos fazem crescer o nível de exigência do torcedor e eleva a qualidade do gestor. É factível que, após o Mundial, tenhamos muito mais críticas para quem maltratar o cliente.
Mas, no caso dos ingressos furtados dos torcedores, a Fifa marca um gol contra. E, pior, joga contra o principal patrimônio dela. Quando ignora uma ordem judicial para pretensamente proteger o seu negócio, ela derruba quem de fato financia todo o show.
Mais importante que Fifa ou Copa do Mundo é o torcedor. Se ele não se interessar por ela, adeus patrocinadores, mídia e, consequentemente, os bilhões de dólares que jorram nos cofres da entidade.
Sim, não é responsabilidade da Fifa a segurança dos torcedores nos estádios. Mas é no mínimo motivo de preocupação o bem-estar com aquele que gastou mais de uma centena de reais para poder ir ao jogo. Se ele foi furtado, ela tem de tentar ajudá-lo a solucionar o problema.
E as próprias regras criadas pela entidade ajudariam a resolver o impasse que pude acompanhar na Arena de São Paulo na última segunda-feira. Bastava alguém da Fifa ir até a cadeira ocupada pelo “dono” e exigir um documento de identificação. Não é o torcedor que comprou o bilhete? Então saia do estádio e vá prestar depoimento de como conseguiu aquele ingresso. Teoricamente é para isso que serve o ingresso nominal. Se não consegue fazer isso no jogo, que encontre um jeito de resgatar sua imagem com os prejudicados. Um ingresso para outra partida, ou o dinheiro todo de volta.
Só não dá para ignorá-lo. Isso é jogar contra quem, no frigir dos ovos, financia o show promovido pela Fifa.