A encruzilhada dos pontos corridos no Brasil
Erich Beting
O futebol brasileiro completa, neste ano, a 11ª edição de seu maior campeonato no formato dos pontos corridos. Medida tomada à força do Estatuto do Torcedor em 2003, o Brasileirão por pontos corridos chega, agora, a uma encruzilhada.
Os pontos corridos são, sem dúvida, o sistema mais justo para definir o campeão. Além disso, permitem as melhores condições de planejamento para as equipes na temporada e, também, aumentam a arrecadação com TV e patrocínio pela maior quantidade de jogos disputados.
Só que, por outro lado, a decadência técnica do futebol está fazendo com que os pontos corridos matem aquilo que há de mais imprescindível dentro da cadeia do esporte, que é a paixão acesa do torcedor.
Sem bom nível técnico dentro de campo, o torcedor menos fanático começa a se distanciar do futebol. Ainda mais quando o campeonato é mais arrastado e os clubes, emissoras e dirigentes pouco fazem para criar motivos para o torcedor querer consumir os jogos.
O reflexo dessa situação está na estagnação da audiência na TV e, também, na procura baixa pela ida aos estádios. Hoje, o futebol está praticamente restrito ao torcedor fanático. Só quem é apaixonado por ele continua a acompanhar e consumir. O torcedor menos fanático, que é a maioria, fica cada vez mais distante.
Num cenário em que o Brasileirão tem 38 rodadas e menos imprevistos, fica ainda mais difícil chamar a atenção de quem divide o tempo livre com diversas outras atividades além do futebol. Tanto que a audiência de Corinthians x Palmeiras do último domingo foi menor que a do clássico durante o Campeonato Paulista deste ano, quando havia a chance de um dos times ser eliminado da competição graças ao formato de disputa previsto.
Hoje, o retorno à fórmula do ''mata-mata'' pode ser uma alternativa para atrair mais público para o futebol no curto prazo. Esportivamente a medida é condenável, já que não deixa mais justa a disputa pelo título. Mas, estrategicamente, é uma solução para atrair um tipo de torcedor que se distanciou do futebol por não ter nele tanto interesse.
Outro caminho, esse de longo prazo, é melhorar a qualidade do espetáculo, reduzir a dependência da televisão, diversificar as fontes de receita dos clubes e trabalhar para que se dependa cada vez menos do atual ciclo vicioso que dominou a gestão no país.
Um dos maiores diferenciais do esporte em relação às demais formas de entretenimento é justamente a sua imprevisibilidade. No atual cenário do futebol nacional, a solução para isso, no curto prazo, é tornar o Brasileirão um torneio mais atraente para o público.
Os pontos corridos, hoje, infelizmente estão numa encruzilhada…