Negócios do Esporte

Arquivo : fevereiro 2015

Esporte virou o novo grande negócio da Red Bull
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Erich Beting

A Red Bull não é mais uma empresa de energéticos. Quer dizer. Ainda é. Mas é interessante notar como a companhia virou, hoje, essencialmente, uma empresa que vive do esporte. E que ganha dinheiro com isso! Teoricamente a Red Bull continua a ser ainda a empresa que produz apenas um produto e o vende em tamanhos e sabores diferentes.

Mas, no esforço de marketing para a promoção desse produto, a empresa encontrou um novo negócio que, aparentemente, tem se tornado tão importante quanto a venda de bebida energética.

Na última quinta-feira foi anunciado um acordo entre a Red Bull e a FIVB, a federação internacional de vôlei. Não, a marca de bebida energética não está patrocinando a federação. Pode até ser que você encontre, durante as transmissões do vôlei de praia, o logotipo com os dois touros em alguns lugares da arena. Mas a Red Bull fechou um acordo para ser produtora de eventos da FIVB (detalhes aqui).

O negócio representa mais um acordo da Red Bull dentro do esporte. E reforça, mais uma vez, o novo conceito da empresa, que se vende como “marca de bebidas e mídia”. O perfeccionismo de Dietrich Mateschitz (dono da Red Bull) em criar eventos para promover a marca acabaram impulsionando um novo modelo de negócios para a empresa.

Hoje, a operação de Fórmula 1 da Red Bull é rentável. A empresa vende peças fabricadas e exporta o conhecimento que foi acumulado em sucessivos anos de perfeição dentro da categoria. Ela é a única equipe do circuito que não produz carros ou tem relação com mecânica, mas soube construir carros e exportar esse negócio.

Nos outros eventos que faz, a marca desenvolveu um modelo de produção de vídeo e fotos que cresceu tanto que se transformou no Red Bull Media House. O departamento é uma espécie de produtor de conteúdo para as emissoras de televisão. Boa parte dos programas de esportes radicais que você assiste no canal Off, aqui no Brasil, é feito pela empresa.

O mais curioso é saber que essa história de investir no esporte começou para mudar a cara da Red Bull, que era vista como uma bebida para ser misturada com um drink alcoólico na balada. Agora, mais do que ser uma marca associada ao esporte, a Red Bull se transformou numa empresa que tem no esporte um braço para ganhar dinheiro.

Com o crescimento do esporte como entretenimento, poucas produtoras de evento são tão competentes e possuem tanto conhecimento quanto a Red Bull. E, nenhuma, ainda tem o interesse de investir na produção do evento para poder vender outro produto, que é a lata de bebida energética. É esse o grande pulo do gato que está embutido no negócio firmado entre a FIVB e a Red Bull.

O segredo para uma empresa não morrer é estar constantemente inovando. A Red Bull ainda vende apenas um produto para o consumidor. Mas achou, no esporte, a inovação que precisava para diversificar radicalmente seu negócio. E seguir vendendo apenas um produto para o consumidor…


Cartolas da Conmebol são mais malvados que o “bicho-papão”
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Erich Beting

Foi com certa indignação que soube, ontem, que a Conmebol proibiu crianças de entrarem junto com o time do Atlético-MG para a disputa da partida contra o Atlas, pela Copa Bridgestone Libertadores. Segundo a nota publicada pelo clube, a entidade que “organiza” o futebol na América do Sul proibiu a entrada dos torcedores-mirins com os jogadores.

Não foi por isso que o Galo também não entrou em campo mais uma vez pela Libertadores. Mas poderá ser por isso que, lá na frente, cada vez mais os torcedores prefiram ocupar seu tempo livre com a Liga dos Campeões da distante Europa do que o campeonato que acontece aqui, no quintal de casa.

Ao vetar a entrada em campo das crianças, a Conmebol vai contra qualquer tentativa de aproximar sua competição daquele que mais sustenta a indústria do esporte: a criança! O esporte profissional só existe porque há, desde pequeno, o sonho de consumo dele.

Aquele que consome esporte hoje, com certeza, foi alguém que sonhou algum dia em praticá-lo profissionalmente. Ou, pelo menos, a imitar seus ídolos em casa, na rua, na escola. Depois, a criança cresce e vira um gastador no esporte. É algo tão básico e lógico que assusta perceber que o futebol sul-americano simplesmente ignora essa necessidade de falar com os mais novos.

Na semana passada, durante a cobertura do Rio Open, recebi o convite de disputar um game na quadra central contra David Ferrer, que acabou sendo o campeão do torneio. Ação de marketing da Claro, patrocinadora do torneio, a iniciativa gerou reações incalculáveis para mim. Desde a divertida preparação psicológica para ter meus 2 minutos de vivência de um profissional do esporte até as brincadeiras que ainda seguem após a maior humilhação pública que já sofri. O interessante é que, por mais patético que tenha sido o meu desempenho em quadra, nunca passei tanta vergonha sem deixar de estar muito feliz e até orgulhoso de ter estado lá.

Realizei, ali, um sonho de infância. Se não tivesse tido a oportunidade de ter contato com o tênis na infância, provavelmente acharia aquela iniciativa uma coisa completamente sem graça.

Quando a Conmebol começa a afastar a criança de iniciativas que vão valorizar o fascínio que ela tem pelo esporte, ela começa a cavar a própria sepultura. O sonho de uma criança é que faz o esporte ser um negócio.

Parece que nem o “bicho-papão” consegue pensar em tantas maldades para as crianças como os dirigentes do futebol sul-americano…

 


Globalização do futebol europeu sente, agora, seus reflexos
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Erich Beting

Foi mais ou menos no fim dos anos 90 que os clubes europeus, sempre liderados pelo vanguardista Manchester United, perceberam que eles precisavam ir além-mar. O mercado da Europa era pequeno demais para alguns clubes. O United, de olho no crescimento da Copa de 2002, foi o primeiro a perceber que havia boa condição de ganhar dinheiro na Ásia, aproveitando a fama de David Beckham por lá. Cerca de cinco anos depois, chegaram Real Madrid (após contratar o mesmo Beckham) e Barcelona (aproveitando-se da imagem de Ronaldinho Gaúcho).

Paralelamente a isso, a Premier League, da Inglaterra, e a Liga dos Campeões, da Uefa, foram campeonatos que se preocuparam em levar para o exterior os clubes e suas marcas. Pouco depois, Bundesliga (Alemanha) e La Liga (Espanha) fizeram o mesmo, tentando fazer com o que o maior número de países tivessem contato com seu futebol.

A estratégia de expansão para o exterior dos clubes europeus mostra, agora, o benefício dessa estratégia. Estudo feito pela consultoria Repucom, lá no Velho Continente, mostra que, mesmo com uma economia estagnada, o patrocínio de camisa no futebol europeu aumentou em 20% neste ano (detalhes aqui).

O motivo?

As marcas que são de fora da Europa. Elas decidem pagar milhões para patrocinar esses grandes clubes e, assim, ter uma exposição global, além de um retorno de imagem em seus países de origem, mostrando uma certa “grandeza” ao apoiar um Barcelona ou um Real Madrid.

Para que a balança se invertesse em favor da operação no exterior desses clubes, porém, foi preciso um longo período de maturação do produto. O caso que evidencia mais isso é o do Manchester United. Com 53 milhões de euros recebidos por ano da GM, o clube inglês detém, com sobras, o patrocínio de camisa mais valioso do futebol mundial. A diferença é que a GM explora, globalmente, a parceria com o United.

Para fortalecer a marca é preciso consistência e persistência naquilo que se faz. Não é por acaso que a Europa consegue patrocínios tão altos de empresas do exterior. Esse foi um processo que começou a ser construído no fim dos anos 90, cerca de 20 anos atrás.


Globo dá o recado para os Estaduais
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Erich Beting

Para tudo há uma primeira vez. Neste final de semana de Carnaval, de forma inédita o futebol no Brasil não teve transmissão na TV aberta, mesmo com rodada completa dos Campeonatos Estaduais. O recado dado pela Globo ao fazer essa opção não poderia deixar de ser mais cristalino. O futebol entrou no mesmo balaio que estão as outras modalidades esportivas.

Sem conseguir emplacar a audiência nos jogos no meio da folia nos últimos anos, a Globo optou por simplesmente ignorar o futebol para manter a programação regular da emissora. Em se tratando de futebol brasileiro, é uma das primeiras vezes que a emissora deixa de lado uma transmissão para exibir qualquer outro evento.

A situação é relativamente comum de se ver em torneios de vôlei, basquete, tênis. Em competições de automobilismo. Mas, na maioria das vezes, o vilão para que a emissora tome essa decisão é o próprio futebol. Para não concorrer com o esporte mais popular do país, a emissora de maior audiência do Brasil opta por ignorar a outra transmissão.

O problema do Carnaval, além da data que deixa menos gente ligada em frente à TV, está no fato de a audiência não conseguir emplacar no fim de semana da folia. Com o Ibope em decadência nos últimos anos, a Globo tenta ao máximo ajudar o futebol. Agora, porém, a biruta virou. Quando o futebol é derrubado por outro evento na grade da TV, é preciso ligar o sinal de alerta. Ou melhora-se o produto, ou conforme-se com a condição de segundo escalão na lista de preferência da TV aberta.

É desesperador perceber que o esporte mais popular do Brasil não consiga hoje justificar a entrada de uma transmissão ao vivo pela TV aberta.

Se os dirigentes ainda acham que o futebol é insubstituível, o que aconteceu neste final de semana mostra exatamente o contrário…


Os dois lados do recorde dos direitos de TV inglês
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Erich Beting

A marca conquistada pela Premier League, da Inglaterra, de ser o torneio de futebol mais valioso do mundo, como tudo na vida, tem dois lados. Se, sob uma ótica, o que os ingleses conquistaram foi fruto do caminho sem volta para a profissionalização do futebol tomado pelo país, por outro o alance da cifra recorde coloca o modelo inglês do futebol numa encruzilhada.

Desde que começou a remodelação do futebol no início dos anos 90, impulsionado por força de lei (qualquer semelhança com o Brasil atual não é mera coincidência), os ingleses sempre tiveram a NFL, liga de futebol americano, como exemplo para a questão das TVs, e a NBA, liga de basquete dos EUA, como exemplo para a expansão internacional da marca e do esporte.

O “padrão NBA” foi cumprido à risca já no fim dos anos 90, ajudado pelos fenômenos Manchester United e David Beckham. A Premier League é, hoje, o campeonato nacional de futebol mais internacional que existe. Nos últimos anos logicamente a Liga dos Campeões ganhou o status de mais transmitido, mas nas competições que só envolvem times de um mesmo país, a Inglaterra é insuperável.

Agora, os ingleses conseguiram atingir o “padrão NFL” na questão da venda dos direitos de TV. Os 5 bilhões de libras por três temporadas podem ser traduzidos, da melhor forma, pelo cálculo de que cada jogo da Premier League custará 10 milhões de libras (cerca de R$ 40 mi) para ser transmitido. Para se ter uma comparação com o mercado daqui, um jogo do Brasileirão custa, em média, R$ 2,6 milhão para a Globo. E estamos entre os cinco campeonatos nacionais de futebol mais valiosos do mundo, mesmo com a moeda desvalorizada!

Alcançada a cifra recorde pelos ingleses, o problema agora é outro. A partir do momento que o país adotou os Estados Unidos como modelo, criou para si um enorme problema. De que forma o futebol altamente profissional consegue sustentar o futebol tradicional? Hoje, na Inglaterra, só consegue disputar a Premier League o clube que tiver orçamento na casa dos 100 milhões de libras para cima. Para brigar por título, pode passar o cálculo dos 200 milhões, no mínimo.

Isso cria um problema para o futebol inglês. Aos poucos, a grana sufoca o clube menor, que geralmente foi aquele responsável por permitir a existência do futebol no país. Sem dinheiro, esse time deixa de figurar entre os maiores, mesmo ele tendo torcida, história, tradição.

Nos EUA, esse problema não acontece. Lá, o esporte profissional é privatizado. Ele pertence à liga, que tem nos times, cada um com seu dono, os seus sócios. Não existem mais do que 32 times profissionais no futebol americano. Ser um time profissional nos EUA significa pertencer a um clube VIP, em que a meritocracia esportiva é, antes de tudo, a meritocracia capitalista (o cara precisa ter dinheiro para ter um clube).

Isso permite que o modelo americano prospere de forma a gerar muita riqueza. Com o modelo fechado de poucos clubes, a concorrência pelo dinheiro, pela atenção do torcedor, pela mídia e pelos patrocinadores é muito menor. Na Inglaterra, por força da grana, a mesma situação começa a ser formada. O clube menor está sucumbindo a um sistema cada vez mais bruto de capitalismo. Tanto que os times que hoje estão na briga pelas primeiras posições da tabela são aqueles que foram vendidos para alguém.

Os próprios ingleses, tradicionalíssimos na arte de torcer, questionam a validade desse modelo. O futebol lá é um programa caro demais. O atleta ganha muito, a TV paga muito, o clube cobra muito para o torcedor fazer parte do show. Agora, para piorar, os clubes foram entregues a donos, muitas vezes bilionários de países emergentes que conseguem, finalmente, fazer parte de um clube seleto.

A Inglaterra copiou tão bem o modelo americano que começa a segregar pela força da grana o seu futebol.

A tal ponto que os ingleses acham que felizes são os alemães, que por força de lei obrigam os clubes a continuarem como entidades associativas tendo a maioria do controle nas mãos dos sócios, e não de pessoas ou empresas.

Na essência o futebol é democrático e de acesso a todos. O acúmulo de riqueza não pode levar à segregação. Esse é o maior drama vivido pela Inglaterra hoje. Por mais que seja impressionante o futebol inglês faturar R$ 20 bilhões só com direitos de transmissão, o modelo que levou a esse assombro é questionado por quem sente, na pele, que não é nada legal não fazer parte de um clube seleto.

O Brasil tem tempo para não cair na pegadinha do capitalismo selvagem promovido pelos ingleses. O duro é saber que tipo de modelo seria mais adequado pela complexidade que existe entre o futebol mais profissional de alguns clubes daquele ainda baseado no que eram os anos 50 e 60, quando só os atletas ganhavam (pouco) dinheiro com o esporte…


Qual o melhor jeito de coibir a violência?
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Erich Beting

Já que uma imagem vale mais do que mil palavras, ficamos com duas, então, que resumem bem de que forma você pode coibir violência nos estádios, fora deles, na sociedade.

Em São Paulo, a Polícia Militar ficou a cargo de tentar resolver a “segurança” de Palmeiras x Corinthians. Em Pernambuco, o Sport e a agência de publicidade Ogilvy tiveram uma outra ideia. Para cuidar da segurança dos seus torcedores, escalou um time de mães para atuarem na segurança (leia a matéria na Globo.com).

 

Não precisa dizer mais nada. Só ver…

No Allianz Parque, torcida em estado de choque... (FOTO: ESPN.COM.BR)

No Allianz Parque, torcida em estado de choque… (FOTO: ESPN.COM.BR)

Torcedor encontra a mãe no meio da Itaipava Arena Pernambuco (FOTO: Pernambuco Press/Globo.com)

Torcedor encontra a mãe no meio da Itaipava Arena Pernambuco (FOTO: Pernambuco Press/Globo.com)


Torcida única é a falência na gestão de eventos no Brasil
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Erich Beting

O problema não é só uniformizado ou organizado, Gavião ou Mancha, Alvinegro ou Alviverde. Falta civilismo. Falta segurança. Falta tolerância. Falta respeito com o outro.

No início do ano, aqui em São Paulo, um funcionário da AES Eletropaulo (companhia de luz) foi sequestrado por moradores que estavam havia três dias sem luz em casa! O cara chegou para verificar o que acontecia na região do Butantã e foi rendido pelos pessoas que mandaram o cara trazer o papa para voltar a dar luz para a região. Não eram bandidos, sequer eram pessoas violentas. Eram cidadãos cansados de não ter o amparo público para as necessidades do cotidiano que, por lei, deveriam ser função do poder público…

Numa sociedade em que um funcionário da companhia de luz é sequestrado por moradores pela falta de luz na cidade, o problema da violência no futebol não pode ser confundido, de forma alguma, com falta de segurança dentro dos estádios!

A violência entre torcidas acontece no metrô, na rua, na chuva, na rua, na fazenda, ou numa casinha de sapé. Mas foi tirada de dentro do palco do show. E por que isso? Exatamente pelo fato de as brigas dentro dos estádios ter sido responsável por criar uma chaga profunda na imagem das torcidas uniformizadas.

O torcedor brigão será, sempre, o mais fanático. O torcedor organizado será, sempre, o mais fanático. Ele é o cara cego pela paixão pelo clube. É o cara que se recusa a comprar produtos Parmalat (no caso do corintiano) ou Pepsi (no caso do palmeirense). O comando das torcidas, porém, impediu que esse cara, por mais irracional que seja quando o assunto é torcida e time, de brigar dentro do estádio.

Quando a câmera de TV ou do fotógrafo flagra a imagem do cara dentro do estádio no meio de uma briga, ele cria uma exposição absolutamente ruim da torcida que ele representa. Sendo assim, por uma questão de imagem, que o cara vá defender as cores e credos da torcida na rua, na chuva, na fazenda ou na casinha de sapé. Mas não no estádio!

E aí é que está o ponto crucial de toda a história.

O problema é que transformamos, ao longo dos anos, o futebol numa guerra. O clima que existe dentro de um estádio não é de celebração, mas de ódio, de inimizade, de luta. É inconcebível pensar que não se pode colocar, juntos, corintianos e palmeirenses dentro de um mesmo espaço. Tão inconcebível quanto um funcionário da companhia de luz ser sequestrado por moradores.

“Essa é a decisão atual, tomada após a morte de um torcedor corintiano [na semana retrasada], trocas de ofensas e ameaças na internet”.

Essa é a resposta dada pelo promotor Paulo Castilho para Ricardo Perrone, em seu bolg no UOL, ao explicar o motivo de ele ter determinado que o jogo entre Palmeiras e Corinthians do próximo domingo tenha torcida única.

Sim. Volte lá para a frase. Decisão “tomada após a morte de um torcedor corintiano”. Ela ocorreu na semana retrasada, supostamente fruto de uma briga entre torcedores de Palmeiras e Corinthians, na zona Norte de São Paulo.

A Arena Corinthians fica na zona Leste da cidade. O Allianz Parque, na zona Oeste. O Morumbi, na zona Sul.

Ao proibir a torcida de um outro time de entrar no estádio, o que a Federação Paulista de Futebol faz, pressionada pelo Ministério Público, é tirar o sofá da sala quando o marido traído vê a mulher com o amante ali naquele maldito móvel.

O maior erro cometido atualmente pelos gestores do futebol é de personificar a briga.

Ela não é fruto das torcidas organizadas, mas de fanáticos que são, diariamente, incentivados a achar que o time de futebol para o qual ele torce é a coisa mais importante da vida dele, a ponto de ele matar ou morrer por isso. É o discurso dos “guerreiros” no vestiário, é a imprensa indignada com a violência, mas dando destaque e incentivando que o dirigente ou o atleta tire sarro de forma pejorativa do time ou da torcida rival.

A irracionalidade do futebol é só mais um reflexo da violência da sociedade.

Fazer um jogo com uma torcida única não vai resolver isso. Pelo contrário, só vai estimular a segregação, o rancor, o jogo de empurra.

Como resolver a violência? É questão de usar a cabeça para propor algo diferente. Que a torcida do Corinthians tenha só crianças no domingo. Que elas não fiquem confinadas num espaço pequeno, correspondente a menos de 10% do bonito e imponente Allianz Parque.

Que essas crianças sejam ensinadas a gostar do bom futebol, independentemente do time que joga, e a ter sempre do lado um amigo do peito que torce para um clube rival. Afinal, a vida é feita de diferenças. E é preciso incentivá-las e, sobretudo, respeitá-las.

O futebol sempre tem a oportunidade de ensinar. A aula deste fim de semana, no Allianz Parque, será a de que a sociedade brasileira não sabe conviver com a diferença e que o poder público é incapaz de garantir a segurança das pessoas. Infelizmente…


O UFC deu um nocaute em si próprio
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Erich Beting


O boxe começou a acabar como esporte popular (aquele que ultrapassa o limite do fanático e chega às pessoas que nunca pensaram que iriam gostar de assistir a uma luta) quando Mike Tyson mordeu a orelha de Evander Holyfield, em 1997. Até então, desde Muhammad Ali, as pessoas tinham contato com a modalidade e se inspiravam por ela, tanto que “Rocky” foi uma das séries de filme que mais teve sucesso nos anos 80.

Tyson havia sido o cara que, nos anos 90, impulsionou ainda mais o boxe para o estrelato. Como a TV passou a investir milhões nas transmissões da luta, o esporte se transformou, realmente, numa oportunidade rara de se ficar milionário. E Tyson era uma espécie de personificação dessa era milionária do boxe. Os cachês pagos pelas suas lutas, a quantidade de produtos vendidos, o estilo agressivo que tinha vez e voz na testosterona acumulada dos jovens. Tudo parecia reluzir no começo dos anos 90.

Mas Tyson foi preso, bateu na mulher, caiu nas drogas, etc. Caiu ao chão para tentar retornar. A luta contra Holyfield foi transmitida para todo mundo, era aguardada por todos, a mídia falava, etc. Tyson mordeu a orelha do oponente, foi desqualificado e, então, tudo virou pó. Além da orelha de Holyfield, quem mais foi atingido pela mordida foi o boxe, que caiu no limbo da selvageria para o gosto popular e voltou a ser restrito para o fanático.

Passamos para 2015. Noite de 31 de janeiro nos Estados Unidos, madrugada de 1º de fevereiro no Brasil. Anderson Silva, o maior lutador de MMA da história, entra no octógono para duelar contra Nick Diaz. O adversário é o de menos. Anderson volta à ativa cerca de um ano depois de ter a perna estraçalhada por um golpe mal dado no oponente. Anderson foi à lona. Tinha, no duelo contra Diaz, a chance de retornar.

Leia mais sobre o doping de Spider: 

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Por doping, UFC deve tirar Anderson do TUF Brasil e já estuda substituto

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Tudo o que você precisa saber para entender o doping de Anderson Silva

A luta contra Diaz foi transmitida para todo mundo, era aguardada por todos, a mídia falava, etc. Por contrato, a Globo exibiu o duelo com atraso para não atrapalhar a venda dos pacotes de PPV. Anderson Silva conseguiu a proeza de obter uma audiência igual à do futebol. Em plena madrugada (relembre aqui)!!!!!!!!! Imagine então quanto o UFC faturou com a venda do pacote pago?

Dois dias depois, numa nota divulgada no fim da noite no Brasil, o UFC afirma que Silva havia sido flagrado em exame antidoping no dia 9 de janeiro. Ou seja, 22 dias antes da luta contra Diaz. Muito provavelmente, o lutador e a direção do UFC já sabiam do doping. Não falaram nada para não deixar o “show” que havia em torno do anúncio da volta do atleta ser cancelado.

O UFC dificilmente vai acabar, assim como o boxe não acabou. Mas, muito possivelmente, só os fanáticos vão querer acompanhar as lutas. O encanto que existia com o esporte foi para o buraco. Não só por causa de Silva. Antes, Jon Jones havia sido flagrado com cocaína e o próprio Nick Diaz testou positivo para a maconha. Nas outras duas vezes, o UFC agiu de forma relativamente rápida para minimizar o impacto na imagem da instituição. Além disso, os dois casos eram de drogas que não alteravam o desempenho do atleta.

Silva, além de ser o cara que popularizou o MMA no mundo, testou positivo para uma droga que interfere no desempenho. E o UFC preferiu jogar no lixo a lisura do esporte em nome do negócio.

Foi um nocaute…


Péricles ou Katy Perry? Paulistão ou Super Bowl?
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Erich Beting

Neste final de semana, tivemos uma amostra evidente do abismo que separa a promoção do esporte nos Estados Unidos do restante do mundo. A realização do Super Bowl 49 deixou bem claro que ninguém é capaz de fazer o que fazem os americanos na grande final do esporte mais popular daquele país.

O show do intervalo protagonizado por Katy Perry lembrou, e muito, a performance da turma da animação “Madagascar” na música Fireworks, de autoria da cantora que comandou a festa no estádio do Arizona. Considerando que, na animação, a criatividade do autor é o limite para ousar no “show”, o que se viu na noite de domingo foi um absurdo.

Em 12 minutos, o Super Bowl deu um tapa na cara de toda a indústria do entretenimento. Criou um show espetacular, fez do gramado um palco para o brilho de uma cantora e, além disso, reforçou para todo o mundo a soberania americana em promover um evento.

O show do intervalo de lá é tão aguardado quanto o jogo, já que costuma apresentar sempre uma inovação para o público em termos tecnológicos com artistas extremamente populares. É assim, principalmente, desde que Michael Jackson decidiu aprontar uma das suas no Super Bowl de 1993, na Califórnia.

Por aqui, não sabemos ainda como tratar o evento esportivo como entretenimento. Nossos gestores olham demais para a bola e se esquecem de ver o que pode ajudar o público a se engajar mais com o espetáculo.

Se bem que sempre há um alento. O Paulistão começou no sábado, por exemplo, tendo o hino nacional tocado em ritmo de samba com o vocal de Péricles, ex-Exaltasamba. E em versão completa! No intervalo ainda houve um show de acrobacias com a bola protagonizada por dois atletas contratados pela Chevrolet, uma das patrocinadoras do torneio.

Já é alguma coisa. Mas é algo tão distante da realidade de um Super Bowl, produzido de forma tão bisonha, que não dá para comparar. Ah, enquanto nos EUA montaram e desmontaram uma apresentação no intervalo da partida decisiva de um campeonato, em São Paulo o jogo começou com 6 minutos de atraso por conta “de evento promovido pela FPF”, segundo o relato do árbitro do jogo.

Katy Perry ou Péricles? É uma questão de gosto musical.

Paulistão ou Super Bowl? Como evento, o que existe é um abismo sem igual…


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