Tiago Fernandes e a realidade do esporte
Erich Beting
Em 23 de dezembro do ano passado, o site ''Tênis Brasil'' publicava uma entrevista de Tiago Fernandes, primeiro tenista brasileiro a ser líder mundial do ranking juvenil e primeiro a levantar um título de Grand Slam na mesma categoria. Após meio ano afastado por conta de uma lesão no púbis, Fernandes, aos 21 anos, planejava mirar um espaço entre os 10 melhores do ranking na categoria adulta (até então ele havia sido, no máximo, 311º do mundo). Como a própria reportagem dizia, havia espaço para chegar lá.
No último dia 16 de agosto, o site ''Tênis News'' publica uma entrevista exclusiva, feita por e-mail, com Tiago Fernandes. Nela, ele conta quais são os próximos passos: ''Tinha prioridades de vida que o tênis profissional não preenchia''.
Sim, você não leu errado, muito menos Tiago ''endoideceu''. O alagoano, aos 22 anos de idade, decidiu que seria melhor para a vida dele cursar engenharia civil.
A decisão de Tiago revela mais um pouco da real situação do esporte no Brasil. Ou do Brasil no esporte. Que nós não temos um projeto bem definido de detecção e formação de atletas está claro. Vivemos de casos isolados. Não há um plano nacional que aproveite a extensão territorial do país e planeje como usar esse potencial para descobrir, em cada canto, um novo atleta de ponta. Mesmo assim, somos capazes de resultados assombrosos, como provam ao longo da história muitos dos campeões mundiais brasileiros.
Mas a realidade exposta por Tiago Fernandes é outra, que é bastante responsável por fazer com que não tenhamos mais atletas no país. Se as praias, as ruas ou a própria carência social nos ajudam a formar atletas, por que não conseguimos expandir a base?
Tiago foi atleta formado por aí, sem critério. Foi o melhor do mundo entre os jovens dentro de um esporte que é forte em diversos países. Não foi acaso, sorte ou falta de concorrência. Foi Brasil. Não se sabe explicar direito, mas às vezes dá muito certo, mesmo sem planejamento e massificação.
O problema de Tiago é o maior problema real do esporte no Brasil. Não conseguimos reter e aprimorar nossos talentos.
O jogador que foi o melhor do mundo no juvenil, ao virar profissional, não encontra no país uma forma de se manter. Não só no tênis, mas na maioria das modalidades. Não estamos preparados para formar atletas, mas, pior ainda, não sabemos como fazer para reter os grandes talentos que aparecem.
Tiago Fernandes representa, na essência, o grande problema do esporte no Brasil. Mais do que a falta para um projeto de base, vivemos uma carência na retenção dos talentos que são formados. Não havia, para Tiago, torneios de nível internacional no Brasil para jogar e aprimorar o talento. Não há, em qualquer modalidade, competições nacionais fortes capazes de fazer os talentos se desenvolverem aqui para, então, brilharem no exterior.
O maior gargalo do esporte no país não é tanto a formação do atleta, mas principalmente o desenvolvimento do atleta depois que ele se forma. Os Jogos Olímpicos poderão ajudar a melhorar as instalações esportivas disponíveis para isso, mas será a gestão do pós-Olimpíadas que fará com que não percamos mais talentos do esporte como Tiago.