Negócios do Esporte

Megaeventos levam fabricantes a mudarem comando
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Erich Beting

Primeiro foi a Nike, que mudou o controle do escritório brasileiro. Agora, a Adidas acaba de anunciar a troca de comando da subsidiária do país que receberá a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos nos próximos cinco anos (leia aqui).

O movimento sobre as duas principais fabricantes de material esportivo do mundo se explica exatamente pelos grandes eventos.

O olho das matrizes das grandes empresas globais finalmente se volta para o Brasil. E isso tem gerado, nesse primeiro momento, a colocação de executivos de confiança das empresas nos postos mais importantes das subsidiárias brasileiras.

A estratégia, porém, pode significar, no curto prazo, um período de adaptação para essas grandes marcas. No caso da Adidas, a operação passará a ser comandada por um executivo sem experiência no país. No da Nike, um profissional que não fazia parte da empresa agora cuida do escritório brasileiro.

Para além dos cargos de chefia, porém, as mudanças ainda não são tão significativas. Mas, certamente, no médio prazo novos postos de trabalho devem surgir por conta do aumento de demanda dos megaeventos.

A pergunta ainda sem resposta é qual será o tamanho do mercado brasileiro de esporte depois que a festa passar. Do jeito que está, o risco da ressaca gerar uma leve dor de cabeça é cada vez maior.


O negócio nunca é maior que o esporte
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Erich Beting

Neymar foi expulso no jogo do Santos contra o Colo-Colo por vestir uma máscara na comemoração de seu gol. Em meio a discussões acaloradas sobre a regra do jogo em si, um importante detalhe só foi ser debatido na manhã desta quinta-feira.

A máscara que o jogador vestiu fazia parte de uma nova ação de marketing da Nextel, patrocinadora do jogador (leia os detalhes aqui).

Além do erro do jogador, que mais uma vez provou não estar maduro o suficiente para conhecer as regras de jogo, o caso mostra o quanto as empresas precisam amadurecer quando investem no esporte.

A regra básica deve ser respeitada: o melhor negócio do esporte É o esporte. Não dá para estar acima dele. O negócio nunca pode ser maior do que a essência, que é o esporte.

A Nextel teve uma boa sacada. Queria distribuir a máscara entre os torcedores santistas presentes à Vila Belmiro e, assim, valorizar o seu atleta patrocinado.

Aí é que entra a especificidade do marketing no esporte. Para uma estratégia ser plenamente bem realizada, é preciso não só saber de marketing, mas também ter conhecimento das regras do esporte.

Qualquer um mais entendido saberia que Neymar seria advertido por colocar a máscara. Desde 2007 a Fifa determinou essa regra para acabar com o festival de mensagens dadas pelos atletas nas comemorações de gols.

Aí entra o problema do patrocinador e do atleta não-preparados para atuarem com o negócio do esporte. Ambos desconheciam dessa regra. E o bom negócio de marketing, no final das contas, mostrou ter sido, pelo menos esportivamente, um péssimo negócio.


Eike e o novo patamar que o vôlei precisará atingir
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Erich Beting

Eike Batista colocará R$ 13 milhões para criar um time de vôlei no Rio de Janeiro. A entrada do bilionário no mercado deve exigir que o vôlei atinja um novo patamar. Nem tanto por se tratar de um empresário bem sucedido passando a ser dono de um time, mas principalmente porque a criação do RJX vai elevar ainda mais os preços no já encarecido vôlei brasileiro.

Hoje, manter um time de ponta no Brasil é tarefa para muitos poucos clubes. Agora, a tendência é que a história deixe de ser uma brincadeira de alguns para se tornar um negócio sério para privilegiados.

O primeiro reflexo dessa nova realidade é o acordo entre Sky e Cimed. As duas empresas vão investir, juntas, mais ou menos o que Eike gastará no Rio de Janeiro para o seu time.

E aí é que entra essa necessidade de ''reinvenção'' do modelo de negócios dos times de vôlei. Até pouco tempo atrás, os times buscavam um patrocinador que pagasse as contas e davam-se por satisfeitos. Soma-se a isso uma condição peculiar do esporte, em que metade do ano o atleta está a serviço da seleção brasileira, e a estruturação do vôlei em clubes no Brasil sofria um grave problema.

Foi por isso que, desde os anos 80, observamos diversas empresas entrarem e saírem do esporte, vários projetos simplesmente acabarem de uma noite para a outra e, no final das contas, muita culpa sendo colocada na mídia, na empresa, na pressão pelo resultado.

Só que para o vôlei, agora, não bastará mais um patrocinador pagando as contas. O projeto precisa ser mais consistente, ter um trabalho de detecção e formação de talentos, ter envolvimento com a cidade local, ter geração de fontes de receita com o torcedor, ter mais de um patrocínio.

Não, tudo isso não é fruto da entrada de Eike Batista no esporte. Longe de ser um visionário, ele também não é um aventureiro. Mas, já há pelo menos cinco anos, a manutenção de uma equipe de ponta no vôlei passou a exigir, pelo menos R$ 5 milhões ao ano de orçamento. É muito para uma empresa só.

Nesse caminho, o Vôlei Futuro representa, de uma maneira ou de outra, o futuro do vôlei. Até então, a equipe de Araçatuba, no interior de São Paulo, era a única a não depender de uma fonte única de sobrevivência. Os ginásios lotados, o envolvimento da população local na compra de produtos do clube, a presença de diversas marcas apoiando a formação de talentos. Tudo isso já foi projetado desde a criação do time. E, agora, os resultados começam a ser colhidos na Superliga.

A criação do RJX apenas vai exigir que os clubes reestruturem o seu modelo de negócio. Do contrário, será cada vez mais improvável encontrar uma única empresa que tope pagar toda a conta, cada vez mais cara, de um time.


O poder da TV sobre o esporte
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Erich Beting

Na manhã desta sexta-feira, a assessoria de imprensa do Vôlei Futuro, que disputa as semifinais da Superliga masculina de vôlei, enviou um comunicado informando que um técnico e um produtor da Rede Globo aprovaram o uso do ginásio Plácido Rocha para o segundo jogo do playoff contra o Sada/Cruzeiro. A decisão permitirá que o Vôlei Futuro jogue em sua cidade, Araçatuba (a cerca 500km da capital do estado, São Paulo), em vez de ter de mandar a partida para Barueri.

A história, porém, mais do que significar um ganho esportivo para o Vôlei Futuro, reflete uma realidade absolutamente comum ao esporte em todo o mundo, mas que muitas vezes recebe ferozes críticas dos torcedores.

A mídia e, especialmente, a televisão, tem um enorme poder de influência sobre o esporte. Desde que a TV passou a ser o principal meio de propagação e de financiamento das modalidades esportivas, ela naturalmente se transformou numa das maiores ''tomadoras de decisão'' nas competições.

Em 2008, os Jogos Olímpicos de Pequim mudaram o horário das finais da natação (geralmente realizadas no período da noite, elas passaram para o horário matutino) para atender às exigências das emissoras americanas que exibiam as Olimpíadas. O recorde de oito ouros de Michael Phelps, assim, foi visto sempre no horário nobre dos lares americanos.

No caso do vôlei brasileiro, a Superliga já havia conseguido uma grande vitória ao chegar a um acordo com a Globo para a transmissão, em TV aberta, das semifinais da competição masculina.

Para isso, porém, a emissora havia determinado que precisaria fazer os quatro jogos em São Paulo, pela praticidade de os ginásios da cidade e região metropolitana em abrigarem a estrutura de uma transmissão de TV. Com a exceção aberta ao Vôlei Futuro, a tendência é que a decisão do título seja exibida independentemente do local de partida.

No basquete, a liga de clubes também decidiu fazer apenas um jogo final para a decisão do título da NBB em troca da exposição na TV aberta. No futebol, o início dos jogos às 22h também atende aos interesses da Globo.

O que muitas vezes o torcedor não consegue entender é que a TV é, hoje, a fonte de maior repercussão de uma modalidade esportiva. Com o apoio da mídia, o clube muitas vezes consegue negociar melhores contratos de patrocínio por conta da exposição gerada nos jogos. O torcedor que vai ao evento esportivo é importante, sem dúvida, mas o gestor de um clube também tem de olhar outra parte fundamental hoje do esporte, que é a mídia.

O poder da TV sobre o esporte é realidade desde a primeira transmissão ao vivo. O esporte não pode simplesmente ignorar essa influência, mas também não pode ser plenamente obediente a ela. Para isso, porém, quanto menor a dependência da exposição e do dinheiro da TV, melhores condições existirão para que a força da mídia não signifique poder total sobre o evento. O caminho para isso, porém, ainda é longo e, principalmente, difícil para ser percorrido.


Dois pesos, duas medidas
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Erich Beting

Na terça-feira, uma festa para dezenas de milhares de torcedores. Dois dias depois, um evento teoricamente fechado para a imprensa, sem muito alarde. A diferença dos tratamentos dispensados por São Paulo e Corinthians nas apresentações, respectivamente, de Luis Fabiano e Adriano se justifica pela diferença de importância de ambos no cenário atual do futebol.

Luis Fabiano volta ao Morumbi com a expectativa de quem foi ''o cara'' da seleção brasileira nos últimos anos. Já Adriano vai para o Corinthians com a expectativa de ser ''o cara'' das confusões.

Não tem como fugir desse cenário, tanto que sabiamente o alvinegro optou por não tentar concorrer com o rival pelos holofotes e festejos de torcedores na apresentação de seu reforço. É bem da verdade que a diretoria do Corinthians relutou ao máximo, mas acabou prevalecendo o bom senso.

Só que os diferentes pesos e medidas, muito provavelmente, param por aí na contratação dos dois estrelados, mas envelhecidos, jogadores.

Desde a bola dentro corintiana com Ronaldo, no apagar de 2008, comecinho de 2009, que os clubes de futebol do Brasil acreditam ser ''fácil'' repatriar uma grande estrela para o seu time.

Esquecem-se os clubes, porém, que mesmo Ronaldo, talvez o maior ídolo do futebol nacional da última década, demorou a engrenar no Corinthians. E a demora, aqui, não é técnica, mas sim comercial. Os anunciantes ''viram para pagar''. Antes de despejar milhões no clube, as empresas esperaram para ver se Ronaldo tinha ainda fôlego e poder de atração da mídia que justificassem o investimento.

Desde então, diversos clubes adotam o ''milagre'' do marketing como ferramenta para pagar a contratação de um grande astro. Luís Fabiano e Adriano, porém, não são personagens amplamente sacramentados no mercado anunciante. É só reparar que, na Copa de 2010, ''Fabuloso'' só estrelou a campanha guerreira da Brahma, enquanto Robinho anunciou para Samsung, Volkswagen e Seara. Adriano, em declínio técnico, nem sequer foi lembrado pelos investidores.

O primeiro passo dos dois times, porém, foi acertado. Luís Fabiano empolga a torcida do São Paulo a ponto de levar milhares na terça-feira à noite para o estádio do Morumbi (a bem da verdade, o clube não cobrou pela entrada). Adriano é tão incerto que já na entrevista coletiva para a imprensa causou confusão (não por interesse próprio, mas infelizmente essa é a sina do ''Imperador'' nos últimos anos).

O melhor marketing para os dois, agora, é entrar em campo e fazer gols. Esperar um novo Ronaldo é tarefa mais do que improvável. O peso do Fenômeno, literalmente, é outro.


Levir Culpi dá o exemplo no Japão
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Erich Beting

Acabamos de entrevistar o técnico Levir Culpi no Bandsports durante a transmissão do amistoso da seleção do Japão contra o time de estrelas da J-League, a liga de futebol do país asiático devastado pelo terremoto do último dia 11 de março.

Levir está morando em Osaka, cidade onde acontece o amistoso e que não sofreu com o abalo no solo japonês.

No bate-papo, o treinador do Cerezo Osaka disse que foi procurado por Santos e Fluminense para voltar ao Brasil. Depois de pensar, recusou o convite.

''Não é o momento de fazer isso. Achei que não seria correto deixar o país. Jogamos apenas uma partida da J-League e, mais do que isso, achei que deixaria uma péssima imagem se resolvesse deixar o Japão, pareceria um momento de fraqueza. E isso fecharia o mercado para mim e para outros treinadores brasileiros aqui no Japão'', disse Levir.

Uma aula de ética dada por ele. E, muitas vezes, é isso que falta ao futebol, especialmente no Brasil. Sermos mais éticos, entendermos que não é sozinho que se constrói as coisas.

Ah, Levir também contou que está escrevendo um livro com o título ''Um burro com sorte''.

Uma brincadeira, claro, com a maneira como era ''gentilmente'' tratado pelos torcedores no Brasil. Mas o mais curioso foi quando ele relacionou a reconstrução japonesa após o desastre do início deste mês com a incompetência brasileira em gerenciar a Copa do Mundo.

''O Japão foi reconstruído após a guerra baseado na educação de seu povo. E aí fica a dúvida quanto à imagem que o Brasil está passando para o mundo com a Copa. Teríamos uma grande chance de mostrar que somos um país sério''.

Pois é, Levir. Infelizmente, ética é uma palavra que anda em falta por aqui.


O cara – 2
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Erich Beting

Atendendo a pedidos, minha visão sobre o goleiro-centenário-artilheiro! O texto foi publicado na Universidade do Futebol nesta segunda-feira. E o leitor mais atento deve ter visto que a história do Djokovic foi ao ar no sábado, antes do clássico entre São Paulo e Corinthians.

Cemsacional

Rogério Ceni, Rogério Cem, Rogério 100ni.

A história escrita na tarde de domingo na Arena Barueri foi digna daqueles grandes acontecimentos do futebol. Fim de tabu, centésimo gol marcado por um goleiro, defesas espetaculares, rivalidade à flor da pele, expulsões, discussões…

Tudo contribuiu para surgir uma grande história, daquelas que passam de geração para geração, que fará com que, no futuro, a Arena Barueri tenha tido mais de 500 mil espectadores naquele 27 de março de 2011.

E no centro de tudo isso estava o camisa 1. Goleiro que também é artilheiro, goleiro-artilheiro centenário, como nunca antes na história do futebol aconteceu e que, muito provavelmente, ele vai inspirar novas gerações a buscarem essa história.

Rogério que sabe se posicionar como poucos. Não só dentro da meta, mas especialmente nas entrelinhas, nas entrevistas, nas cutucadas a rivais e a mazelas contra o seu São Paulo.

Rogério que faz questão de ser diferente. Que vestia a 01, para provar que não era um simples camisa 1. E que agora passa a envergar o uniforme com o número 001 às costas, alusão direta ao centésimo tento anotado e ao marketing brilhante que a Reebok costuma fazer com o Tricolor paulista.

Rogério que faz valer o bordão “quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho”. Porque há 15 anos se especializa em fazer gols de falta, treinando à exaustão as cobranças e, mais do que isso, estudando comportamento de goleiros adversários para saber como fazer o gol.

Rogério que é obcecado pela perfeição, tanto que no jogo que consagrou sua artilharia fez uma defesa para Gordon Banks nenhum colocar defeito. Defeito que ele pode até ter visto na madrugada de domingo para segunda-feira, em sua casa, revendo onde acertou e onde errou no jogo que ficará para sempre na memória.

Foi Cemsacional.


O cara
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Erich Beting

Dentro de quadra, Novak Djokovic segue uma trilha para completar o melhor início de temporada do tênis mundial (são 19 vitórias em 19 jogos neste ano de 2011). Fora dela, o sérvio começa a dar sinais que, em breve, também baterá um recorde atrás de outro. Carismático, Djokovic tem se tornado cada vez mais o astro que faltava para o tênis mundial.

Polarizado em Federer e Nadal, o tênis tinha de encontrar uma nova cara, de preferência mais ''rebelde'' para conseguir chocar e produzir notícia. Ao que tudo indica, Djokovic é o cara. Basta ver a promoção que ele fez com a Head, sua fornecedora de raquetes, antes e durante o Masters 1000 de Miami, iniciado na última semana.

Para promover a nova raquete, o sérvio ''disputou'' uma partida em cima de um avião, como mostra o vídeo abaixo. Dias depois de o vídeo ser lançado, ele apareceu caracterizado de piloto antes da estreia em Miami (venceu o jogo por 6/0 e 6/1), como é possível ver logo depois do vídeo.

Com o desempenho em quadra cada vez melhor, a tendência é que Djokovic seja o novo astro publicitário do tênis mundial.


BTG Pactual dá novo alento a estádio do Palmeiras
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Erich Beting

Na semana passada foi oficializada a compra de 65% da WTorre pelo BTG Pactual, fundo de investimentos que tem se especializado na aquisição de empresas com grande potencial de negócios porém com grande risco para a concretização dos mesmos. Para ilustrar bem isso, vale lembrar que foi o BTG quem comprou o Banco Pan-Americano de Silvio Santos.

A concretização do negócio é vista no mercado como uma espécie de ''salvação'' do novo estádio do Palmeiras. Endividada, havia receio de que a WTorre não conseguisse terminar as obras da Arena Palestra Itália. No ano passado, a tentativa frustrada de a construtora lançar ação em bolsa era vista como mais um indício de que a reforma do estádio palmeirense corria o risco de se tornar uma lenda.

Dentro do próprio Palmeiras, a chegada do novo parceiro é considerada benéfica, já que daria mais credibilidade ao mercado para o projeto. Ainda assim, o clube e a Traffic continuam a trabalhar em busca de uma empresa para a compra do naming right do estádio. A oferta de R$ 10 milhões ao ano por dez anos ainda encontra dificuldades para ser aceita no mercado. Mais de cem empresas foram procuradas até agora, porém menos de dez demonstraram interesse no negócio.

Vale lembrar. No futebol, o melhor acordo de patrocínio de um estádio é o da Allianz com o Bayern, na Alemanha. Para dar nome à arena do time alemão, a seguradora gasta 6,5 milhões de euros ao ano. Ainda incipiente no Brasil, não existe um parâmetro para um acordo de naming right no país. O balizamento só deve vir com o surgimento de negócios a partir das praças que estão sendo construídas agora.


Brasil segue na contramão dos negócios
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Erich Beting

No mesmo dia em que o Corinthians anunciou o acordo com a Rede Globo para a transmissão dos jogos do Brasileirão de 2012 a 2015, o presidente da Uefa, o ex-jogador Michel Platini, disse que as seleções europeias não poderão mais vender separadamente os seus jogos para a TV. A justificativa de Platini é simples: só assim o futebol pode se desenvolver melhor em nações menores ou com menor poder de atração para a telinha.

Por aqui, continuamos a remar contra o óbvio.

A negociação individual facilita o clube grande. Ele consegue ganhar mais dinheiro, claro, porque tem maior poder de barganha. Mas esse tipo de venda dificulta o clube menor, que não consegue ter tanta força de negociação e, consequentemente, fica com valores menores.

Isso gera um efeito ''bola de neve''. Com condições desiguais de arrecadação, os clubes menores ficam em piores condições para se reforçar e, assim, a competição fica desigual. Isso, no longo prazo, prejudica o produto futebol, que está acima dos clubes e é fundamental para assegurar mais receita para todos os envolvidos nele.

Platini deixou claro isso ao determinar a venda coletiva na Uefa. A mesma Uefa que, na negociação da Liga dos Campeões de clubes, seu maior produto, separa uma porcentagem para o que chamam de ''solidariedade'', que é a destinação dessa verba para clubes e países que não conseguem disputar a competição.

O esporte é baseado na competitividade. Dentro de campo, de quadra, da pista ou da piscina, esperamos ver a disputa até o último segundo. Se a divisão de receitas for desigual, rapidamente o campeonato torna-se desequilibrado. E, aos poucos, diminui o interesse do público, das empresas e da grana pelo produto. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Fórmula 1 durante a Era Schumacher. Durante anos a FOM, que organiza a competição, tentou achar um jeito de tornar a F1 interessante para público e empresas.

O produto futebol é forte, não acabará. Mas será muito complicado se, nos próximos anos, assistirmos a um grande desequilíbrio na competição. O primeiro passo para isso foi dado. Curiosamente, há três anos o Brasil era apontado como referência no modelo de negociação de TV para o futebol europeu. Hoje, retrocedemos para algo que a Europa debatia e via a solução no nosso país.