Negócios do Esporte

O curioso caso de “Você Sabe Quem” Parque
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Erich Beting

O Brasileirão estreou mostrando a que veio no sábado. A tosca cobertura do nome da Allianz nas placas dos túneis de acesso ao gramado do Allianz Parque ajudaram, mais um pouco, para que o nome da empresa de seguros seja rapidamente associado ao estádio do Palmeiras.

Melhor ainda foi, no dia seguinte, o comunicado da CBF com o ''Esclarecimento sobre o ocorrido na Arena do Palmeiras'' (leia aqui).

Segundo a entidade, o ''excesso de zelo'' causou a gafe de cobrir o nome da Allianz dentro do estádio. A CBF se prontifica a não mais vetar os naming rights nos estádios, afirmando que o ''problema não se repetirá nos jogos do Campeonato Brasileiro''. A frase é emblemática. Na placa de publicidade estática que fica no centro do gramado está bem claro que o campeonato se chama ''Brasileirão Chevrolet''.

O caso revela o quão despreparada está a própria CBF para cuidar comercialmente do Campeonato Brasileiro. Não há qualquer padronização no que é feito, vendido ou permitido nos estádios.

Ainda no sábado, o Palmeiras afirmou que nada poderia fazer sobre o veto ao nome do patrocinador de seu estádio, já que seria uma determinação da Globo e da CBF a cobertura do nome, para que não houvesse uma ''segunda linha'' de patrocinadores na transmissão da TV.

Poderia ser. E não estaria errado. Mas seria preciso que existisse uma coerência para isso. Não teria sentido permitir o ''Allianz Parque'' no ''Paulistão Itaipava'' que havia acabado de acabar e não fazer o mesmo no ''Brasileirão Chevrolet''.

A prática do ''naming right'' é ainda nova no Brasil, mas só na frase acima dá para ver que é um movimento sem volta e, mais ainda, crescente. Clubes, entidades, mídia e patrocinadores ainda vão quebrar um pouco mais a cabeça para tentar se adequar a essa realidade. Assim como já o fizeram nos anos 80, quando começaram os patrocínios nas camisas dos times.

A diferença, hoje, é que há a formação de um quinto poder, que é a mídia social. A voz das pessoas, amplificada pelas redes sociais, faz com que ações de veto às coisas como elas são tenham baixa eficácia. Crescemos acostumados ao controle da transmissão de informação feito pela empresa de mídia. Agora, é impossível colocar limites na produção de conteúdo feita pelas pessoas nas redes sociais.

Um exemplo disso veio ontem. Publiquei no Twitter uma foto da coletiva do técnico Marcelo Fernandes, do Santos, em que o câmera do Sportv cobria o boné que era usado pelo entrevistado, fazendo com que o rosto dele ficasse estampado na tela. Critiquei o que poderia ser um retrocesso da Globo, que deixou há tempos de fazer esse desserviço com seu telespectador. Na entrevista seguinte, com o técnico Doriva, do Vasco, a imagem estava aberta, podendo-se ver os patrocinadores do clube. Um leitor já comentou no Twitter a mudança e a falta de critério da emissora. Pouco depois, recebi, por WhatsApp, a imagem do treinador, em entrevista exclusiva para o Sportv, sem o boné. O comentário do leitor que me mandou a mensagem: ''pelo visto mandaram tirar o boné para ele falar''.

Marcelo Fernandes, durante a entrevista coletiva (esq.) e, depois, sem o boné para a exclusiva

Marcelo Fernandes, durante a entrevista coletiva (esq.) e, depois, sem o boné, para a entrevista exclusiva

O controle da informação já não está mais nos meios tradicionais. Isso faz com que seja absolutamente inócua a tentativa de suprimir o nome dos patrocinadores de estádios, torneios e afins. A justificativa de que isso é fazer ''propaganda gratuita'' para a empresa é de uma visão absolutamente tosca do negócio.

Não será por conta de uma coisa ou de outra que a empresa fará a propaganda no veículo. Mas é por conta de atitudes que vão contra o dever de informar corretamente as pessoas que o veículo perde a credibilidade com o próprio público.

É curioso o caso de ''Você Sabe Quem'' Parque. Ele mostra que, aos poucos, vamos evoluindo e entendendo que é possível caminhar todos juntos para um mercado mais maduro de investimento no esporte. Ganha, com isso, o próprio torcedor, que vê o time com mais receita podendo ter melhor performance dentro de campo por ter mais jogadores.


A concentração de patrocínios é um risco ao futebol
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Erich Beting

Começa neste fim de semana o Brasileirão. Os 20 clubes que disputam o título terão, em suas camisas, 40 diferentes marcas estampadas nesta primeira rodada. Esse é o número de patrocinadores, entre fornecedores de uniforme e empresas de outros segmentos, que têm acordos fixos com os clubes da Série A pelo menos até o final deste ano (alguns detalhes a mais estão aqui).

Essas marcas vão investir cerca de meio bilhão de reais nesses patrocínios. O número é expressivo, possivelmente a maior arrecadação com patrocínios na camisa de uma Série A de Brasileirão na história. Essa é a boa notícia.

MAS…

Sempre tem um copo meio vazio a se olhar.

Excluindo-se os nove fornecedores de material esportivo, sobram 31 marcas diferentes patrocinando os clubes. No peito da camisa, o patrocínio máster, que é o mais valioso, estão envolvidas apenas seis marcas, que patrocinam um total de 14 times. Há, ainda, seis clubes que não conseguiram vender essa propriedade.

Isso acarreta num enorme risco para o futebol.

Há muito dinheiro concentrado em poucas empresas. Dos cerca de R$ 350 milhões que esses patrocinadores colocam nos clubes, praticamente 50% da verba se concentra em quatro grupos: Caixa, Vitton 44 (dona de Guaravita, Matte Viton e Guaraviton), Banrisul e Tim. Outros R$ 45 milhões são de Crefisa e FAM, no Palmeiras.

Essa concentração de receita é um enorme risco.

A Caixa, com a gestão mais austera que começou a ser praticada pelo governo federal, tende a fazer um corte brusco nos investimentos no futebol a partir do ano que vem (detalhes aqui). Só para se ter uma ideia da dependência que existe hoje de um único patrocinador, se a Caixa saísse neste ano, a Série A teria 14 clubes (70% do total) sem um patrocinador principal, sem falar que o torneio ''perderia'' quase R$ 100 milhões da verba de patrocínio (20% do total).

Da mesma forma, se a Vitton 44 for realmente vendida, que é o projeto de seu dono, Neville Proa, pode de uma hora para a outra deixar ''órfão'' os clubes do Rio de Janeiro, levando embora, cerca de R$ 50 milhões em receita.

O futebol precisa, urgentemente, diversificar as fontes de arrecadação. O sócio-torcedor, entre os times de maior torcida, começa a ser um diferencial. Mas é preciso repensar o modelo de negócios oferecido às empresas. O São Paulo, com o projeto que não envolve exposição de marca, já obteve alguns bons resultados, tendo dois parceiros que asseguram uma receita de quase R$ 10 milhões e não estão na camisa.

Nunca um Brasileirão começou com tanto dinheiro nas camisas. Mas nunca a maior parte dessa conta foi paga por tão poucas marcas.


O começo arrasador da Under Armour no São Paulo
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Erich Beting

A Under Armour surgiu, como diz o próprio nome, para ser uma ''roupa de baixo''. No meio dos anos 90, Kevin Plank, jogador de futebol americano, desenvolveu a roupa para ser usada por baixo da armadura que os atletas vestem (daí a origem do nome).

Ontem, a Under Armour fez a estreia no futebol brasileiro, com o patrocínio ao São Paulo. A ação feita para a primeira apresentação do time com a camisa foi espetacular. Uniu a história da empresa com a paixão que todo torcedor tem pelo seu time. O vídeo evidencia que o sucesso dos americanos no mercado esportivo não é por acaso.


Necessidade faz São Paulo ir para o caminho certo
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Erich Beting

O São Paulo tem um enorme problema para resolver em relação à maioria dos outros clubes. Há mais de um ano, o Tricolor paulista não tem um patrocinador máster para o uniforme. Isso vai atrapalhando, e muito, as já combalidas finanças do clube, tanto que, no fim do ano, um empréstimo da Under Armour, antes mesmo de começar a vestir o time do São Paulo, já se fez necessário.

Mas, ao que tudo indica, o Tricolor está conseguindo fazer do limão uma limonada. E, assim, vai começando a reduzir a dependência do clube de um patrocinador único, diversificando as fontes de receita e, aos poucos, ajudando a ensinar o próprio mercado a importância que se tem no relacionamento com o torcedor do clube de futebol.

Após os acordos com Gatorade e Copa Airlines, nos quais não está prevista exposição de marca na camisa ao longo do ano de parceria, o Tricolor criou uma ação interessante. Promoverá um fim de semana de jogos de futebol entre torcedores e ídolos do clube, entre eles o goleiro Rogério Ceni (leia aqui).

A medida, segundo o clube, mais do que gerar receita, tem como objetivo mostrar a eventuais parceiros comerciais como o clube pode ser usado como uma plataforma de relacionamento exclusiva para as marcas. Um patrocinador poderia, por exemplo, oferecer esse mesmo tipo de ação para seus clientes.

A ideia é ótima. O clube usa a estrutura que está ociosa, promove um evento para antigos jogadores e, ainda, dá ao torcedor uma oportunidade única de contato com o que ele mais gosta de acompanhar, que é a rotina do time para o qual torce.

Com a Copa do Mundo, as marcas perceberam o valor que existe em criar ações ''sem preço'' para seus consumidores usando o esporte. Elas viram, como nunca, que há boas possibilidades a serem feitas. O São Paulo, agora, mostra que há caminhos ainda mais interessantes para as marcas, que é usar a paixão do torcedor como combustível para ações que não dependem do jogo, do desempenho do time, etc.

Num futebol que maltrata tanto o produto como o nosso, dá muito mais resultado promover essas ações que não dependem do evento esportivo, mas apenas do vínculo emocional do clube com o torcedor.

Por necessidade de buscar novas receitas que vão além do patrocínio máster, o São Paulo tem buscado o modelo que existe nos Estados Unidos de geração de riqueza para os clubes: apostar em ações de relacionamento da marca com os fãs, sendo o intermediário para isso.

A necessidade tem feito o São Paulo rumar para o caminho certo, em que o clube é uma plataforma de negócios para os eventuais parceiros comerciais, e não um mero espaço publicitário. E isso é uma ótima notícia no horizonte do esporte no país.


Escolha de chefe de delegação escancara o estilo Del Nero
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Erich Beting

A escolha de um desafeto do governo de Dilma Rousseff para chefiar a delegação brasileira na Copa América é o primeiro gesto mais contundente de Marco Polo Del Nero à frente da CBF, em menos de um mês como presidente da entidade. Depois de prometer tentar barrar a aprovação da Medida Provisória 671, que joga duro contra os clubes em busca de uma renegociação da dívida com o governo, Del Nero mostra que não quer diálogo com o Planalto.

A escolha de João Dória Jr. para o cargo de chefe da delegação é um recado. A função que o empresário e jornalista exercerá em Santiago deve ser muito mais escolher bons vinhos para os jantares dos dirigentes brasileiros do que realmente representar a CBF em reuniões protocolares.

A CBF não precisa de mais patrocínio, ou pelo menos não precisa do bom relacionamento de Dória com o empresariado para conseguir um. Da mesma forma, o empresário não precisa da CBF para ganhar mais holofote, apesar de o futebol sempre ajudar na promoção das pessoas.

A pergunta, que sempre aparece quando se anuncia o chefe de delegação de uma seleção brasileira é exatamente a mesma. Mas, afinal, o que faz tal pessoa?

Nos primórdios do futebol, o chefe de delegação era o cara que deixava tudo mais ou menos ajustado para o time disputar a competição. Ele se reunia com os dirigentes de outras entidades, cuidava dos bastidores e outras necessidades. Com a profissionalização que há hoje, mesmo em se tratando de um torneio organizado pela Conmebol, o chefe de delegação é praticamente uma figura protocolar. Vai a encontros de dirigentes, mas praticamente não participa de nada além de eventos paralelos à competição em si e à rotina da seleção.

Por isso mesmo, tanto faz se irá Dória Jr. ou um cone ''chefiar'' a delegação brasileira.

Del Nero já havia colocado Walter Feldman, político que era do PSDB e crítico do PT, para ser uma espécie de principal executivo da CBF. Uma de suas funções é usar a influência que tem no Congresso para articular em favor dos interesses da entidade e do futebol com os políticos, especialmente os de oposição ao governo, com quem Feldman tem ótimo trânsito.

Agora, o recado é outro. Dória fez campanha por Aécio Neves nas eleições, promovendo encontro do candidato com representantes do empresariado nacional. A aproximação a alguém ''de mercado'' é uma forma de mostrar que não haverá brecha para diálogo com o governo também por parte da CBF.

Del Nero traz consigo uma característica que era marcante em João Havelange. Apesar de negar veementemente que futebol e política se misturavam, o antigo presidente da CBD (a predecessora da CBF) e da Fifa sabia como poucos usar a influência do esporte sobre os políticos para realizar diferentes manobras em favorecimento das entidades que comandava.

O atual mandatário da CBF não costuma se apressar em negar a relação entre política e futebol. Mas sabe, como poucos cartolas da atualidade, a importância que tem, nos bastidores, saber jogar também o jogo da política.


Estaduais não são o problema, mas todo o restante
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Erich Beting

O problema maior não são os Estaduais, afinal. Os campeonatos locais foram a base de sustentação do futebol no Brasil. No início dos anos 1900, foram esses os torneios responsáveis pelo princípio de organização do futebol no país. Com as dimensões continentais do Brasil, nada mais natural que os clubes jogassem, primeiro, em suas redondezas. São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais. A partir daí começou a expansão dos campeonatos estaduais de futebol pelo país.

Brasileirão, mesmo, só foi começar a ter a partir dos anos 70, quando a expansão interna promovida pela ditadura acelerou a construção de estradas e aeroportos, fazendo com que fosse menos difícil jogar um dia no Oiapoque e outro no Chuí. Além do fato de o governo militar querer ampliar o sentimento nacionalista, o que tornava de certa forma natural se construir um campeonato que reunisse times do país todo, ou de quase todo o país.

Por conta disso, os Estaduais são parte importante da cultura de futebol do Brasil. Foi com base nele e nas rivalidades locais que construímos a base da paixão, algo tão fundamental para que o futebol arrebate milhões e leve multidões a estádios, TVs e tudo o mais. Acabar com os Estaduais é, enfim, negar a própria história e sustentação do futebol no país. E é uma decisão errada.

Os Estaduais são um sucesso, é só ver o que foram as últimas semanas, quando eles entraram em sua fase decisiva. Estádios lotados, audiência alta na televisão, mídia focada em comentar os jogos, as conquistas, os heróis e vilões. É algo tão atrativo que, em 13 partidas nas novas arenas, foram mais de 400 mil pessoas aos jogos e R$ 19 milhões em geração de receita de bilheteria (detalhes aqui).

O problema é que, para chegarmos a quatro jogos atrativos, são necessárias outras 15 partidas completamente entediantes. Isso na conta individual! Quando elevamos para a proporção de que cada Estadual tem, pelo menos, 16 times na disputa, chegamos a quase duas centenas de jogos inúteis para apenas 15 a 20 partidas realmente atrativas para o público, a mídia e os patrocinadores.

Os Estaduais não podem acabar, mas também não podem continuar do jeito que estão. Hoje, eles servem para massacrar o começo de temporada dos grandes clubes e tentar fazer com que apareçam algumas equipes menores. Com três meses para 19 datas, é humanamente impossível de as duas coisas acontecerem de maneira coerente.

Os Estaduais não são o problemas, mas os dirigentes que os comandam precisam, urgentemente, buscar uma nova fórmula para fazer com que a competição que deu origem ao futebol no Brasil não seja tão maltratada como tem sido. Poderíamos ter tido três meses de festa, e não três semanas…


A Lusa tem um plano. Essa é a grande notícia
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Erich Beting

Leio no Blog do Menon, parceiro aqui de UOL, que Luis Paulo Rosenberg tem um plano de colocar a Portuguesa na disputa da Copa Libertadores da América em 2020 (detalhes aqui). A ''nova loucura de Rosenberg'', como brinca Menon em seu texto, é exatamente o que mais falta no futebol. Um planejamento de, pelo menos, cinco anos dentro de um clube.

Esse foi o diferencial do Corinthians de Rosenberg. Um time que, na Série B, projetava voltar ao topo do futebol nacional em até cinco anos. No período, chegou ao inédito topo da América e reconquistou o mundo.

Não é só a Portuguesa que precisa de um plano. Qualquer empresa precisa traçar metas e buscar esses objetivos. No futebol das cartolas trocadas a cada dois ou quatro anos, o dirigente sempre está no cargo pensando no ano, semestre, mês, rodada, próximo jogo. O clube se atrapalha por achar que é preciso vencer todo campeonato que disputar, cada partida que entra em campo.

Por isso, a Lusa ter um plano é uma grande notícia. Ambicionar o caminho para voltar à Série B, depois à A e, por fim, brigar por vaga na Libertadores, é uma estratégia a se considerar. Quando, pressionados por mídia e torcida, dirigentes prometem títulos, acabam ganhando a pecha de ''marqueteiros'', ou então de ''falastrões''.

Colocar metas, seguir planejamento e buscar recolocar no trilho o que está fora de rota é algo que precisaria ser rotina no futebol, mas que está quase sempre num segundo plano.

Esse foi parte do segredo do Corinthians na gestão Andrés-Gobbi entre o fim de 2007 e 2012, quando Rosenberg estava por trás auxiliando nesse planejamento e, principalmente, na execução desse plano.

Agora, com a Lusa, Rosenberg tem um desafio ainda maior. Um clube que foi jogado às traças, está restrito ao torcedor mais fanático e, pior ainda, não conta com qualquer previsão de arrecadação suficiente para construir um time forte que consiga cumprir as metas iniciais do plano.

Loucura não é montar uma meta dessas, mas querer gerenciar um clube de futebol no Brasil hoje sem ter um caminho pré-estabelecido. A Lusa tem um plano. E, por conta disso, conseguirá se sobressair em relação aos concorrentes. Se o futebol no país continuar a funcionar do jeito mambembe da atualidade, até mesmo antes de 2020 a Lusa pode alcançar a Libertadores…


O erro de marketing de Silva no taekwondo
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Erich Beting

Anderson Silva vai tentar uma vaga para competir nos Jogos Olímpicos de 2016 no taekwondo. A polêmica decisão do lutador de tentar competir após ser pego duas vezes no doping no UFC é a típica ação que faz bem no curto prazo para a modalidade e para o lutador. Mas que pode deixar suas consequências para o futuro.

A decisão é meramente marqueteira. No mal sentido.

Ela foi tomada tendo como objetivo apenas a promoção de Anderson Silva no pior momento de gestão de crise de imagem do lutador. E o taekwondo, malandramente, embarcou na onda, usando o amparo legal que permite a inclusão do Spider nas seletivas para as Olimpíadas.

A proporção que Anderson Silva atingiu no mercado faz com que tudo o que ele faça após ter sido flagrado no antidoping vire notícia. Por conta disso, nunca falamos tanto sobre o esporte taekwondo na mídia como agora.

Mas qual o impacto que uma possível classificação dele para a Olimpíada gera?

Possivelmente haverá mais gente interessada em comprar ingressos para acompanhar o taekwondo no Rio. Da mesma forma, haverá um interesse maior da mídia em cobrir o evento.

Mas o que isso gera, de fato, para a modalidade? Qual o exemplo que ela passa para o consumidor? De que, em nome da publicidade e divulgação do esporte, vale tudo?

O taekwondo nunca esteve em tanta evidência no Brasil como nas últimas semanas. Isso seria bom caso Silva, campeoníssimo no MMA, decidisse tentar disputar os Jogos Olímpicos como uma espécie de grand finale da carreira. Com o lutador afastado do UFC por doping, o taekwondo parece ter se transformado na tentativa às avessas de resgate da imagem.

Todos só tem a perder. Silva pode passar a impressão de que está usando a modalidade para se promover. E o taekwondo dá a impressão de que aceita o jogo de cena apenas para promover a modalidade.

Seguir estritamente a lei nesses casos pode ser legal do ponto de vista jurídico. Mas, com certeza, não é nada legal do ponto de vista ético.

Ser marqueteiro não é um problema. Desde que o marketing seja usado de forma a promover o bem. Qualquer tentativa de manipulação das pessoas é, com o tempo, desmascarada.

Se o COI se diz tão preocupado com a pureza do ''espírito olímpico'', deveria sair do pedestal da indiferença e agir para proteger a marca da mesma forma que faz quando um atleta publica alguma coisa que pretensamente ataque os Jogos.


Clubes mostram como é difícil colocar preço em ingresso
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Erich Beting

O Palmeiras conseguiu, na primeira final de campeonato disputada em seu estádio, exorbitantes R$ 4 milhões de renda e mais de R$ 100 por ingresso cobrado para o jogo contra o Santos no Allianz Parque. Depois das finais de Atlético-MG na Libertadores-2013 e Flamengo na Copa do Brasil daquele mesmo ano, é um dos melhores resultados na equação ocupação de estádio x arrecadação em bilheteria do futebol nacional.

Ao mesmo tempo, o São Paulo anunciou que reduzirá o ingresso mínimo para a partida das oitavas de final da Libertadores contra o Cruzeiro. De R$ 120, o bilhete cairá para R$ 60. Assim, o clube espera voltar a lotar o Morumbi no campeonato que é mais desejado por seu torcedor. Na semana passada, em entrevista ao ''Bolg do Boleiro'', de Luciano Borges, o vice são-paulino Douglas Schwartzmann admitiu que o clube errou na precificação dos ingressos (leia a conversa na íntegra clicando aqui).

As duas situações evidenciam a dificuldade que os clubes têm em se adequar à realidade dos novos estádios. A grande diferença que existe, agora, é que manter um estádio custa muito caro. Se, antes, o futebol estava acostumado a praticamente ter o local de graça (ou a baixíssimo custo) para jogar, agora a equação é mais complicada.

Ao mesmo tempo, aos poucos o futebol entende que é preciso tratar seu principal produto, que é o jogo ao vivo, com mais cuidado. É preciso fazer de cada partida um evento único, que leve as pessoas e possa entregar ao torcedor uma boa experiência. Esse são ingredientes fundamentais para que as pessoas queiram ir cada vez mais ao estádio.

O Palmeiras é, neste começo de ano, o ponto fora da curva. O estádio novo ainda causa muita curiosidade nas pessoas. Ao mesmo tempo, a torcida está empolgada com o time, o que faz com que a procura por ingressos seja alta. A arrecadação dos primeiros quatro meses do ano dificilmente se repetirá com frequência. Até por conta disso, o clube já percebeu que seria preciso reduzir a mão em alguns setores do estádio. Fez um estudo dos últimos oito anos de comportamento do torcedor na ida aos jogos e ponderou qual o melhor a ser feito (leia detalhes aqui).

Há dois anos que a Máquina do Esporte faz um acompanhamento do comportamento do público nos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. O dado mais alarmante é o que mostra que a taxa de ocupação dos estádios raramente ultrapassa 50% durante todo o torneio.

Ao mesmo tempo que está mais caro manter os estádios, está desvalorizado, também, o produto que é apresentado nesses locais. Sendo assim, existe um enorme problema para o futebol no Brasil. É preciso encontrar, com base em estudo, tentativa e erro, o preço ideal para os ingressos.

A Série A do Brasileirão teve, em 2014, um ingresso médio de R$ 33,87. No ano anterior, o tíquete médio havia sido de R$ 29,05. Em campo, a média de público aumentou, mesmo com o bilhete mais caro. Mesmo assim, a taxa de ocupação dos estádios não chega a 50% do total de capacidade.

Em 2015, pela primeira vez todos os novos estádios estarão disponíveis, o que deve aumentar o número de público nos jogos e o custo médio do ingresso. Isso será fundamental para, em 2016, começarmos a ter mais ciência e menos chute na hora de decidir quanto cobrar pelo bilhete. Está claro, por enquanto, que o torcedor não está disposto a pagar mais de R$ 30 pelo ingresso na média.


Futebol brasileiro perde receita para o europeu
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Erich Beting

Os índices de audiência na TV não deixam mentir. O futebol europeu tem hoje uma força cada vez maior no cotidiano do torcedor brasileiro. Com a Globo transmitindo os jogos de Liga dos Campeões da Europa, as partidas de Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e cia. começam a atingir, com frequência, a faixa dos 15 a 18 pontos de audiência.

É muita coisa.

O impacto disso não é na formação de uma geração de torcedores que terão como preferência os times europeus aos brasileiros, mas sim de uma perda cada vez maior de receita dos clubes brasileiros para essas potências multinacionais alocadas na Europa.

Há dez anos, sistematicamente, temos exemplos de que isso é cada vez mais uma realidade. Enquanto os clubes brasileiros praticamente estacionaram na fórmula ''receita de TV + patrocínio na camisa'' para fazer dinheiro, os times da Europa começaram uma expansão nunca antes planejada para o mercado da América do Sul.

Nesta semana, a Gillette apresentou um novo produto ao mercado. Uma lâmina de barbear que leva, na embalagem, o símbolo e as cores do Barcelona. Detentora dos direitos de exploração da imagem do Barça na América do Sul, a empresa está apostando na venda de um produto licenciado do clube espanhol para estourar em vendas a mais de 10 mil km de distância do Camp Nou.

Com o Barcelona comandado pelo trio Messi (Argentina), Suárez (Uruguai) e Neymar (Brasil), faz total sentido para a Gillette ter um acordo desse gênero para a América do Sul. Dois dos principais mercados do continente são, de uma forma ou de outra, impactados pelo Barcelona quase que diariamente.

Mas por que não existe nada similar ao que é feito com o Barcelona para os clubes de maior torcida do Brasil? Será que é muito difícil buscar um negócio similar a esse e vender para o público daqui?

O Barça tem, hoje, um departamento comercial cuja missão é trabalhar pensando 100% do tempo em soluções para a América do Sul. Foi o primeiro clube a expandir a marca para cá, depois de uma entrada tímida do Manchester United no acordo com a Concha y Toro. Cada vez mais, o Barcelona é um concorrente direto dos times brasileiros na busca por receita de patrocínio.

Se, antes, era mais difícil engajar as marcas nas ações com os times de fora pela penetração restrita praticamente à TV fechada, agora a situação é outra. Quando, semana após semana o Barcelona consegue pelo menos 15 pontos de audiência, ele é um produto cada vez mais massificado dentro do mercado brasileiro.

O futebol do Brasil não perderá torcedor para o do exterior. A transmissão do amor pelo time de futebol entre gerações é forte demais para permitir isso. Mas, sem dúvida, o futebol do Brasil perderá muita receita para os times europeus, cada vez mais presente dentro do dia a dia das pessoas.