Negócios do Esporte

Copa prova que Brasil não sabe faturar com estádio

Erich Beting

É alarmante, para dizer o mínimo, o resultado apresentado pela Visa com os números relativos às transações financeiras que aconteceram dentro dos estádios na Copa do Mundo. A preocupação não é tanto com o consumo de R$ 30 milhões apenas com os meios de pagamento da empresa de cartões, mas com o quanto isso deixa evidente que o futebol no Brasil não sabe explorar seu produto (detalhes podem ser vistos aqui).

 

Numa conta rápida, já que não se tem os detalhes do faturamento da venda em dinheiro, dá para crer que cada jogo da Copa movimentou cerca de R$ 1 milhão só com a venda de bebidas, comida e produtos licenciados. Um estádio da Fifa não traz praticamente nada de diferente para que o consumidor deixe muito dinheiro nele. No máximo as lojas oficiais são os pontos de venda mais concorridos. Imagine se houvesse outros pontos de interesse para a pessoa gastar?

Os estádios precisam, cada dia mais, serem vistos como centros de consumo. Devem ser planejados para abrigar um número significativo de lojas e opções de alimentação para as pessoas. A experiência do torcedor precisa ser feita para que ele chegue com pelo menos três horas de antecedência e sair duas horas depois da partida (logicamente nos jogos de fim de semana, quando há mais tempo para isso).

Ao fazer isso, além de ter menos transtornos com o deslocamento da torcida, há muito mais opção de geração de receita para os gestores dos estádios. Se a Fifa, mesmo sem grande esforço, conseguiu faturar quase R$ 1 milhão em vendas por jogo da Copa, o que dirá dos clubes de futebol no Brasil, que podem explorar semanalmente essa fonte de receita e, mais do que isso, criar motivos para que o torcedor queira consumir ainda mais?

Três dias depois do término da Copa do Mundo, alguns dos estádios que estiveram no Mundial receberam partidas do Campeonato Brasileiro. Nem mesmo os quiosques de alimentação estavam presentes na área que foi criada pela Fifa para ser o ponto de encontro – e consumo – dos fãs.

Os clubes no Brasil ainda acham que a bilheteria é a receita primária de um estádio, sem perceber que o melhor é enchê-lo de gente. E, então, faturar. Enquanto os dirigentes ainda querem se vangloriar de quem ganha mais com a venda de ingressos, muito mais inteligente seria debater quanto cada torcedor deixou de seu dinheiro no dia de jogo.

Só com ações desse gênero será possível reduzir a dependência de fontes como patrocínio e televisão no futebol. O potencial, ficou claro, existe.

Em tempo. Para quem acha que os números altos da Fifa são por conta do torcedor estrangeiro, o consumidor brasileiro foi responsável por gastar R$ 19 milhões desses R$ 29 mi nos estádios. Dinheiro para ser gasto existe. Falta ter motivo para isso.