A Copa do Mundo foi uma realidade paralela no futebol
Erich Beting
Há uma semana, os olhos do brasileiro estavam voltados para o estádio do Maracanã. Mais de 70 mil pessoas estavam ali, presenciando um belo espetáculo de futebol. Outros milhões grudaram os olhos na tela de TV, computador ou qualquer outro meio de comunicação audiovisual. Assistimos entusiasmados ao fechamento da ''Copa das Copas'', ou de pelo menos um dos melhores Mundiais de futebol dos últimos 30 anos.
A consagração da Alemanha, a bravura argentina, de enorme dedicação tática e técnica para tentar frear um time notadamente superior, alguns dos melhores jogadores da atualidade… Teve de tudo um pouco naquele ensolarado fim de tarde no Maraca.
Passada uma semana, o Maracanã ainda não voltou a ter jogo. Mas já tivemos duas (SIM, DUAS) rodadas do Campeonato Brasileiro. E duas notícias entre as várias nesta noite de domingo são:
''Torcidas do Inter entram em conflito e depredam posto de gasolina''.
''André Santos é agredido por torcedores do Flamengo na saída do vestiário''.
A conclusão mais óbvia que se chega é que a Copa do Mundo parece ter representado uma realidade paralela ao nosso futebol. Durante um mês tivemos diversos exemplos de como assistir a uma partida de futebol pode ser um programa para ir com família, amigos, ou até mesmo sozinho. Não é só por uma paixão religiosa que devemos nos locomover a um estádio, mas por ser algo interessante para fazer no momento de lazer.
Poderíamos ter aprendido bastante com o tal do ''Padrão Fifa''. Sem levá-lo para o lado oportunista da entidade ou dos anti-Fifa. Afinal, o Padrão Fifa está longe de ser exemplo de como colocar o fã na condição de consumidor e principal ativo a ser trabalhado pelo esporte. Mas, dentro do universo combalido do futebol brasileiro, a exigência de um nível mais alto no tratamento do fã como consumidor serviria para fazer com que as coisas melhorassem minimamente.
Não é possível que, nem dez dias depois de termos vivenciado 30 dias de um futebol de altíssima qualidade, tenhamos voltado à selvageria plena.
O futebol no Brasil está cada vez mais restrito ao fanático. E isso é um imenso problema para o futuro dessa indústria. Por maior que seja o contingente de fanáticos, eles são muito mais propensos a serem irracionais na relação com essa paixão.
A Copa do Mundo deveria ter servido de exemplo para começarmos a exigir transformações. Mas ela está cada vez mais com cara de que foi uma realidade paralela que invadiu o cotidiano do futebol brasileiro por 30 dias…