É preciso aprender a treinar para a derrota
Erich Beting
Jogar em casa ajuda ou atrapalha? A pergunta deverá ser feita para praticamente todos os 465 atletas do Time Brasil nesses Jogos Olímpicos. Já vinha, aliás, sendo feita por nós da mídia, vocês da torcida, pela turma de dirigentes, talvez quem sabe até pelo psicólogo do atleta…
Essa inquietação em dar tanta bola assim para a torcida mostra que não estávamos preparados para saber o que fazer com o fator casa nos Jogos Olímpicos. Será que jogar em casa requer mais preparo? Ou menos afobação? É preciso ser coração ou razão? Ansiedade demais ajuda ou atrapalha?
O fato é que o Brasil não sabe perder. Não conseguimos ainda entender a lidar com a frustração da derrota. Com a necessidade de nos explicarmos diante das câmeras, para nossos pais, cônjuges, filhos, muito menos para o nosso travesseiro.
Perder é sofrido. O choro de explosão de Diego Hypólito quando finalmente completou um exercício de solo sem falhas numa Olimpíada é exatamente o reflexo dessa nossa difícil relação com a derrota.
A expressão ''o que é que eu vou dizer lá em casa?'' parece incomodar demais e atrapalhar demais o atleta.
Deve ser cultural. Somos um povo que acredita que os problemas se resolvem quando encontramos o culpado. É só apontar o dedo que, milagre, resolvemos as coisas. E isso passa a ter um reflexo direto na condução da atitude de nossos atletas, especialmente quando joga em casa.
Foi a crucificação de Rafaela Silva em 2012, para o cala-boca de 2016. E se Rafa não tivesse vencido agora? Ela estaria preparada para nova frustração olímpica? E nossa torcida, saberia perder junto com ela?
Novak Djokovic chorou copiosamente ao cair para Del Potro na primeira rodada do tênis. Minutos depois, refez-se publicamente da desilusão, disse que as derrotas faziam parte, mesmo as mais doloridas, declarou-se feliz pela conquista de seu amigo argentino que volta e meia sofre com lesões. Ele sabia que um novo dia começaria. Já está pelo Rio aproveitando um pouco a indigesta folga para torcer por atletas do seu país.
Por aqui, nossos atletas mostram que ainda não sabem lidar com a frustração da derrota. Cesar Cielo, que era a grande aposta do mercado publicitário, sumiu após não se classificar para o Rio. Rodrigo Pessoa abandonou o time de hipismo ao saber que seria suplente. Alguns atletas têm evitado dar entrevistas quando as coisas não saem como o planejado (o time de futebol antes dos 4 a 0 é um dos exemplos disso).
O atleta precisa estar preparado para a derrota. Não é ensaiar o discurso e ser vazio ao responder sobre ela quando questionado. Um grande atleta precisa saber se comunicar. Sumir diante do problema é só mais uma prova de que ele não sabe perder. Os Jogos no Brasil podem ser uma ótima oportunidade para mudar essa falha histórica.
Temos de treinar não apenas para vencer. Mas para saber o que fazer quando perder. Passar a mão na cabeça do atleta e evitar sua exposição para falar sobre uma derrota é só um desserviço que nossos gestores fazem para o desenvolvimento do esporte no Brasil.