Paulo André na China? Nem o Marin teria essa ideia!
Erich Beting
Paulo André foi negociado com o futebol chinês. Era umas 7h da manhã desta quarta-feira quando li nas redes sociais a chamada para a reportagem do Lance! sobre a negociação do zagueiro do Corinthians. Achei que fosse ainda efeito do sono interrompido pelo despertador. Lavei o rosto, voltei para o celular e a confirmação estava lá. Realmente o Paulo André decidiu embarcar para a China.
A decisão é única e exclusivamente dele. Mas não dá para imaginar que não seja parte de um grande projeto arquitetado por José Maria Marin, o presidente da CBF. Claro! Só pode ser isso. Se bem que, analisando os dois anos de gestão Marin à frente da entidade, é bem possível que ele não conseguisse bolar um plano tão mirabolante assim…
Mas, enfim, Paulo André vai para a China. E talvez leve com ele a lufada de esperança que havia de que o artista decidisse elevar o nível do show aqui do futebol no Brasil. Sim, por mais que o Bom Senso tente dizer que ainda vive, essa ida de Paulo André para o outro lado do mundo representa praticamente um tiro de canhão que atinge o comandante da batalha. Ainda não perdemos a guerra, mas ela ficou muito mais difícil de ser vencida depois dessa.
O posicionamento de Paulo André além das quatro linhas talvez seja muito melhor do que aquele dentro do gramado. E isso fazia dele o grande articulador do Bom Senso FC, nome mais do que acertado que foi dado para o movimento de jogadores que querem exigir do futebol no Brasil melhores condições de trabalho e, mais do que isso, a elevação do esporte para um patamar superior. Em qualidade de espetáculo para todos. Atletas, técnicos, dirigentes, mídia, torcedores e, na ponta final disso, patrocinadores.
Paulo André foi o primeiro jogador que peitou o presidente da Confederação Brasileira de Futebol num debate público. Fez isso não para ganhar moral, mas por acreditar que é possível fazer melhor do que a mediocridade (e atenção ao significado do termo, por favor) que impera nos dias de hoje no futebol.
Esse arranca-rabo foi o grande ponto de ruptura do Bom Senso com a CBF. Rompimento que gerou mais mobilização entre os atletas, mas que não conseguiu dar a eles a força necessária para irem adiante. Paulo André seguiu suas convicções e, naturalmente, virou o líder de um movimento que aparentemente não teria líder. Manteve o discurso contundente sobre o que não concordava, deu a cara a tapa, literalmente.
Ele era o capitão do time que tem hoje a maior exposição na mídia no Brasil. Isso dava ao Bom Senso uma força maior do que teria. E a Paulo André um peso a mais para ser carregado nos ombros. A má performance corintiana dentro de campo foi aos poucos sendo personificada no zagueiro e capitão. Os erros do jogador foram colocados na conta da articulação política do Bom Senso, nas atividades além-campo dele (pintura e leitura, entre outros hobbies). Não tinha sentido dizer apenas que ele estava mal. Assim como esteve o time do Corinthians nos últimos 8 meses, pelo menos. Assim como Paulo André nunca foi brilhante com a bola nos pés.
Naturalmente o pavio de PA não aguentou. E ele decidiu ir para a China!
Para o futebol brasileiro mudar, não basta idealismo. É preciso sugerir alternativas. É preciso articular pessoas que também pensem como a gente. É preciso buscar formas de dar ao talento condições ideais para eles brotarem e permanecerem no país. É preciso ação. É preciso peitar o status quo. É preciso ser mais Paulo André e menos Zé Mané.
Resta saber quem será o novo Paulo André do Bom Senso. Porque, para o movimento pegar, é preciso alguém para liderar. Do contrário, nunca a CBF teve tantos motivos para comemorar um reforço do futebol chinês como agora…