Pontos corridos ou mata-mata? Melhor ter um BrasileirÃO
Erich Beting
O novo presidente do Grêmio lançou publicamente a campanha pela volta do mata-mata ao Campeonato Brasileiro. Disse que está conversando sobre o tema com outros dirigentes, com a Globo, etc. e tal. Tão logo ele vazou a informação, saíram diversas análises sobre qual fórmula é melhor, que as competições mais legais do mundo são nesse modelo, que os EUA usam essa fórmula nas suas bilionárias competições e tudo o mais.
Debater qual formato de disputa é a ''solução'' para o futebol brasileiro é mais ou menos acreditar na tese do apagão para justificar os 7 a 1 da Alemanha de julho passado. A queda de interesse das pessoas para acompanhar o Campeonato Brasileiro deve-se muito menos ao formato de disputa da competição e muito mais à promoção e organização do campeonato em si.
O futebol brasileiro está estacionado dentro das quatro linhas, sem se preocupar para quem está fora dela. Para piorar, estamos ocupando a vaga do idoso nesse estacionamento. Mas com razão. Nosso futebol está envelhecido.
Esse é o primeiro ponto da história. Não temos um futebol vistoso. Lucas, do PSG, falou sobre isso recentemente. Disse que o futebol aqui é muito devagar. Seedorf, quando analisou o futebol de Paulo Henrique Ganso, meio que disse isso nas entrelinhas. ''Ganso não tem velocidade e pegada para jogar na Europa''. Ou seja. O cara que aqui é um dos poucos iluminados ao tocar na bola não teria condições de jogar em alto nível no lugar onde se pratica o melhor futebol do mundo.
A falta de um futebol bonito relega ao fanático o interesse em acompanhar os jogos. Não é bonito ver um jogo. Ou melhor. São raros os jogos bonitos para se assistir. Assim, quem não é tão interessado em futebol não tem motivo para ligar a TV ou ir até o estádio. É preciso ter um futebol mais bonito, mais ofensivo, mais produtivo, menos bruto. Esse foi o primeiro ponto detectado pelos ingleses no começo dos anos 1990 e que começou a ser trabalhado para atrair mais gente para acompanhar o futebol por lá. Parece que deu certo, independentemente da fórmula de disputa da Premier League ou da FA Cup…
Aí entra o segundo ponto. Sem um futebol bonito, poderíamos pelo menos promovê-lo de alguma forma a ponto de atrair o interesse das pessoas. Mas não fazemos isso.
Não nos preocupamos em ''contar histórias'' sobre nosso futebol para ampliar o interesse das pessoas por ele. Somos massacrados pela mídia o tempo todo. Só que de informações completamente inúteis, como qual jogador está saindo com quem, o que ele publicou no Instagram, qual a nova briga de bastidores dos dirigentes, etc. O futebol não se preocupa na forma como a mídia promove o seu produto. Pior. Os dirigentes alimentam o fanatismo e a segregação, quando deveriam ter interesse em mostrar que o ambiente do futebol é agradável para qualquer um, que ir a um jogo é uma experiência legal, que há coisas divertidas acontecendo. Os EUA sempre se preocuparam com isso. Em 20 anos, desde que a MLS foi criada, trabalharam a ponto de fazer o americano gostar do esporte e, mais ainda, se interessar em acompanhá-lo!
Chega-se então ao terceiro ponto. Sem um futebol bonito e sem promoção do esporte, porque mesmo alguém vai se interessar por ele?
Ah, sim! Os fanáticos!
Hoje, a população ''comum'' não se interessa por futebol. Ou se interessa menos do que poderia. Por que eu trocaria um domingo de sol com a família ou os amigos para ver um jogo do Campeonato Brasileiro? Só o fanático é atraído por esse ''programa'' nos dias de hoje. E os índices de audiência estão aí para provar isso. Hoje, a queda que a Globo tem quando sai da novela e vai para o futebol é muito maior do que era antes. Não, o problema não é o horário do jogo. É a qualidade dele. Jogo bom todo mundo para e quer ver!
Pontos corridos ou mata-mata não mudarão praticamente nada se o futebol brasileiro continuar estacionado na vaga de idoso que ele encontrou dentro do campo. Antes de pensar em qual formato de disputa é melhor para o Campeonato Brasileiro, é preciso primeiro se preocupar em transformar o torneio em um BrasileirÃO, com ÃO maiúsculo mesmo. E aí será tão legal que você nem vai precisar discutir qual modelo é melhor. O melhor é ver a bola rolando mesmo!