Negócios do Esporte

Temos de querer a Copa, Mano!

Erich Beting

Mano Menezes reclamou após o modorrento 0 a 0 de Coritiba e Corinthians às críticas e comparações feitas ao ''futebol'' praticado no Brasil em relação àquele da Copa do Mundo. Para o treinador, não é possível comparar o Mundial com o Brasileirão.

É verdade, são realmente preparações e níveis técnicos completamente distintos. Mas não podemos aceitar que o ''Padrão Brasil'' seja o do jogo que fez jus às duas letras iniciais dos dois time.

O que mais mudou na Copa em relação ao período anterior a ela foi o nível de exigência do torcedor. Antes, apenas quando ligávamos a TV no futebol da Europa tínhamos acesso a um espetáculo de alto nível. Boa parte dos jornalistas e dos torcedores estava acostumada a não ver, nos gramados daqui, um futebol de qualidade. Assim, acostumamo-nos a ver, na boa vontade dos jogadores, sinônimo de bom jogo e de disputa ''emocionante''.

Aí veio a Copa. Por ser no Brasil, jornalistas e torcedores que nunca haviam tido a oportunidade de ver grandes jogos in loco. Pudemos perceber que é possível praticar um futebol defensivo, mas bonito, como o da Costa Rica. Tivemos, por 30 dias, contato com algo bem diferente daquilo que víamos por aqui. E, por isso mesmo, aumentamos a cobrança por melhoria na qualidade da bola que é chutada por aqui.

Não podemos esquecer a Copa do Mundo. Temos, pelo contrário, de trabalhar para conseguir um padrão melhor para o futebol que é jogado no Brasil. O futebol feio é um limitador de público. Sendo assim, ele perde o interesse para diversas outras formas de entretenimento, gera o afastamento das pessoas e, por fim, diminui consideravelmente o campo de trabalho para aqueles que vivem (ou pretendem viver) dele.

Mano Menezes, pelo bem do seu emprego, é preciso que torcedores e imprensa queiram ver o Corinthians, maior orçamento do futebol brasileiro, praticando um futebol de dar gosto.

Pensar no resultado de curto prazo é não olhar para o óbvio. A continuar nesse ritmo, em 30 anos, o futebol praticado no Brasil estará restrito a um público fanático, que torce para o clube independentemente do grau de satisfação de espetáculo que ele apresente. E o mercado de trabalho ficará, logicamente, muito menor.

Temos de querer o futebol da Copa do Mundo de volta! Afinal, ele é o exemplo de como é possível praticar o melhor futebol do mundo. E, dessa vez, foi aqui em casa… Conformar-se com o que estamos fazendo com o futebol é uma tremenda falta de visão.