Negócios do Esporte

Arquivo : novembro 2014

Melhor marketing é “bola na casa”. Mas cuidado para não ser o único
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Erich Beting

“Marketing no futebol é bola dentro da casa. Se a bola entrar naquela casinha, vende até Modess pra homem”. A frase talvez seja um ótimo resumo de como pensa Alexandre Kalil, o homem que vai encerrar seu mandato como presidente mais vitorioso da história do Atlético-MG.

Ela foi dita à revista Placar, no fim de 2013, após Kalil levar o Galo à inédita conquista da Libertadores.

Com ela, o dirigente justificava o fim do departamento de marketing do clube e consagrava seu estilo de usar frases de efeito e governar a pulso firme o clube que acaba de ganhar o primeiro título nacional depois de 43 anos sobre o maior rival.

De fato, o maior mérito de Kalil foi recolocar, pelo poder do resultado dentro de campo, o orgulho no torcedor atleticano. O clube voltou a ser grande, parou de viver no passado e hoje é o time do presente após quase duas gerações frustradas.

O problema é que futebol, hoje, não é só colocar a bola na casinha. Para ter o time vencedor, Kalil depenou as finanças do clube. Aumentou a dívida, teve prejuízo registrado em balanço financeiro, estraçalhou os cofres. Mas deu ao Atlético algo que  nunca antes na história foi possível.

Só que o marketing não estava lá para acompanhar o campo. O torcedor não teve produtos à disposição para comprar, não foi incentivado a consumir desenfreadamente, não teve a oportunidade de contribuir para além do bom momento no campo.

Quando a bola não entrar na casinha, o que será do Atlético?


A final que deveria ser
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Erich Beting

Hoje era dia para não apenas BH e as Minas Gerais estarem paradas. O futebol no país precisava estar estacionado, à espera do grande evento. Mas parte da atenção estará dividida esta noite na final mais espetacular da Copa do Brasil em 25 anos de história. No mesmo horário, o São Paulo recebe o Atlético Nacional por uma vaga na final da Copa Sul-Americana. Em outras partes do país, felizmente, só haverá espaço para a final nacional.

Mas não é só a incompetência dos gestores do calendário brasileiro que impede que só exista espaço para Cruzeiro x Atlético nesta quarta-feira.

Graças à truculência, ao jogo de cena e à intransigência, os dirigentes dos dois clubes conseguiram apequenar a discussão sobre a partida.

O clima pré-jogo não era sobre as táticas de cada treinador, mas sobre a divisão e a precificação dos ingressos para as duas torcidas. O torcedor, que poderia ser o segundo maior protagonista dessa grande final, virou o personagem principal. Não pela festa, mas pela exploração de sua paixão.

Quanto custa o bilhete? Quantas entradas estarão disponíveis? O jogo é no Independência para 20 mil pessoas ou no Mineirão para mais de 50 mil?

Um dos sucessos do futebol brasileiro nos anos 60 foi tornar-se uma manifestação nacional. O Santos e o Botafogo, que seriam os equivalentes a Atlético e Cruzeiro da atualidade, eram times que jogavam pelo Brasil adentro. Não importava a cidade, o povo queria ver os craques em campo. Não há melhor lugar que o Mineirão para receber a grande final da Copa do Brasil. Mas, infelizmente, a mentalidade pequena dos dirigentes fez com que nem isso fosse realmente um diferencial do duelo.

Era para estarmos falando de Diego Tardelli x Ricardo Goulart; São Victor x Fábio; Levir Culpi x Marcelo Oliveira. Era para falar do “Eu acredito” que mudou de lado. Para debater o porquê de Minas Gerais ser, há dois anos, o centro do futebol no Brasil.

Mas perdemos praticamente três semanas de pré-jogo discutindo quantos bilhetes cada time teria. Qual seria o preço do ingresso. Qual a intransigência da vez de um lado ou de outro.

Com tanta gente pedindo a volta do mata-mata para o Brasileirão, matamos a chance de curtir uma das melhores finais que já existiram no futebol do país. Belo Horizonte é uma cidade dividida em duas paixões. Elas vão se encontrar logo mais no melhor momento vivido pelos dois times desde o fim dos anos 60 e começo dos 70.

Dificilmente voltaremos a ver tão cedo Atlético e Cruzeiro na mesma situação. Vale lembrar que, há três anos, os dois times beiraram a Série B do Brasileirão, e o Cruzeiro só não caiu porque goleou o Galo na última rodada.

Essa é a final que deveria ser da Copa do Brasil. E que nossos dirigentes conseguiram depenar. Pelo menos durante os 90 minutos de bola rolando, o torcedor estará estático, acompanhando uma final épica para o nosso futebol.

Hoje, o futebol das Minas Gerais canta de galo em velocidade de cruzeiro.


O aviso dos torcedores ao “futebol moderno” europeu
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Erich Beting

Quem está acostumado a ler o blog sabe o quanto apanho por aqui por defender a tese de que o futebol precisa se modernizar na relação com o consumidor. A começar pelo fato de chamar o torcedor sempre de consumidor, costumo já levar umas bordoadas. Quando defendo a melhoria dos estádios, a ampliação do conforto, o pensamento diferente da tradição, costumo virar o alvo dos defensores do movimento “Abaixo o futebol moderno”.

Nesta terça-feira, o jogo entre Manchester City e Bayern de Munique viveu seu momento de protesto contra o “futebol moderno”. Ingleses e alemães se uniram para vaiar uma das coisas mais legais da Liga dos Campeões da Europa, que é o hino do torneio. Marca registrada da modernização do futebol europeu, a música que traz o indefectível “The Champioooooooons” virou o alvo contra a política cada vez mais rígida da Uefa no controle do comportamento do torcedor dentro dos estádios.

Os torcedores ostentaram faixas com o lema “Respect”, usado pela Uefa em suas campanhas antirracismo. Embaixo da palavra, porém, um cartaz laranja trazia a inscrição “Fans”. O torcedor, em resumo, pedia à entidade respeito a ele. O movimento, que ganhou força depois que a Uefa proibiu que torcedores fossem aos jogos do CSKA (que está no mesmo grupo de City, Bayern e Roma), é um recado para as autoridades do futebol europeu.

O maior risco do “futebol moderno” é, na tentativa de transformar um estádio num ambiente mais amigável para se assistir a um jogo, pasteurizar a experiência do torcedor em acompanhar essa partida de uma arquibancada. Esse é o equilíbrio que, ao que tudo indica, a Uefa não conseguiu atingir. Ao proibir o torcedor de se organizar em grupos, em exigir cadeiras em todos os assentos, em criar barreiras para manifestações mais extremadas de amor a um clube, a entidade torna-se automaticamente uma vilã do futebol tradicional.

Faz parte da história do futebol termos bandeiras, sinalizadores e uniões em grupo. Cabe a seus gestores permitirem que isso exista, mas que não se transforme em foco de violência e desrespeito aos outros. Isso se combate com um extenso trabalho de gestão do público que vai aos jogos. Conhecer o torcedor, saber desmantelar os focos de violência e/ou outros tipos de manifestação. Não é fácil, mas também é o preço que se paga por reunir milhares de pessoas num ambiente fechado.

O que não se pode é pasteurizar a experiência. Há cerca de 15 anos o futebol europeu vive um processo de transformação de seus estádios com o objetivo de melhorar a experiência do torcedor. Cada vez mais as demonstrações no Velho Continente apontam para uma crise de identidade vivida nos estádios por lá. O torcedor não se sente representado dentro de um estádio.

Como sempre digo por aqui, a arquibancada de um estádio é um dos locais mais democráticos do mundo. Nela é possível colocar todas as classes sociais em convívio tendo todos o mesmo objetivo. Um estádio novo é um ótimo ingrediente para dar ao torcedor uma melhor experiência ao ver um jogo. É possível lotear os espaços da arquibancada.

Quem quer ir a um jogo para tirar selfies e ostentar nas redes sociais tem o mesmo direito de quem sempre se acostumou a tomar chuva, sol, sentar no cimento, saber quem é o lateral-direito reserva promessa do time da base, o nome da avó do juiz a ser xingada, etc. O que é preciso saber fazer é criar o espaço para os dois tipos de torcedores conviverem.

Esse é o maior benefício que o “futebol moderno” pode trazer para o torcedor. Seja ele o “moderno” ou o “tradicional”. A Uefa precisa, urgentemente, entender seu papel como promotora de um evento esportivo. Seria interessante para os dirigentes europeus conversarem um pouco com seus pares da Bundesliga. A Alemanha é um dos poucos países que soube compreender que tradição e modernidade formam a melhor combinação dentro de um estádio de futebol.


O Cruzeiro é o campeão. Mas e daí?
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Erich Beting

Essa foi, mais ou menos, a síntese de diversas opiniões que captei nas redes sociais que acompanho. Logicamente por conta da questão geográfica de boa parte dos meus seguidos e seguidores, concentrada em São Paulo e no Rio, falou-se mais da penúria do Palmeiras, da choradeira de Felipão ou do xexelento San-São do que do justíssimo e competentíssimo campeão brasileiro de 2014. Ou melhor, bicampeão!

O Cruzeiro passeou nos gramados brasileiros pré e pós-Copa do Mundo. Soube, como ninguém, planejar 2013 e 2014. Foi pura sintonia e sinfonia aos pés de Everton Ribeiro e Ricardo Goulart. É paredão com Fábio, Dedé e cia. É enredo com começo, meio e fim sob a batuta de Marcelo Oliveira, técnico com 73% de aproveitamento dos pontos em quase dois anos de trabalho.

Mas a conquista celeste foi eclipsada pela incompetência brasileira em promover o evento esportivo.

Ontem seria um dia para que as pessoas ficassem grudadas na TV, no rádio, nos telefones celulares e em qualquer outro meio de comunicação existente ou que possa vir a existir.

Era dia de ficar acompanhando, par e passo, os desempenhos de Cruzeiro, Goiás, São Paulo e Santos. Com o radar ligado também na briga contra o rebaixamento, ou na disputa pela vaga na Libertadores-2015. Mas ninguém soube dizer que era essa a importância da 36ª rodada do Campeonato Brasileiro (ou Brasileirão Chevrolet, já que a montadora pagou uma grana sabe-se lá para que).

O Cruzeiro foi campeão, mas não se vibrou por isso para além das Minas Gerais. No Rio de Janeiro, o torcedor acompanhou um inútil Sport x Fluminense em vez de torcer para ou contra o bicho-papão dos últimos anos. Em São Paulo, a TV acompanhava, por dever de informar o torcedor são-paulino, como andavam as coisas no Mineirão. Poderia ter feito mais, mas não quis. Ou não deu…

O Brasileirão por pontos corridos chega a sua 12ª edição tendo a seguinte lista de conquistas: três títulos para São Paulo e Cruzeiro; duas taças para Corinthians e Fluminense; uma conquista para Santos e Flamengo. São apenas seis times que venceram 12 campeonatos. Só três estados, apenas a região Sudeste do país.

Sem a cultura de planejamento e visão de longo prazo, o futebol no Brasil torna-se menos emocionante e, mais ainda, menos imprevisível com a fórmula de disputa por pontos corridos. À exceção do Flamengo, em 2009, todos os outros anos foi campeão o time que começou o campeonato sabendo o que ele precisaria fazer.

Para ser atrativo para a maior parte do público, qualquer competição esportiva precisa ser o mais imprevisível possível. O mérito cruzeirense na conquista nacional é incontestável. O problema é que isso, literalmente, dá menos audiência.

A forma como vendemos o Brasileirão por pontos corridos precisa ser revista. Para fazer justiça a grandes campeões como esse Cruzeiro!


O sócio-torcedor segue sem achar o rumo no futebol
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Erich Beting

O Palmeiras se tornou, em menos de 15 dias, o maior fenômeno dos programas de sócio-torcedor do país. Numa taxa de adesão de quase mil pessoas por dia neste mês, o programa Avanti conseguiu se tornar o quinto maior do país e, muito provavelmente, em breve pode tomar o posto do Corinthians como clube com maior adesão ao projeto no país.

O tsunami verde foi causado pela abertura do estádio Allianz Parque e pelo modelo de venda de ingressos que foi montado para o primeiro jogo, amanhã, contra o Sport. Nele, o sócio-torcedor teve acesso prévio à compra, com maior benefício a quem paga mais e para quem é mais assíduo às partidas.

O fenômeno não é exclusividade do Palmeiras. Já havia ocorrido de forma similar com o Corinthians nos meses anteriores à abertura da Arena Corinthians (detalhes aqui).

A questão é que o próximo jogo palmeirense no estádio é no dia 7 de dezembro, encerramento do Campeonato Brasileiro. Depois disso, só em fevereiro. E o programa de sócio-torcedor, o que terá a oferecer para os torcedores até lá?

A tendência é que, nos próximos meses, o clube assista a uma queda no número de associados. Sem o benefício do ingresso, o programa praticamente volta a ser o que era, um clube de desconto em alguns produtos e raríssimas ações de marketing para quem está lá dentro.

No ano passado, quando da decisão da Copa do Brasil, critiquei o crescimento vertiginoso do Flamengo no projeto capitaneado pela Ambev. Claramente as adesões se deram por causa da disputa da final do torneio. O Rubro-Negro conseguiu manter o número de associados no patamar alcançado naquela época até hoje, mas praticamente não viu crescer o projeto além disso.

Enquanto o programa de associados for uma forma camuflada de se obter ingressos para os jogos de alta demanda, o futebol seguirá sem conseguir explicar para que serve o projeto. Até hoje isso não está claro.

De um lado, claramente os clubes usam o programa para , de uma forma diferente, vender o “carnê” anual de ingressos. Do outro lado, porém, as empresas que fazem parte do “Movimento por um futebol melhor” travam uma árdua batalha para tentar fazer com que os clubes comecem a tratar o torcedor com uma lógica de consumo privilegiado.

São poucos os que perceberam, e enfatizaram em sua comunicação, que ser sócio-torcedor pode gerar benefícios intangíveis para o aficionado por um clube. Enquanto o futebol brasileiro não seguir por esse caminho, seguirá sem conseguir deixar claro na mente do torcedor que consumir o clube não é apenas algo para os momentos de alto grau de interesse.

O Palmeiras, tal qual já ocorreu com Corinthians e Flamengo, se beneficia do fato novo, que pode ser uma decisão de campeonato ou a inauguração de um estádio. O problema é que isso acontece, no máximo, uma ou duas vezes por ano. O que fazer nas outras 60 datas que o clube tem para lotar estádio e engajar o torcedor?


A triunfal volta de Eurico. E de tantos outros
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Erich Beting

Eurico Miranda está de volta. Com o velho charuto de sempre, numa tumultuada eleição que teve direito a uso de frase intimidatória e tiro para o alto, segundo os relatos dos repórteres do UOL Bruno Braz e Pedro Ivo de Almeida (o texto completo está aqui). É o jeito Eurico Miranda de ser. É o preço que o Vasco pagará por achar que quem foi o maior responsável por colocar o clube no lugar onde está atualmente seja também quem possa pretensamente “salvar” o clube.

Mas não é só Eurico que voltou de maneira triunfal. No Palmeiras, ainda é Mustafá Contursi quem dá boa parte das cartas, mas não as caras. No São Paulo, Carlos Miguel Aidar foi presidente nos anos 80. No Flamengo, Marcio Braga ainda exerce influência entre os conselheiros e, de forma indireta, algum poder dentro do clube. No Grêmio, Fábio Koff voltou aclamado à presidência, enquanto diversos outros clubes continuam a apostar nos presidentes que foram figuras influentes lá nos anos 80 e 90.

Depois da grande crise causada no começo dos anos 2000, com a saída dos grandes grupos investidores no futebol, parecia que uma nova geração de dirigentes começaria a aparecer. Os clubes, quebrados, começaram a pedir por mudanças. Foi assim que saíram as dinastias Contursi, Dualib, Miranda, Teixeira e quetais.

Mas não se passou nem uma década para que ressurgissem as velhas caras de sempre. Por que isso acontece?

O clube de futebol é, acima de tudo, uma entidade que reúne associados e esses, por sua vez, elegem seus dirigentes. Sendo assim, quem sabe trabalhar bem esse bastidor eleitoreiro acaba sendo alçado aos cargos mais importantes.

Há 30 anos, quando o futebol começou a viver um primeiro período de profissionalização a partir da entrada mais pesada da TV e de patrocinadores, essas figuras começaram a aparecer, representando o “novo”. Dualib, Eurico, Mustafá, Koff e outros eram os representantes do fim de uma geração anterior.

No começo da década, passamos por mais um processo de transformação. Os clubes europeus passaram a ser grandes compradores de atletas brasileiros e o futebol atingiu patamares ainda mais altos de profissionalização. Jogadores, treinadores, TV e patrocinadores passaram a exigir mais. Dinheiro, entrega, gestão. Aí, Dualib, Eurico, Mustafá, Koff e outros passaram a representar o “velho”.

Num primeiro momento, esses dirigentes perderam força. Entraram, então, novas caras, com um discurso de equacionamento de dívidas e solução do passivo dos clubes. O problema é que, de cinco anos para cá, após a mudança provocada pelo Corinthians no mercado, os clubes perderam o rumo do equilíbrio financeiro. Enquanto o Timão fazia um tremendo barulho com Ronaldo e Cia., mas absolutamente amparados do ponto de vista financeiro, os clubes tentavam dar resposta para a torcida sem saber como trabalhar as finanças.

Desde 2009 que o futebol no Brasil aumentou sensivelmente as receitas, mas de forma completamente irresponsável gastou esse dinheiro. Hoje, o que acontece com os clubes é exatamente o que aconteceu no fim dos anos 90, quando os grupos investidores começaram a sair após as alterações da Lei Pelé. Os custos estão essencialmente maiores do que as receitas.

Quem eram os dirigentes que conseguiam montar times fortes mesmo num cenário desfavorável naquela época? São eles que, hoje, voltam de forma triunfal para os clubes, como se fossem salvadores da pátria.

A questão é que esses mesmos dirigentes foram, em grande parte, responsáveis por colocar os clubes num buraco cada vez maior. O torcedor, olhando apenas o desempenho dentro de campo, exige times cada vez mais competitivos. Os dirigentes, pressionados por buscar isso, adiantam verbas de patrocinadores e televisão, endividam ainda mais o clube e comprometem o futuro.

Agora, voltam a dar as cartas – e as caras – no futebol os mesmos cartolas que ajudaram a levá-lo para um estágio de falência. Em breve não haverá alternativa a não ser vender os clubes para milionários e, depois, fundos de investimento.

Foi assim que a Inglaterra conseguiu reerguer seu futebol a partir principalmente da última década.


A Copa passou. E pelo visto quase nada ficou…
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Erich Beting

O Atlético-MG decide disputar no Independência a decisão da Copa do Brasil. Para conseguir gerar uma alta receita mesmo com o tamanho reduzido do estádio, o clube decide colocar a R$ 200 o preço mínimo do ingresso para a partida. Seria natural adotar essa estratégia se não houvesse outro lugar para enfrentar o maior rival da história do Galo.

Mas o Mineirão, reformado para a Copa do Mundo, está mais do que apto a receber o jogo. O Atlético x Cruzeiro dessa Copa do Brasil fez com que a competição se tornasse a mais interessante deste segundo semestre, mesmo com a definição do título brasileiro em andamento.

E o que faz o Atlético diante de tais circunstâncias? Usa o argumento técnico para justificar o injustificável. Alexandre Kalil pode argumentar que não se conforma em dar dinheiro para outro, ou que terá mais condições de vencer a partida jogando no Horto, ou qualquer outra desculpa que geralmente brota com ares de certeza absoluta da boca do mandatário alvinegro.

O fato é que, para variar, o futebol brasileiro dá mostras absolutamente cristalinas de que a Copa do Mundo passou e pelo visto quase nada ficou de aprendizado para o gestor esportivo no país.

Ao decidir mandar o jogo no Independência, cobrando de R$ 200 a R$ 700 o ingresso, o Atlético-MG desrespeita seu principal cliente, que é o torcedor. Um estádio mais acanhado significa ter menos gente para consumir o clube. Os preços absolutamente surreais que são cobrados são outra afronta para quem é apaixonado pelo clube e está disposto a assistir ao jogo. E o argumento de que é preciso fazer valer o “fator casa” na grande decisão é inválido a partir do momento que o Atlético já jogou e ganhou de Corinthians e Flamengo no Mineirão.

Não há erro algum no fato de o clube querer ganhar dinheiro no futebol. Pelo contrário, isso é importante e permite a quem faz isso ter mais verba para construir times melhores e, assim, ganhar mais títulos, que é o objetivo final do torcedor.

O que não se pode acreditar é que não se tenha aprendido absolutamente nada com o que se viu na Copa do Mundo. Apesar de toda ganância da Fifa, uma coisa era clara durante o Mundial. Havia sempre uma grande preocupação com o conforto do torcedor no jogo.

Enquanto o futebol brasileiro continuar a tratar o torcedor como um selvagem, será absolutamente incontestável decisões como essa tomada pelo Atlético-MG. O pior é saber que ainda haverá muita gente argumentando que “futebol é assim”, sem perceber o quanto perde em imagem o próprio futebol ao se conformar com esse bordão…


Nasr na F1: é para comemorar ou não?
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Erich Beting

O Brasil voltará a ter dois pilotos no seleto grupo da Fórmula 1 em 2015. A notícia surgiu agora a noite num comunicado enviado pelo Banco do Brasil. A instituição financeira vai patrocinar a escuderia Sauber. Em troca, Felipe Nasr será piloto titular da equipe. A notícia é ótima, já que dá ao país mais um piloto no grid, o que possivelmente amplia o interesse do público pela F1, em baixa nas duas últimas décadas desde a morte de Ayrton Senna.

Nasr, possivelmente, terá bom espaço na mídia e conquistará patrocinadores pessoais que vão além do BB. Sob essa ótica, ele será inteiramente beneficiado pela chegada à mais famosa categoria do automobilismo.

São motivos de sobra para comemorar. Porém, do lado do automobilismo brasileiro, a situação não parece ser tão bela assim. Ao ter a vaga assegurada por conta de um patrocinador estatal, o esporte ganha uma lufada de esperança, mas que pode ser falsa.

O jogo da F1 sempre foi assim e tem ficado ainda mais assim. Para chegar ao lugar mais alto do pódio do automobilismo, é preciso ter dinheiro. Ele abre portas e assegura vaga nos cockpits mesmo que o piloto não seja tão bom assim. É o velho e bom poder da grana. Não é privilégio de um ou de outro, é a regra mesmo. Até Fernando Alonso costuma levar o Santander a tiracolo por onde passa.

O problema é o que representa hoje o produto da F1. A categoria estacionou nos 8 pontos de audiência na TV aberta no Brasil. Os treinos de sábado nem são mais transmitidos integralmente. Mundialmente, após os anos de supremacia Schumacher, caiu o interesse global no evento. Fora das pistas, as equipes sofrem com os custos altos e estão começando a ameaçar um boicote pela divisão do bolo de receita.

No Brasil, como produto, a F1 deixou de ser interessante. Quando duas empresas estatais precisam “socorrer” a categoria no país, é sinal de que a coisa não está boa. Pior ainda é o argumento do Banco do Brasil ao anunciar o patrocínio: “O principal objetivo da parceria é viabilizar a entrada de um piloto brasileiro na Fórmula 1”, nas palavras de Hayton Rocha, diretor de marketing do BB.

Ou seja. Não é um negócio para o banco investir na Fórmula 1. O aporte não é feito pensando numa possível internacionalização da marca, ou num projeto para levar clientes para todos os cantos do mundo. É só para ter o Brasil na Fórmula 1.

Sob esse aspecto, a presença de Nasr na F1 é mais um motivo para se lamentar o uso de dinheiro de uma estatal sem um projeto para a empresa, mas como uma forma de “ajuda”.

Patrocínio não é caridade, ainda mais na Fórmula 1!


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