O novo acordo da CBF diz muito sobre o futebol no Brasil
Erich Beting
Trinta anos é um prazo muito longo. Mas foi por esse tempo que a CBF fechou seu novo contrato de patrocínio, com a rede de drogarias Ultrafarma (detalhes aqui). Muito provavelmente, Sidney Oliveira, fundador das farmácias que são um colosso em São Paulo, não estará vivo quando o contrato se encerrar. Assim como Marco Polo Del Nero. Ambos estão hoje na casa dos 70 anos de idade.
Mas o contrato Ultrafarma-CBF chama a atenção não apenas por isso. Ele diz muito sobre o futebol no Brasil.
Qual o novo patrocinador que aparece no futebol do país depois de um escândalo colocar o ex-presidente da CBF na cadeia? Uma rede de farmácias, que fecha exatamente com a entidade que é investigada na Suíça, nos EUA e vive sua maior crise de imagem na história.
Por que a mesma Ultrafarma não se interessou por nenhum clube? Será que o produto CBF e seleção brasileira seguem a ser o melhor investimento possível para uma marca quando ela pensa em futebol no Brasil?
O ponto é que, por mais absurdo que possa parecer, dificilmente algum clube de futebol tenha olhado para a Ultrafarma como um potencial parceiro comercial. Empresa que fatura R$ 1 bilhão ao ano, a marca não deve ter sido procurada para uma eventual parceria com algum clube.
Ou, se foi, a única proposta que recebeu foi por um investimento alto demais para ter a marca estampada na camisa do clube. Sem oferecer nada além do que essa exposição em troca.
Com o acordo, a CBF adiciona a 14ª marca no backdrop da seleção brasileira. Enquanto isso, o futebol tem dificuldades em se vender, jogando invariavelmente a culpa na crise.
Oferecer às empresas propriedades que sejam atrativas para além da exposição na camisa e procurar mostrar a importância que há no relacionamento com o consumidor é uma tarefa básica que o futebol no Brasil ainda teima em não entender.
Como pode a CBF ainda aparentar ser o melhor investimento de uma empresa que pensa em aportar dinheiro no futebol? E como nenhum outro clube consegue ser tão eficiente quanto à entidade?
O acordo CBF-Ultrafarma por 30 anos é um absurdo. Não pela decisão da empresa ou pela competência da entidade em achar mais um parceiro em meio a seu maior escândalo na história. Mas pela extrema incapacidade dos clubes em ter um novo parceiro comercial…