Negócios do Esporte

Jogo de valores só complica definição da TV do Brasileirão
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Erich Beting

O Grêmio foi o primeiro clube a publicamente anunciar o acerto com a Globo para a transmissão de seus jogos do Campeonato Brasileiro pelos próximos quatro anos. Os detalhes do acordo, porém, não foram revelados, o que iniciou uma queda de braço e um corre-corre entre os próprios clubes para saber o quanto realmente entrará nos cofres gremistas.

Na noite desta quinta-feira, a Record aproveitou para jogar mais lenha na fogueira, dizendo que registraria em cartório ofertas para Corinthians e Flamengo no valor de R$ 100 milhões ao ano cada uma pela transmissão apenas na TV aberta dos jogos dos dois times no Brasileirão. A estratégia da Record é mexer com a cabeça de outros clubes que ainda não fecharam com a Globo e de jogarem nas costas dos dois primeiros dissidentes do Clube dos 13 a responsabilidade de, talvez, fecharem por um valor menor seus contratos de TV (leia a reportagem completa aqui).

Esse é o primeiro reflexo da instabilidade que vai tomar conta do futebol brasileiro nas próximas semanas, enquanto essas negociações continuarem.

Uma coisa é certa. A Globo tem balizado suas negociações conforme uma realidade de mercado. O Grêmio não vai conseguir triplicar suas receitas com TV neste momento, uma vez que a Globo tem trabalhado com ofertas próximas do dobro do que era ganho pelos clubes, o que seria o cenário ideal imaginado pelo C13 quando abriu a licitação pelos direitos.

A implosão do C13 está mais do que certa. O problema é conseguir reunir todo mundo e juntar os cacos de negociações frustradas e pouco transparentes depois disso. Apesar de todos os absurdos de princípio da entidade que representava até pouco tempo os 20 clubes de maior torcida do Brasil (o que já era, de partida, um erro, por não ser representativo dos 20 clubes da Série A do Brasileiro), fatalmente o futebol brasileiro dá um passo para trás.

Tal qual o mercado de patrocínio dos clubes, que é dominado pela total falta de transparência e amadorismo na relação dos valores envolvidos, agora a televisão também caminha para esse processo. Para o torcedor comum, talvez isso pareça não significar qualquer problema, já que, iludido pelas declarações pouco responsáveis dos dirigentes, cifras mágicas parecerão a mais pura verdade.

Só que o mercado tem cada vez mais deixado de ser amador. Não existe empresa que acredite em declarações efusivas de valores totalmente fora do padrão.

A discussão da TV se perde, mais uma vez, nos valores que A, B ou C ganham, dizem que ganham ou acham que deveriam ganhar. O torcedor quer contar vantagem do rival na conversa de bar, dizendo que seu clube vale mais que o do outro. Mas ele não consegue entender que, quando não existe união entre os clubes em negociações, quem perde são os próprios clubes. Principalmente porque, a partir de agora, quase nada do que se falar em termos de valores de contratos de TV é verdade.

E, nesse sentido, complica-se cada vez mais o cenário para que tenhamos uma definição de qual emissora exibirá a competição no ano que vem. E aí será complicado para o torcedor entender que o orgulho de ver o time ganhar mais poderá significar que ele simplesmente não conseguirá acompanhar seu time pela TV a partir de 2012.

O cenário continua absolutamente enevoado. Era tudo o que as TVs precisavam para não gastar tanto com o produto futebol e, mais do que isso, perpetuar a desunião entre os clubes, o que só enfraquece o poder de negociação dos times, fazendo com que o melhor produto para a televisão brasileira valha muito menos do que poderia.


Jornal italiano dá show em ativação de patrocínio
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Erich Beting

A Gazzetta Dello Sport é um dos mais tradicionais jornais italianos. Leitura obrigatória num país fanático pelo esporte e, especialmente, pelo futebol, a Gazzetta fez uma ação no último final de semana antes do jogo entre Milan e Bari, em Milão. Confira no vídeo abaixo como eles conseguem levar até a última instância o conceito de ativação de uma propriedade dentro do esporte.

A brincadeira foi contratar atores que, vistos de longe, se parecessem com os atletas que, dali a alguns minutos, entrariam em campo para o jogo. A ideia era mostrá-los fazendo mais coisas do que apenas jogar futebol, revelando o caráter ''poliesportivo'' do jornal italiano.

Enquanto, por aqui, as marcas ainda confundem ativação de patrocínio com lançamento de promoções via redes sociais, esquecendo-se que o mais importante é o evento esportivo, por lá a Gazzetta usou exatamente o estádio para criar algo diferente. Depois de feita a ação, o marketing viral entrou em cena, fazendo com que a iniciativa se perpetuasse pelas mídias sociais (o Youtube é um dos exemplos).


Se fosse aqui…
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Erich Beting

A festa na Trafalgar Square foi perfeita. Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador Local dos Jogos Olímpicos de 2012 atuou como o grande mestre de cerimônias do evento de lançamento do relógio com a contagem regressiva para o início das Olimpíadas de Londres.

A festa marcou o início da contagem dos 500 dias para que Jogos comecem, e obviamente patrocinadores, autoridades e organizadores estavam a postos para mostrar a grandiosidade, pontualidade e eficiência londrina na gestão do evento.

Só que o relógio, fabricado pela marca suíça Omega, apresentou problemas na madrugada desta terça-feira. A contagem começou perfeita. Mas o relógio parou de funcionar na marca dos 500 dias, 7 horas, 6 minutos e 56 segundos para o início do evento. O problema foi sanado pouco depois, como mostram as fotos abaixo.

Uma tremenda falha, que não compromete os Jogos, mas que deixa aquela sensação no ar.

Ah, se fosse por aqui…

O relógio, na hora do lançamento, com sua pontualidade britânica

E os técnicos arrumando o relógio já na tarde desta terça-feira


Venda individual faz Espanha ganhar menos com TV
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Erich Beting

Das cinco maiores ligas de futebol da Europa (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália), aquela que proporcionalmente ganha menos com a televisão é a que não possui um contrato coletivo para a venda dos direitos de transmissão.

O levantamento, feito pelo blogueiro por meio de fontes oficiais e pesquisa na internet, levou em conta apenas as ligas que mais dinheiro movimentam na Europa e também que passaram, de uma forma ou de outra, por ações na Justiça por discussão sobre modelo de negociação dos direitos.

Como já falei por aqui há algum tempo, em diferentes períodos nas duas últimas décadas, a Europa debateu qual deveria ser o melhor modelo para negociação dos direitos de TV dos seus campeonatos.

O primeiro choque aconteceu em 1999, na Inglaterra, quando o sistema de venda por meio da liga foi questionado, tendo a Justiça britânica decidido que esse era o meio de garantir o ''maior interesse público'' para o consumidor. O embate mais recente foi há dois anos, quando a União Europeia passou a defender a venda coletiva como a mais correta para garantir aos clubes um maior equilíbrio na sua geração de receitas.

E os números mostram claramente isso. Nas cinco maiores ligas da Europa, a Inglaterra, que há mais tempo adota a venda coletiva, tem disparado o melhor contrato de TV.

A Espanha, que até 2015 seguirá com a venda individual, fica com a quarta posição, mas com um detalhe importante. Dos 550 milhões de euros que são arrecadados pelos espanhois, 300 milhões ficam para Barcelona e Real Madrid. Ou seja, mais da metade se concentra com dois times, não a toa os dois únicos que disputam o título. A tendência é que a Espanha ainda vá para o último lugar da tabela, a partir de 2013, quando os alemães renegociam seu contrato de TV.

Veja os detalhes abaixo.


Caos no C13 já preocupa venda internacional do Brasileiro
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Erich Beting

O caos em que se transformou a negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro já respinga na venda de direitos internacionais do Brasileirão. Com o impasse, o Clube dos 13 não tem atendido às solicitações de empresas interessadas na aquisição dos direitos para países do exterior. Algumas já estão temerárias em conseguir negociar e, além disso, receber o sinal para a transmissão internacional.

Esse é apenas um dos reflexos do fim da negociação em conjunto dos direitos de transmissão do campeonato. Da mesma forma, a vitória da RedeTV! na licitação de hoje deve acabar tão logo termine a implosão do C13. Hoje, a entidade representa apenas 5 dos 20 times que jogam a Série A do Campeonato Brasileiro.

A desunião é ruim para todos. Até mesmo para quem vence uma concorrência sem representatividade.


O alerta do futebol italiano para o Brasil
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Erich Beting

Nenhum clube entre os 16 que ainda disputam a Liga Europa, e apenas a Internazionale com remotas chances de alcançar as quartas-de-final da Liga dos Campeões. O resultado dentro de campo dos times do futebol italiano reflete a desordem que o país vive na gestão de seus clubes.

Há 20 anos, a Itália era o centro do futebol mundial. O Campeonato Italiano tinha as grandes estrelas da bola (Maradona, Gullit, Van Basten, Baresi, Maldini, Careca, Matthäus e Klinsmann eram alguns dos craques que jogavam no Calcio), o país era sede da Copa do Mundo de 1990 e vivia uma ebulição com a reforma e construção de estádios. Nada parecia dar errado no país da Bota. A atratividade do Italiano fez com que o mundo inteiro se acostumasse a acompanhar os jogos do Calcio, eternizando os times de Napoli, Milan, Juventus e Inter na cabeça dos torcedores.

Hoje, porém, a Itália é a síntese da decadência na gestão do futebol. Enquanto Inglaterra e Alemanha sobram nos campeonatos da Europa e assistem a ligas com alta presença de público, alternância de campeões e fidelidade do consumidor, a Itália definha.

E esse talvez seja o maior sinal de alerta para a gestão do futebol no Brasil.

A época áurea do futebol italiano é, em muitos aspectos, similar ao momento atual do futebol brasileiro. Dinheiro muito alto injetado pelas emissoras de televisão, pouca preocupação com o conforto do torcedor e, principalmente, com o controle de gastos. Para piorar, o controle dos clubes dos Calcio pelas grandes famílias italianas tem feito com que pouco se altere nesse cenário. A Itália parece, hoje, ter parado no tempo, achando que o futebol seria eternizado naqueles já longínquos anos 80 e 90.

Não é mais possível pensar em futebol saudável do ponto de vista financeiro sem o torcedor ser colocado como o principal cliente de um clube. É ele quem garante a geração de receitas e, com isso, possibilita às equipes formarem times vitoriosos. Foi esse raciocínio que alavancou o Manchester United nos anos 90 e que puxou a fila de recuperação do futebol inglês, hoje detentor da liga mais poderosa da bola. Até mesmo os multimilionários que tomaram conta de parte dos clubes da Inglaterra sabem que o segredo do sucesso passa em dar um tratamento diferenciado ao torcedor.

Na Alemanha, a revolução começou há cerca de dez anos, com o início da reforma dos estádios para a Copa do Mundo. O alemão percebeu que o futuro da Bundesliga está na melhoria dos estádios e do oferecimento de bom espetáculo para a torcida. O Schalke 04 já carimbou vaga nas quartas-de-final da Liga dos Campeões, e o Bayern, finalista da temporada passada, está muito próximo de eliminar a atual campeã.

Além disso, a boa performance alemã nas competições europeias fará com que o país, a partir do ano que vem, passe a ser agraciado com mais uma vaga na Liga dos Campeões. Não à toa, foi a Itália quem perdeu essa vaga que migrou para o futebol alemão.

O Brasil fará, em dois anos, seu maior evento de futebol na história. Reformará e construirá estádios, o que trará mudanças no relacionamento com o torcedor no futuro. Só que temos de olhar se queremos ser uma Itália ou uma Alemanha. Estádios modernos só darão certo com conceitos modernos de gestão. Do contrário, nada mudará na estrutura do futebol do país.


Supermercado leva carrinho de compras para corrida de rua
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Erich Beting

Da série ''não basta patrocinar, tem de ativar'', a cidade de São Paulo terá neste final de semana uma ação interessante da rede de supermercados Walmart na prova que abre a temporada 2011 do Circuito de Corridas Corpore. Para quem não sabe, a Corpore é a maior organizadora de provas de corrida de rua na cidade que mais realiza eventos desse tipo.

O Walmart decidiu realizar, paralelamente ao evento, uma corrida de 100m em que o prêmio para o vencedor é um carrinho de compras recheado de produtos com a marca própria da rede. Em meio ao palco montado para receber o evento, a prova será realizada com as pessoas correndo levando o carrinho de rua pela distância de 100m. Aquele que percorrer o caminho no menor tempo, leva o prêmio.

A iniciativa é bacana. Faz com que a marca não passe como ''mais uma'' dentre os patrocinadores da prova. Num mercado em que a Corpore organiza mais de 50 provas ao ano, é uma forma de não ser mais do mesmo. E, também, com o agravante de chegar com muito atraso em relação aos concorrentes (o Pão de Açúcar tem quatro provas próprias em todo o país e investe desde o início dos anos 90 nas provas de rua), é uma forma de tentar dar um diferencial para o corredor.

O único risco, porém, é a saturação do mercado. Do jeito que as corridas de rua já estão virando lugar-comum no mercado paulistano, conseguir ser diferente está cada vez mais difícil.


Copa monopoliza receitas da Fifa
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Erich Beting

A Fifa divulgou nesta quinta-feira o seu balanço financeiro do último ciclo da Copa do Mundo. Em resumo, a competição é responsável pela geração de quase 90% das receitas da entidade. Dos US$ 4,2 bilhões arrecadados nos últimos quatro anos, US$ 3,7 vieram da competição.

A força da Copa é impressionante. Apesar de realizar diversos outros campeonatos, a Fifa se sustenta graças ao torneio entre seleções. E, dentro das receitas da Copa do Mundo, o que mais faz a diferença é a TV. Mais de US$ 2 bilhões vem da venda de transmissão para todo o mundo do campeonato, sendo que a Europa banca metade dessa conta.

Porém, de tudo isso que a Fifa arrecadou, apenas US$ 348 milhões foram distribuídos para as 32 seleções participantes do Mundial. Se a moda brasileira pega, imagine o impasse que haveria pela venda de direitos de TV da Copa de 2014?


O exemplo é o basquete
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Erich Beting

Toda a infrutífera discussão entre clubes, Globo, Record e Clube dos 13 poderia ser evitada se o futebol brasileiro olhasse o exemplo que vem do basquete. Em 2005, com o racha entre clubes e CBB, uma parte dos times que disputavam o Nacional de basquete decidiram criar um torneio paralelo.

A CBB não reconheceu oficialmente a NLB (Nossa Liga de Basquete), que era liderada ''apenas'' por Oscar, Hortência e Paula, três dos maiores ícones do esporte da bola laranja no país.

O resultado foi que, durante três anos, o basquete brasileiro encontrou um impasse. O racha foi necessário para tirar das mãos da CBB o desmando sobre o Nacional, mas levou para a lona um dos esportes mais populares do Brasil.

Hoje, sob a batuta da LNB (Liga Nacional de Basquete), que é comandada pelos clubes, a modalidade conseguiu buscar novos patrocínios, um acordo de TV que antes não existia e trabalhar para fortalecer cada vez mais a competição.

O futebol é extremamente forte e sem dúvida não sofrerá tanto quanto o basquete com ausência de patrocínio e de televisão interessada em transmitir seu campeonato. Mas seria uma ótima oportunidade olhar o exemplo do basquete antes de cada um querer sair correndo preocupado em seu próprio umbigo.


CBF pode dar palavra final sobre TVs
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Erich Beting

Está no Regulamento Geral de Competições do futebol brasileiro:

''Art. 89 – A transmissão de TV das partidas das competições, de forma direta ou por video-tape, só poderá ser realizada mediante prévia e expressa autorização da CBF, salvo se o assunto estiver formalmente definido através de contrato firmado entre as partes legitimamente envolvidas.''

Com o imbróglio entre os clubes longe de um fim, o caminho está aberto para que a CBF passe a dar a palavra final sobre todo o enrosco no qual se encontra os bastidores da política do futebol brasileiro. O problema é juridicamente entender o que pode vir a significar ''entre as partes legitimamente envolvidas''.

Em março de 2009, a FBA (Futebol Brasil Associados), que cuidava da gestão comercial da Série B do Brasileirão, foi destituída da função pela CBF que, de uma hora para outra, passou a ser única responsável pela comercialização do campeonato. Não havia nem sombra do racha atual que paira sobre o Clube dos 13.

O caminho para o C13 deixar de existir está mais do que aberto. O enrosco causado pelas TVs é só o motivo encontrado para isso. Resta saber se a atitude viria a ser tomada ainda este ano, ou se a CBF esperaria terminar o atual contrato em vigência do Brasileirão.

Independentemente do caminho a ser tomado, perdem os clubes, que ao seguirem sem um conceito coletivo de negociação, perdem força de barganha com as TVs e ficam sem saber como será 2012. Até mesmo eventuais patrocinadores do campeonato do ano que vem colocam, hoje, o pé no freio. O problema é que a verba está disponível. E, se uma definição não aparecer, vai tomar outro destino.