Negócios do Esporte

Rio Open pode ser o novo Guga no Brasil
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Erich Beting

“Tive uma semana fantástica, o torneio é muito bom. O Brasil e o Rio de Janeiro precisavam de um evento desse tamanho. O próximo passo, porque não, é tentar um ATP 1000”. Foi mais ou menos essa a declaração, que mais parecia promessa de campanha, de Rafael Nadal tão logo conquistou o Rio Open, torneio de tênis encerrado no domingo na Cidade Maravilhosa.

Ainda na quadra principal do complexo montado no Jockey Clube Brasileiro, Nadal levantou a bola do Brasil como nunca tinha feito. E jogou no ar a ideia de o país abrigar o ATP 1000, competição que só perde em importância para os quatro Grand Slam.

Nadal não foi o único a elogiar o torneio. Diversos outros atletas do porte de top 10 do ranking falaram bem da organização do Rio Open. Sinal de que há ótimas chances de, para o ano que vem, os próprios atletas ajudarem o torneio a ganhar fama.

E isso, para o desenvolvimento do tênis no Brasil pode representar o segundo grande passo desde o fenômeno Gustavo Kuerten. Guga foi importantíssimo para que o tênis ultrapassasse a barreira elitista que tinha. Quando tivemos o número 1 do mundo, há quase 15 anos, passamos naturalmente a ter contato com o tênis como nunca antes na história.

Agora, o salto é outro.

Ao termos um torneio da magnitude de um ATP 500 (o terceiro em grau de importância do calendário), passamos a ter atletas mais qualificados jogando em solo nacional. Isso atrai cada vez mais público e, com isso, o interesse pelo esporte aumenta.

Outro aspecto curioso é que os jogadores brasileiros crescem ao disputar torneios assim. Neste ano, Thomaz Bellucci chegou às quartas-de-final. Com isso, subiu 22 posições no ranking. Mais atletas na ponta asseguram um aumento da cobertura da mídia sobre o esporte.

Mesmo na estrutura provisória do Jockey, o Rio Open conseguiu satisfazer patrocinadores. Com o espaço do clube para relacionamento, todas as marcas tinham estandes com espaço para interação com o público e, assim, conseguiam exibir produtos a potenciais clientes.

Pode parecer uma certa heresia, mas havia mais espaço para ações de marca do que em Roland Garros, principal templo do esporte (e que, é verdade, sofre bastante com a falta de espaço para a locomoção do público).

O único porém, mais uma vez, foi em relação à cobertura televisiva. Com os direitos de transmissão restritos ao Sportv, o Rio Open perdeu a chance de expandir o torneio para outros meios.

Mas, num cômpito geral, é um evento que tem condições de alçar o tênis para outros públicos. Para isso, porém, é fundamental que seus organizadores tenham noção de que esse é um projeto para médio e longo prazo.

Esse, talvez, seja o principal desafio a ser vencido pelo Rio Open. Fazer um projeto mais longo num país que culturalmente olha apenas o amanhã. Se conseguir, ele tem enorme potencial para ser o responsável pelo segundo grande salto do tênis no Brasil.


Medo de protestos já tem vítima na Copa: o Fan Fest
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Erich Beting

Em 2006, na Copa do Mundo, a Alemanha inovou ao criar o conceito do Fan Fest. Os alemães propuseram uma solução para um antigo problema da Fifa, que era a grande concentração de pessoas em volta dos estádios na procura por ingressos para os jogos. Para evitar o acúmulo de gente sem bilhetes, a saída encontrada pela Alemanha foi usar áreas públicas de lazer distante dos estádios como centro de reunião de torcedores.

Simples e eficiente, o Fan Fest caiu nas graças da Fifa e foi o ponto alto do Mundial que mobilizou milhões de pessoas. Só para se ter uma ideia, na final entre Itália e França, em Berlim, cerca de 1 milhão de torcedores se reuniu no Fan Fest. Era gente de todo o mundo, que havia pensado em fazer uma viagem para ver a ''final da Copa'', mesmo sem ter ingresso para ela. Os fan fests se espalharam pela Alemanha e deram tão certo que, em 2010, a Fifa decidiu ampliar o espaço para outros países além da África do Sul.

No continente africano, em pleno inverno e sem a cultura de espaço público de lazer como na Europa, a história foi diferente. O espaço era onde se registrava alto índice de criminalidade e, à noite, as temperaturas abaixo de 10°C afastavam o torcedor. Mas a experiência da Fifa com um Fan Fest em Copacabana alimentava o sonho de que, em 2014, os espaços voltariam a encher.

Por isso mesmo, sete empresas compraram a cota de patrocínio apenas ao espaço destinado para o torcedor alijado dos estádios. Nas praias de algumas sedes, os Fan Fests prometiam ser o local para união das pessoas e até para a democratização do próprio evento, restrito demais dentro de campo, mas amplamente divulgado fora dele.

Só que os protestos de junho passado, em plena Copa das Confederações, mudou radicalmente essa expectativa. Como parte da conta das manifestações se voltou contra o ''Padrão Fifa'', o temor é de que o Fan Fest vire a alternativa para os manifestantes que não conseguirem ter acesso para os estádios. Da mesma forma que ele seria usado como uma válvula de escape para os sem-ingresso, agora ele deve virar o caminho para os ''não vai ter Copa''.

Recife já abriu mão de sua Fan Fest. No Rio, o embate ainda continua. Nas outras sedes, há um enorme jogo de empurra entre os governos locais, que não querem arcar com as contas pré-combinadas de garantir a segurança do local. A Fifa agora tenta pressionar os governos com a possibilidade de multá-los por não cumprir com o contrato de que teriam de fazer o Fan Fest durante a Copa.

Na cabeça dos governantes, entre pagar a multa ou comprar a briga para fazer o Fan Fest, é muito melhor a primeira opção. Afinal, meses depois, as eleições é que são a verdadeira Copa do Mundo para os políticos…


Under Armour vai, finalmente, entrar no Brasil
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Erich Beting

O ensaio já vinha sendo feito há pelo menos um ano. Agora, no próximo dia 12 de março, a fabricante de material esportivo de origem americana Under Armour vai finalmente ''dar as caras'' para o mercado brasileiro. Um evento em São Paulo com o fundador da marca, Kevin Plank, o triatleta Chris McComarck e o lutador George Saint-Pierre marca o primeiro movimento mais midiático da Under Armour no Brasil.

O desembarque em solo nacional da fabricante acontece no melhor momento da empresa em quase 20 anos de história. Nunca a Under Armour faturou tanto quanto nos últimos anos (veja detalhes aqui). No Brasil, desde 2012 o time de basquete do Pinheiros é quase que a única propriedade patrocinada pela empresa. Agora, a chegada maciça ao país deve movimentar um pouco o mercado de fornecimento de material esportivo.

A chegada da Under Armour deve gerar uma boa disputa pela camisa de alguns clubes, como o São Paulo e o Grêmio, cujos contratos vencem no final deste ano. No Brasil, pelo tamanho do apetite da empresa, é difícil imaginar que o futebol fique de fora dos investimentos. Apostar em times populares é estratégia recente da marca, usada em suas entradas na Inglaterra (patrocínio ao Tottenham), no México (Toluca) e no Chile (Colo-Colo).

Isso pode mudar mais uma vez a configuração do patrocínio esportivo dentro do futebol. Não é impossível pensar que a UA possa começar a ocupar o lugar da Puma como uma terceira via aos clubes.

Além disso, a empresa deve apostar em alguns atletas, dentro de uma estratégia focada nos Jogos Olímpicos. O início da história da Under Armour, aliás, é esse. Kevin Plank era jogador universitário e estava inconformado com as roupas que usava embaixo do uniforme do time. Queria algo que lhe deixasse menos desgastado fisicamente. A partir dali, a empresa sempre apostou em roupas para atletas.

A entrada da marca, no Brasil, fará com que o mercado de material esportivo ganhe um concorrente de peso para as marcas que já estão estabelecidas por aqui. É bem possível que ela ajude a ocupar parte do vácuo deixado pela saída abrupta da Vulcabras (Olympikus e Reebok).

A julgar pelo evento de entrada da Under Armour, ela virá forte para o jogo, apostando nos bons resultados que o Brasil tem gerado para as marcas estrangeiras nos últimos anos. Resta saber se haverá espaço para o crescimento depois de tantos anos de domínio das grandes.


O grande embate da Champions no Brasil
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Erich Beting

Este meio de semana marca a volta da Liga dos Campeões da Uefa aos gramados e, consequentemente, à TV brasileira. Mas, no país, o grande embate relacionado ao torneio europeu ocorre bem longe dos campos. As principais emissoras de TV fechada no país aguardam o término da Copa do Mundo, em julho, para começarem o embate pela transmissão da Champions a partir da temporada 2015/2016.

Em julho, agosto e setembro a Uefa deve abrir a negociação pelo próximo triênio de transmissão da liga. Em outubro de 2011, a ESPN celebrou a renovação do contrato para a TV fechada pelos três anos seguintes após uma dura disputa com a Fox, que preparava a entrada no país e ajudou a elevar o valor pago pela competição.

Agora, a situação é bem mais complexa. Interessa não só à Fox, mas também ao Sportv, ter os direitos sobre a Champions. E isso deve fazer com que a Uefa consiga um dinheiro jamais visto pelos direitos do torneio em solo brasileiro. Afinal, a liga é considerada o ''pote de ouro'' das transmissões disponíveis no mercado atualmente. A Uefa sabe disso e deve jogar duro no leilão que deve promover entre as emissoras.

Atualmente, as empresas estão numa fase de conjecturas. Conversam internamente, pensam em negociações conjuntas, fazem contas, especulam para o mercado, discutem com importantes figuras do mercado de compra e venda de direitos de transmissão. Faz parte do jogo. E mostra o quanto a Uefa soube valorizar o seu produto nos últimos anos.

O embate no mercado brasileiro tem diferentes significados para cada um dos três principais concorrentes.

Para a ESPN, é questão de honra não perder o evento, já que isso significaria um baque enorme para a emissora, que já perdeu a exclusividade no Inglês, além das transmissões do Alemão (a partir da temporada 2015/16) e do Italiano, para a Fox. Para a Uefa, a emissora representa uma parceria de longa data e, também, uma grande entrega do produto dentro da ESPN, que teria de apostar todas as fichas na promoção do torneio.

Já para a Fox, a aquisição da Champions asseguraria um ganho substancial de audiência nas tardes durante a semana. Hoje, a emissora neófita no mercado tem força na exibição dos jogos da Copa Bridgestone Libertadores, mas não consegue manter o patamar de audiência no restante da programação. A liga, então, significaria um importante trunfo na programação. Para a Uefa, se o negócio não representa um ganho de exposição no mercado brasileiro, certamente deve representar muito mais dinheiro no bolso.

Por fim, para o Sportv, a aquisição dos direitos permitiria à emissora, enfim, ter um grande campeonato europeu para transmitir, algo que é um desejo antigo nos corredores da Globosat. Para a Uefa, o canal ligado à Globo também traria um aumento da sinergia nas transmissões, já que a emissora carioca dificilmente perderá os direitos na TV aberta. Sem dúvida a promoção da liga se tornaria ainda maior.

Hoje, pelo nível de importância do campeonato e grau de excelência nas transmissões, a Liga dos Campeões da Uefa se tornou um dos torneios mais desejados pelo público brasileiro. Preenchendo um vácuo aberto pela ineficiência na gestão de competições no Brasil, a Uefa ganhou mercados e, agora, ganha dinheiro com a exportação de seus times e atletas.

É muito provável que, após essa negociação, a Liga dos Campeões da Uefa seja a segunda competição esportiva mais valiosa do mercado brasileiro na televisão (obviamente atrás do Brasileirão). Algo que é totalmente incoerente pelo grau de maturidade que existe na relação do brasileiro com o esporte. Mas que é completamente explicável pelo grau de profissionalização que existe na entidade europeia.

O grande embate da Champions no Brasil está em fase embrionária. E deve esquentar a partir de julho, quando a Uefa deve abrir a negociação pelos direitos publicamente, como faz a cada três anos.


A tréplica do “chute no traseiro” de Valcke
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Erich Beting

Os olhos da mídia – esportiva ou não – estão voltados nesta terça-feira para o Costão do Santinho, em Florianópolis, onde acontece um importante julgamento sobre a Copa do Mundo de 2014. A quatro meses do evento, vamos saber o que a dona dele acha sobre uma das praças escolhidas para abrigar parte do show. É hoje que muito possivelmente sai a decisão sobre o futuro de Curitiba como sede do Mundial.

Hoje sim ou hoje não?

A cozinhada sobre a até agora mais problemática de algumas problemáticas sedes da Copa do Mundo da Fifa, mas que acontece no Brasil, não deixa de ser uma espécie de tréplica de Jérôme Valcke, o principal elo entre a entidade e o país da Copa, à polêmica de meses atrás sobre o ''chute no traseiro'' que o dirigente afirmou que precisava ser dado no Brasil.

Valcke estava coberto de razão quando exigiu de nós mais agilidade em tratar das questões relativas à Copa. Com certeza não se expressou da melhor maneira possível, mas o alerta dado por ele deveria ter ecoado melhor do que a levantada de bandeira típica do brasileiro de que  ''só nós estamos capacitados para falar mal de nós mesmos''.

Agora, o possível vexame ligado a Curitiba é, também, uma excelente forma de Valcke comprovar que era preciso um chute no traseiro e que, vergonhosamente, o Brasil não soube se adequar corretamente ao nível de exigência de um evento como a Copa do Mundo.

Com certeza vai dar um pouco de trabalho para a entidade realocar quatro partidas nos outros estádios. Como já foi em outros Mundiais, com mudanças de sedes ao longo do período pré-Copa. Mas o prejuízo será bem maior para a imagem do país que rejeitou o ''chute no traseiro'' por acreditar que quem entende mais de se preparar para uma Copa é quem recebe o evento, e não quem é o dono…

No fundo, o debate sobre Curitiba não deixa de ser uma possível forma de Valcke dar, elegantemente, um belo de um chute no traseiro na arrogância do Brasil em achar que faríamos tudo às mil maravilhas em relação à Copa. Sim, a Fifa tem diversos erros, entre eles a arrogância. Mas, naquele contexto, as críticas que foram feitas ao Brasil tinham todo sentido.

O caso de Curitiba é só a comprovação da tese que Valcke tentou levantar naquela ocasião…


Acordo de Neymar com Castrol já demonstra seu novo status
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Erich Beting

O rosto do Brasil na Copa do Mundo no Brasil. Esse era, até a Copa das Confederações do ano passado, o status de Neymar perante o mercado publicitário. Principal jogador do Santos, o atleta tinha forte apelo no mercado interno brasileiro. Não à toa, tinha seus contratos com Nike, Red Bull, Volkswagen, Santander, Ambev, Heliar, Tenys Pé, Claro, Unilever, Mentos, Lupo e Panasonic. Todos eles tinham como peculiaridade a exploração exclusiva da imagem do atleta no mercado nacional, à exceção de Nike e Red Bull.

Não por falta de opção, mas sim pela falta de apelo de Neymar no mercado estrangeiro.

Hoje a biruta virou. Neymar foi anunciado como garoto-propaganda da Castrol para a Copa do Mundo (leia aqui). Agora jogador do Barcelona, o atleta é o rosto global da marca, como foi Cristiano Ronaldo para o Mundial de 2010.

O que mudou de meio ano para cá foi o status de Neymar. Apesar da fama do passado, o Santos hoje não é um clube de alcance global. O projeto de manter o jogador no Brasil até a Copa era utópico nesse sentido. A partir do instante que Neymar ganhou projeção dentro da seleção brasileira, não havia mais espaço para ele dentro do futebol nacional.

A ida para o Barcelona representa um outro patamar para a imagem de Neymar. Se, antes, o apelo dele como rosto da propaganda estava restrito ao mercado brasileiro, agora a história é bem diferente. Com o Barça, Neymar atinge diversos mercados. Seu rosto é estampado em diferentes países. Amanhã, na Liga dos Campeões, mais de 170 países verão o jogador em atuação pelo time espanhol.

Por mais aquecido que estivesse o mercado brasileiro, o apelo de Neymar era limitado ao tamanho do Brasil. Ao ir para o Barcelona, Neymar deixou de ser um astro local para se tornar global. Isso é um excelente motivo para explicar a mudança de clube do jogador, além da óbvia (e tumultuada) questão financeira.

O futebol brasileiro precisa entender que é urgente diminuir a defasagem em relação à expansão global do futebol europeu. Do contrário, chineses e americanos virão com milhões de dólares e uma excelente estratégia para preencher essa lacuna. E os jogadores terão novos mercados para expandirem suas marcas.


O golpe de mestre da Adidas com a Alemanha Rubro Negra
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Erich Beting

A Alemanha poderá vestir uma espécie de réplica da camisa do Flamengo na Copa do Mundo de 2014. Nesta quinta-feira, a federação alemã apresentou a camisa número 2 da seleção, feita pela Adidas para que os atletas usem durante o Mundial. O modelo, inegavelmente, lembra o uniforme do clube brasileiro.

A estratégia é um golpe de mestre da marca. Em uma única ação, ele valoriza dois grandes ativos da empresa. Parceiro mais antigo da fabricante, a seleção alemã desembarcará no Brasil com uma garantia de que terá, pelo menos, a simpatia do torcedor flamenguista, que vem a ser curiosamente um dos parceiros mais recentes da Adidas no mundo. Da mesma forma é uma ação que valoriza o Flamengo e aproxima-o daquilo que a empresa quis ao fechar o maior contrato de patrocínio da história do futebol brasileiro, que é projetar a marca do clube para o mundo.

Mas a chamada usada pelos alemães para o lançamento do uniforme mostra o longo caminho que ainda precisa ser percorrido.

''A camisa que usaremos no Rio'' é a forma como a federação alemã mostra, em seu perfil no Facebook, o novo uniforme do time. Nos comentários, muitos torcedores relacionam o uniforme ao famoso personagem Freddy Krueger, do filme ''A Hora do Pesadelo''. Outros criticam o uniforme por fugir da tradicional camisa verde utilizada pelos alemães em Copas. E muitos outros ficam irritados pelo fato de a camisa ''rebaixar'' a Alemanha para algo menor, que seria um time de futebol no Brasil.

A apresentação da nova camisa alemã, no perfil da marca no Facebook

A apresentação da nova camisa alemã, no perfil da marca no Facebook

A ação, nesse sentido, tem muito mais efeito para o torcedor brasileiro do que para o alemão.

A projeção do Flamengo para o exterior depende, muito, do conhecimento do clube no exterior. E isso ainda é um passo muito longo a ser dado pelo futebol no Brasil. Sem promover nossos times e competições no estrangeiro, ficamos com a falsa impressão de que nossos clubes são conhecidos pelos feitos do passado. A última vez que o Flamengo enfrentou um time da Europa foi no ano 2000, quando o clube participou de um torneio chamado Villa de Madrid.

São quase 15 anos em que os torcedores não são impactados pela marca do Flamengo no mercado europeu. Ao mesmo tempo, durante esse período os clubes do Velho Continente se organizaram e expandiram suas marcas e ídolos para o exterior. Para o torcedor alemão, é estranho que o seu país atenda a um anseio da marca patrocinadora e vista uma camisa que rompa com as tradições do país. Isso pode até gerar uma crise no mercado local.

Na relação da Adidas com o torcedor flamenguista, porém, a camisa foi um golpe de mestre. Ele ficará muito mais favorável às três listras depois disso.


Paulo André na China? Nem o Marin teria essa ideia!
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Erich Beting

Paulo André foi negociado com o futebol chinês. Era umas 7h da manhã desta quarta-feira quando li nas redes sociais a chamada para a reportagem do Lance! sobre a negociação do zagueiro do Corinthians. Achei que fosse ainda efeito do sono interrompido pelo despertador. Lavei o rosto, voltei para o celular e a confirmação estava lá. Realmente o Paulo André decidiu embarcar para a China.

A decisão é única e exclusivamente dele. Mas não dá para imaginar que não seja parte de um grande projeto arquitetado por José Maria Marin, o presidente da CBF. Claro! Só pode ser isso. Se bem que, analisando os dois anos de gestão Marin à frente da entidade, é bem possível que ele não conseguisse bolar um plano tão mirabolante assim…

Mas, enfim, Paulo André vai para a China. E talvez leve com ele a lufada de esperança que havia de que o artista decidisse elevar o nível do show aqui do futebol no Brasil. Sim, por mais que o Bom Senso tente dizer que ainda vive, essa ida de Paulo André para o outro lado do mundo representa praticamente um tiro de canhão que atinge o comandante da batalha. Ainda não perdemos a guerra, mas ela ficou muito mais difícil de ser vencida depois dessa.

O posicionamento de Paulo André além das quatro linhas talvez seja muito melhor do que aquele dentro do gramado. E isso fazia dele o grande articulador do Bom Senso FC, nome mais do que acertado que foi dado para o movimento de jogadores que querem exigir do futebol no Brasil melhores condições de trabalho e, mais do que isso, a elevação do esporte para um patamar superior. Em qualidade de espetáculo para todos. Atletas, técnicos, dirigentes, mídia, torcedores e, na ponta final disso, patrocinadores.

Paulo André foi o primeiro jogador que peitou o presidente da Confederação Brasileira de Futebol num debate público. Fez isso não para ganhar moral, mas por acreditar que é possível fazer melhor do que a mediocridade (e atenção ao significado do termo, por favor) que impera nos dias de hoje no futebol.

Esse arranca-rabo foi o grande ponto de ruptura do Bom Senso com a CBF. Rompimento que gerou mais mobilização entre os atletas, mas que não conseguiu dar a eles a força necessária para irem adiante. Paulo André seguiu suas convicções e, naturalmente, virou o líder de um movimento que aparentemente não teria líder. Manteve o discurso contundente sobre o que não concordava, deu a cara a tapa, literalmente.

Ele era o capitão do time que tem hoje a maior exposição na mídia no Brasil. Isso dava ao Bom Senso uma força maior do que teria. E a Paulo André um peso a mais para ser carregado nos ombros. A má performance corintiana dentro de campo foi aos poucos sendo personificada no zagueiro e capitão. Os erros do jogador foram colocados na conta da articulação política do Bom Senso, nas atividades além-campo dele (pintura e leitura, entre outros hobbies). Não tinha sentido dizer apenas que ele estava mal. Assim como esteve o time do Corinthians nos últimos 8 meses, pelo menos. Assim como Paulo André nunca foi brilhante com a bola nos pés.

Naturalmente o pavio de PA não aguentou. E ele decidiu ir para a China!

Para o futebol brasileiro mudar, não basta idealismo. É preciso sugerir alternativas. É preciso articular pessoas que também pensem como a gente. É preciso buscar formas de dar ao talento condições ideais para eles brotarem e permanecerem no país. É preciso ação. É preciso peitar o status quo. É preciso ser mais Paulo André e menos Zé Mané.

Resta saber quem será o novo Paulo André do Bom Senso. Porque, para o movimento pegar, é preciso alguém para liderar. Do contrário, nunca a CBF teve tantos motivos para comemorar um reforço do futebol chinês como agora…

Paulo André diz que Bom Senso se fortalece com sua ida para China
Corinthians prevê economia de R$ 2,3 mi com saída de Paulo André


Com Brasil, Fifa assiste a “estreia” do varejo na Copa
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Erich Beting

A realização da Copa do Mundo no Brasil fez com que a Fifa se deparasse, entre outras coisas, com uma espécie de estreia do segmento do varejo na relação com o Mundial. Com uma forte cultura de alto investimento varejista no mercado publicitário e, consequentemente, esportivo, o Brasil fez com que isso se transportasse para a Copa.

No ano passado a Centauro se tornou a primeira empresa do varejo a patrocinar a Fifa. Agora, a novidade está por conta da Garoto, que lançará nesta terça-feira uma réplica da taça da Copa em chocolate. É a primeira vez que um patrocinador cria um produto de bem de consumo relacionado ao Mundial.

A situação reflete, claramente, uma especificidade do mercado brasileiro que reflete no comportamento da própria indústria do esporte. Por aqui, patrocínio esportivo raramente é visto como plataforma para construção de marca. O “benefício” enxergado, quase sempre, é comercial. Ou seja: ao investir no esporte, a conta feita é qual o impacto que isso terá nas vendas.

Isso cria uma situação única para o país. Temos muitas empresas de varejo investindo em esporte, enquanto marcas grandes preferem ir para a televisão em busca de uma campanha que tenha impacto institucional, como bem mostrou no ano passado a Friboi, que fez o público “comum” questionar a procedência da carne comprada no mercado.

Essa é uma realidade que vem praticamente desde o primeiro Valisére, quando a publicidade institucional teve um resultado jamais visto no país. Desde então, com a força da Globo como emissora de maior alcance no país, virou absolutamente comum para as marcas investirem numa campanha maciça para a TV quando querem ser lembradas.

O ponto é que, com a fragmentação da mídia e o aumento das opções de lazer, deixamos de ser tão impactados pela TV como antes. Os shares da audiência continuam a dar para a Globo uma liderança folgada. Mas a quantidade de aparelhos ligados é cada vez menor.

A exceção é, exatamente, o evento ao vivo. Quando o evento é bom, as pessoas tendem a querer ficar ligadas para acompanhá-lo em tempo real. Isso assegura à TV altos índices de audiência e às empresas que a ele se associam grandes resultados institucionais.

O problema que faz com que, aqui, esse cenário ainda não esteja bem desenhado é que os eventos geralmente são de baixa qualidade. Mas os “últimos capítulos” das novelas mostram a cada ano o quão valioso é o bom conteúdo inédito para engajamento de marcas.

A Copa do Mundo no Brasil, porém, é o evento perfeito para que essa equação mude na cabeça das empresas na hora de planejar um investimento no esporte. Mesmo assim, ainda encontramos marcas que repetem a velha fórmula de sempre. É só ver como a maior parte dos patrocinadores foi para a mídia agora anunciando ações de “compre e ganhe” relacionada a ingressos. É a síntese do pensamento varejista no patrocínio. Algo para o qual a Fifa simplesmente não estava acostumada.


Espanha tenta solucionar problema que ela mesma criou
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Erich Beting

O governo espanhol decidiu intervir e assegurar uma divisão menos desigual da receita de televisão dentro do futebol do país. A medida faz parte de um trabalho da liga espanhola para tentar frear a hegemonia de Real Madrid e Barcelona na geração de receitas e que se estende para o resultado dentro de campo (detalhes podem ser lidos aqui).

O fato é que a Espanha tenta solucionar, agora, um problema que ela mesma criou há cerca de 20 anos. Quando o governo espanhol fez vistas grossas para a divisão de receitas dentro do país e estimulou as soberanias de Real e Barça, criou o problema que agora está mais do que claro dentro do futebol espanhol.

Pesquisas feitas no país mostram que o espanhol sente orgulho em ver uma equipe do país ser chamada de ''melhor do mundo''. Mesmo no cenário de rivalidade extrema como Real Madrid e Barcelona, é bom para a autoestima da Espanha ter um time encabeçando a lista dos melhores. Foi a partir disso que o país passou a desenvolver projetos para ter atletas e equipes dominantes em diversas modalidades.

Em tempos de crise, esse é um eficiente anestésico para a população. A Espanha do desemprego a 25% (4,8 milhões de pessoas) é também a Espanha campeã do mundo e da Europa no futebol, de Rafael Nadal e Fernando Alonso, de Barcelona e Real Madrid, do basquete bom de cesta, etc. É contraditório, e tem de ser mesmo. Afinal, o que o governo espanhol fez foi investir e permitir que o esporte criasse seus grandes líderes mundiais, nem que para isso fosse preciso sufocar a geração de mais ídolos e equipes competitivas.

Só que agora essa conta chegou. O interesse pelo futebol espanhol passou a ser o interesse por Barcelona e Real Madrid. Campeões de 9 dos últimos 12 campeonatos nacionais, eles criaram um enorme problema. Não há perspectiva, no médio prazo, de que a bipolaridade vá se encerrar. Este ano, por milagre e investidores estrangeiros, o Atlético de Madri conseguiu entrar provisoriamente na dança e briga pelo título. Até quando é a pergunta que sempre se faz.

Com o futebol mais bem organizado, naturalmente a lógica da bola vira automaticamente a lógica da grana. Pode mais quem tem mais dinheiro em caixa. Há 15 anos, quando os clubes ainda tinham uma gestão semiprofissional, esse cenário era mascarado. Hoje, com Barça e Real gerenciados de forma profissional, fica impossível competir em nível de igualdade. Equilibrar a diferença da televisão é o primeiro passo para tentar modificar essa realidade.

No futebol brasileiro, durante 20 anos de Clube dos 13, a arrecadação de TV, que é a maior fatia do bolo de receita do futebol no mundo, teve uma divisão mais justa entre os participantes. Desde que o C13 foi implodido, essa divisão passou a ser menos igualitária. Ainda temos o ambiente semiprofissional imperando dentro do futebol tupiniquim.

Será que daqui a 15 anos precisaremos baixar uma lei para tentar deixar a divisão de receitas mais justa e o futebol mais atrativo para o mercado brasileiro? Essa análise de cenário que foi inteligentemente sufocada por Corinthians e Flamengo na ruptura do C13 em 2010 precisa voltar urgentemente à pauta.

Mesmo num cenário muito difícil de hegemonia de apenas dois clubes, até por conta da extensão territorial do país, é natural que, com a maior receita sendo dividida de forma mais desigual, tenhamos pelo menos quatro diferentes tipos de disputas dentro do Campeonato Brasileiro. A do título, a da vaga na Libertadores, o bloco intermediário e os eternos ''gangorras''. Isso, para o futuro do esporte, é o pior cenário possível.

Só não ver quem não quer. Ou quem não estuda.