Negócios do Esporte

Padronizar não significa pasteurizar

Erich Beting

Nas últimas semanas, uma série de novas medidas está sendo implementada nos jogos do Campeonato Brasileiro. Capitaneadas pela CBF em parceria com a Globo, elas visam tornar mais padronizado o protocolo das partidas do Brasileirão. É uma atitude que faz parte do pacotão pedido pela emissora para melhorar a qualidade do futebol brasileiro. E é uma forma de começar a tentar colocar um pouco de ordem na casa.

Padronizar o protocolo de jogos é fundamental. Isso ajuda, e muito, a construir uma identidade para o Brasileirão. O problema é quando a padronização se confunde com a pasteurização dos eventos.

Esse é o erro que parece querer cair a CBF ao impedir o mundaréu de torcedores-mirins de entrarem em campo com os times. A norma, agora, é limitar a 22 torcedores a entrada dentro de campo com os atletas.

É uma tradição, no futebol brasileiro, os jogadores entrarem em campo com os garotos a tiracolo. Quem vai a estádio sabe que, ao ver as crianças na boca de entrada do túnel, o time está a caminho. É a hora que a respiração prende, que o grito fica mais forte, que você prepara para saudar (ou vaiar) o time que vai entrar.

Da mesma forma, os torcedores-mirins são o ponto de contato do ídolo com a torcida. As hordas de torcedores que se formam ao lado de Rogério Ceni e Robinho, ou que se formavam em torno de Ronaldo e Marcos, para ficar nos exemplos paulistas. Sim, para a televisão a imagem não é das melhores. Mas ela representava a essência do que é a paixão de uma criança pelo seu ídolo. Ela ajuda a entender a importância de se ter um ícone dentro de campo. E, mais do que isso, alimenta o amor pelo clube.

Padronizar a entrada em campo de torcedores é um erro quando ela acaba com uma tradição. Se fosse algo que atrapalhasse o andamento do protocolo de um jogo, era justificável, mas claramente não é isso que acontece.

A CBF acerta quando quer melhorar a qualidade do espetáculo criando alguns padrões. Mas erra ao querer embutir o padrão internacional, atropelando as origens e tradições do futebol brasileiro. Isso só ajuda a afastar o torcedor do futebol, justamente naquele que talvez seja o momento mais grave de crise de imagem que o esporte vive.