Negócios do Esporte

O orçamento “de mentirinha” do Rio-2016
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Erich Beting

Calma, também não é para esse alarme todo. Mas o que era para ser a primeira grande notícia dos Jogos Olímpicos de 2016 se transformou numa espécie de ''conversa para boi dormir'', se é que boi dorme quando conversamos com ele. O orçamento apresentado pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016 no último dia 23 de janeiro é, na prática, muito menos do que o custo do evento.

Os R$ 7 bilhões apontados por Rio-2016 referem-se apenas e tão somente aos custos privados do evento. A propalada transparência que o presidente do comitê, Carlos Arthur Nuzman, defendeu na apresentação desses números nada mais é do que uma exigência do Comitê Olímpico Internacional, principal interessado nessa história. Afinal, é esse o custo, de fato, de realizar as Olimpíadas. E, se houver lucro nessa conta, ele também vai para o bolso do COI, que é o dono do evento.

Mas e o orçamento geral das Olimpíadas? Esse número, ainda guardado a sete chaves pelo governo e pelos organizadores dos Jogos, é que realmente nos dará a dimensão de quanto teremos de desembolsar pelo ''sonho'' do Rio-2016. E é somente quando soubermos quais serão esses números que poderemos descobrir qual caminho o Rio irá traçar.

Estaremos mais próximos de Sochi e Pequim ou de Londres?

Os Jogos de Inverno que se iniciam logo mais bateram o recorde de gasto público numa Olimpíada. Superou em alguns bilhões os já estratosféricos US$ 42 bilhões que concediam a Pequim-2008 a liderança. Londres, por outro lado, promoveu os Jogos do orçamento enxuto. Com ''apenas'' 9 bilhões de libras, cumpriu todas as exigências do COI e entregou um evento impecável para o público e para os atletas.

A dois anos e meio dos Jogos Olímpicos, o Rio está muito mais para cumprir a sina dos países emergentes de cifras bilionárias e ganhos duvidosos com as Olimpíadas. A cada megaevento que passa, tem-se a certeza de que legado, mesmo, só quando um país desenvolvido, com baixa necessidade de investimento em infraestrutura, recebe o direito de abrigar a competição.

Os R$ 7 bilhões que o Rio apresentou como custo, dentro da conta que será, no mínimo, três vezes maior do que essa, acaba transformando o orçamento já apresentado para as Olimpíadas numa espécie de ''mentirinha''. Isso é o quanto custaria os Jogos se eles fossem disputados em qualquer canto do planeta. O dispendioso é o restante, que foge da esfera privada assegurar o financiamento…


Futebol atrai patrocínio de segmentos específicos
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Erich Beting

O futebol no Brasil assistiu, nos últimos anos, a um fenômeno que costuma acontecer com frequência no exterior e que, de uma forma ou de outra, revela um amadurecimento do mercado de patrocínio. Na última quarta-feira foi anunciado o patrocínio da rede de idiomas CNA ao time do Santos (detalhes aqui). O negócio coloca mais uma marca do segmento no patrocínio a clubes de futebol em São Paulo.

Está longe de ser ''coincidência'' essa movimentação das empresas do mesmo segmento em torno de um mesmo tipo de propriedade a ser patrocinada. Quando a Fisk fechou com o Corinthians, lá em 2011, deu início a uma movimentação das escolas de idioma em torno do futebol. No ano seguinte, a Wizard assinou com o São Paulo. Em 2013, a Minds esteve na camisa do Santos. Agora, a empresa foi para o Palmeiras, e o clube litorâneo fechou com a CNA.

Um movimento similar, mas com outros patamares de investimento, já havia acontecido na área dos planos de saúde, com a Liberty na Copa do Mundo, a Seguros Unimed na seleção e a Allianz no naming right do novo estádio do Palmeiras, nos três investimentos mais significativos desse setor.

No Brasil, o futebol, pela força de mídia que possui, consegue esse tipo de fenômeno. Quando uma marca de um segmento específico entra num patrocínio da modalidade, acaba tendo um aumento substancial de exposição em relação aos concorrentes. Com isso, as marcas rivais começam a se mobilizar para ter um alcance similar e, assim, não ficar para trás.

O grande ponto, porém, é que, do jeito que estão os valores de patrocínio ao futebol no Brasil, é cada vez mais raro encontrar um segmento novo que possa ser explorado pelos clubes em busca de um aporte substancial de grana. O caminho para ser trabalhado é promover a volta das empresas de eletroeletrônicos e as montadoras de automóveis, grandes patrocinadoras do futebol no exterior mas que, por aqui, têm ficado à margem dos clubes. Para isso acontecer, porém, é preciso convencer essas empresas de que é seguro e dá retorno investir nos clubes. Por que as experiências recentes mostram exatamente o contrário…


Adidas regionaliza acordos, e prepara ofensiva pré-Copa
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Erich Beting

A Adidas iniciou 2014 com uma investida estratégica no fornecimento de material esportivo a clubes de futebol no Brasil. Na semana passada, anunciou finalmente o acordo com o Sport, do Recife, e também apresentou a nova camisa do Botafogo, de Ribeirão Preto (SP). Os dois negócios fazem parte da nova ofensiva da marca alemã sobre o mercado brasileiro às vésperas da Copa do Mundo.

Os acordos trazem para o Brasil a realidade da marca alemã na Europa. São negócios em que não há desembolso de dinheiro, apenas o fornecimento de produtos. O ganho, para a marca e para os clubes, está na venda dos produtos oficiais. Isso exige, dos dois lados, um comprometimento muito maior do que o que até hoje vigorou na maioria dos relacionamentos de material esportivo no Brasil.

O negócio, também, não é novidade no Brasil. A Nike, via Netshoes, tem o mesmo modelo com Santos, Coritiba e Bahia. Agora, a novidade é que a Adidas entrou nessa, o que deve transformar – e isso é um boa notícia – a cara do mercado de material esportivo no país para os próximos anos.

A ofensiva da fabricante alemã está apoiada nos bons números do varejo brasileiro nos últimos anos. Com vendas em alta na casa dos dois dígitos há pelo menos meia década, as empresas de material esportivo estão apostando no país como plataforma de negócio. Isso transforma a realidade de um mercado que viveu, quase sempre, da exposição de marca, e não do resultado de vendas.

Se, há praticamente dez anos, os clubes de ponta tiveram o primeiro grande salto nos valores pagos pelas fabricantes, agora a tendência é que a realidade mude para os clubes de médio e pequeno porte. Com um modelo de negócios bem mais enxuto, os clubes ganham ao ter material de empresas renomadas, que por sua vez conseguem ampliar as vendas ao chegarem a um novo tipo de consumidor.

Só para se ter uma ideia, até 2011, Adidas e Nike tinham, cada uma, duas entidades patrocinadas no futebol (Corinthians e seleção brasileira com os americanos, Fluminense e Palmeiras com os alemães). Hoje, cada uma tem seis propriedades no país (Seleção Brasileira, Corinthians, Inter, Bahia, Coritiba e Santos com a Nike; Fluminense, Palmeiras, Flamengo, Sport, Red Bull Brasil e Botafogo-SP com a Adidas).

O duelo entre Adidas e Nike nunca esteve tão latente no mercado brasileiro do futebol. A diferença, agora, é que essa briga atingiu um novo patamar, que são os clubes ''menores''. Geralmente as empresas de material esportivo são as que puxam o processo de profissionalização dentro das entidades esportivas, exigindo um trabalho mais maduro do gestor. Quem não se arrumar pode perder o bonde nessa história…


Audiência em queda, mais um sintoma da falta de bom senso
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Erich Beting

O Paulistão Chevrolet estreou na telinha em 2014 em queda de audiência. Na soma, Globo e Band registraram 16 pontos na medição do Ibope, um ponto a menos que em 2013, 2,5 pontos de queda em relação a 2012 e 5 pontos em relação a 2011 (reportagem completa disponível aqui). Mas  que faz o torneio perder 25% de audiência num espaço de quatro anos?

A audiência em queda do principal campeonato estadual do país é só mais um sintoma da falta de bom senso que toma conta do futebol. Estreamos o Paulistão com pouco mais de um mês do término do Paulistão, mas de fato sem tempo para criar, no torcedor, a vontade de consumir seu time. Além disso, com 20 clubes (o mesmo que o campeonato nacional!!!), o Estadual de São Paulo é modorrento, arrastado, segue um roteiro previsível até a fase final. Mais um motivo para que as folgas sejam aproveitadas de outra forma que não torcendo pelo time.

A sobrevivência dos Estaduais tem amparo político. É por meio deles que as federações seguem fortes e, assim, é mantido o comando da CBF. Mas o que vai acontecer se o índice de audiência seguir ladeira abaixo?

O torcedor dá, a cada dia que passa, mostras de que o modelo vigente não mais lhe interessa. Os Estaduais estão, paulatinamente, ficando restritos aos fanáticos por futebol, o que é a minoria do negócio e, claramente, não é o que torna o esporte atraente. Hoje, a audiência dos Estaduais já fica próxima à da final do vôlei, ou até mesmo da São Silvestre, o que mostra que boa parte do público que está lá é por conta da rede de televisão que exibe o jogo e não por causa do evento que é exibido.

O grande segredo do esporte é ser um ótimo conteúdo para as emissoras de televisão. É por esse motivo que as empresas de mídia pagam tão caro para ter o conteúdo esportivo com exclusividade em sua grade.

Por aqui, o modelo começa a se aproximar da derrocada. Em breve, será mais negócio para a Globo abrir mão de transmitir os Estaduais. O bom gestor, em breve, será aquele que tiver nada além do que bom senso na hora de pensar o produto do futebol. É evidente que o modelo atual chegou no limite. Cada vez mais.


Não duvide de nada, mas duvide de todos
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Erich Beting

No futebol brasileiro, não duvide de nada, mas duvide de todos.

A sensação é essa, após um novo capítulo da novela ''Brasileirão-2013 nos Tribunais do país''. A ESPN revelou na noite de domingo um contrato que teria sido enviado pela Confederação Brasileira de Futebol à Portuguesa, oferecendo R$ 4 milhões para que o clube paulista desistisse de jogar a Série A deste 2014 e aceitasse a decisão do tribunal de justiça desportiva, que rebaixou a Lusa e manteve o Fluminense na principal divisão do futebol.

Se realmente for verdade, esse documento seria a confissão de culpa da CBF no caso. Ou, pelo menos, de que a entidade teme que de fato haja um enrosco tremendo para gerenciar o Brasileirinho-2014, já que a chance de o enrosco jurídico se estender até o inviável ''junta todo mundo e chame isso de Primeira Divisão'' é muito grande.

Foi assim em 99/2000, no caso Gama. E tem tudo para ser assim mais uma vez.

O que mais intriga é que, nesse novo episódio envolvendo a Lusa, é muito estranho oficializar, via documento, um oferecimento de dinheiro (mesmo que seja um empréstimo) em troca de um favor da outra parte. Mas, considerando o futebol no Brasil, não dá para duvidar que seja verdade.

É só olhar a tabela de classificação do Paulistão Chevrolet após a primeira rodada. No Grupo A, os líderes são Comercial e Linense, que não conquistaram nenhum ponto! Sim, é isso mesmo!

Ou seja, tudo é possível. Da mesma forma, é muito, mas muito possível, forjar-se um documento em nome da CBF, enviá-lo à redação de um grande veículo de comunicação e dizer que o clube tinha recebido isso. Geralmente esses documentos chegam para os jornalistas das mãos mais distantes da grande cúpula. Não à toa o documento chegou um dia após a divulgação, feita pela revista Veja, do sigilo telefônico do advogado que foi o pivô de toda a confusão envolvendo a escalação de Heverton.

Enquanto a Justiça não dá um parecer final, o melhor a fazer é não duvidar de nada, mas duvidar de todos. E, assim, o futebol no Brasil consegue, naquele que teoricamente deveria ser o ano mais frutífero da história, jogar pelo ralo a credibilidade que tinha sido retomada pós-viradas de mesa, Copa João Havelange, CPIs e afins.

A mesa já virou. E quem tombou, não resta dúvidas, foi o futebol brasileiro como um todo.


A exposição não é tudo para um patrocinador
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Erich Beting

O caso relatado a seguir é verídico. Aconteceu no último dia 14 de janeiro, quando estava numa loja da Centauro comprando um par de tênis para tentar voltar a jogar futsal.

Na loja, a vendedora dava conta de atender ao meu pedido e ao de um outro comprador, que olhava uma camisa do São Paulo. O jovem, na faixa dos seus 20 e poucos anos, estava indeciso, perguntava para a namorada e para a vendedora qual seria o melhor tamanho e, mais ainda, vivia um dilema porque, ao mesmo tempo em que queria personalizar a camisa, se perguntava onde caberia o seu nome e, também, os autógrafos dos jogadores que um parente da namorada iria pegar para ele.

No final das contas, ele desistiu de colocar o próprio nome na camisa, e praguejou pela falta de espaço no uniforme, tomado pelas marcas de patrocinadores nas mangas, no peito, nas costas e na barra da camisa tricolor. O excesso de patrocinadores, no fim, desagradou o torcedor.

Depois de conseguir achar meu par de tênis, a vendedora me disse para passar no caixa e aproveitar, já que, a cada 50 reais em compra, eu poderia concorrer a um par de ingressos para a abertura da Copa do Mundo, promoção feita pela Centauro, que é patrocinadora do Mundial.

A situação, no fim, mostrou exatamente os dois lados de um patrocínio esportivo e a mudança de conceito que ainda falta para o mercado brasileiro. Muitas empresas ainda acreditam que a exposição da marca num evento esportivo é o maior benefício que ela pode extrair de um patrocínio.

O episódio vivenciado na última terça-feira mostra exatamente o oposto dessa situação. Nos relatórios de exposição de marca, sem dúvida que STI/Semp Toshiba, Wizard e Penalty ganham pontos ao se associarem ao São Paulo. As marcas estão ali, expostas na TV aberta, na TV fechada, na internet, nos jornais e revistas. O ano todo.

Mas para o consumidor, o que isso representa?

Com o mundo amplamente conectado e mutante numa velocidade cada vez maior, a relação da marca com as pessoas mudou. Não é mais a maciça exposição dela que levará um consumidor a decidir sua compra. Logicamente que isso ajuda, mas é cada vez mais difícil a marca chegar à mente das pessoas pelos meios tradicionalmente conhecidos. Hoje, exposição de marca em camisa de futebol é algo relativamente banal. Só nos últimos cinco anos, mais de 200 marcas diferentes passaram pelos olhos do torcedor, apenas na Série A do Campeonato Brasileiro. Há muitas empresas, há muita informação, há pouca retenção dessa informação.

Na prática, muito mais eficiente é você poder se apropriar de algo que só o esporte pode te oferecer e, aí sim, criar uma promoção de valor para o cliente. A Centauro tem direito à placa de publicidade ao redor do campo nos jogos da Copa do Mundo. Mas, para a empresa, o maior benefício que existe é fazer a promoção de sorteio de ingressos para as partidas do Mundial.

A exposição não pode mais ser vista como o grande benefício de um patrocínio esportivo. Ela é, sem dúvida, muito boa. Só que a eficiência de um patrocínio virá muito mais da apropriação que a marca faz dos atributos dele do que propriamente da audiência que é gerada pelo esporte.

E isso pode ser percebido numa simples ida a uma loja para comprar um artigo esportivo…


Com carro, Flamengo dá novo significado a sócio-torcedor
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Erich Beting

No ano passado critiquei a estratégia do Flamengo em relação ao programa de sócio-torcedor quando atrelou ao benefício apenas a facilidade na aquisição do ingresso para a final da Copa do Brasil (relembre aqui). Até então, ter o ingresso para um jogo era o grande diferencial do programa (como todos os outros projetos de sócio-torcedor pelo país).

Só que, no início deste ano, o Flamengo elevou a um novo patamar o seu programa. Numa ação de incentivo a torcedores trazerem novos torcedores, o clube criou uma campanha que, além de incentivar o aumento do sócio-torcedor, ativa as parcerias comerciais do Flamengo.

Até março, o torcedor que angariar mais associados ganhará um carro da Peugeot, patrocinadora do clube. Os outros mais bem colocados ficarão com uma geladeira personalizada do Flamengo, feita pela Brahma, mentora do sócio-torcedor (mais detalhes podem ser vistos aqui).

Do jeito que é a paixão pelo clube, não duvido que vai ter associado mais satisfeito em ganhar a geladeira do clube do que o carro.

E, logicamente, a ação pode fazer com que o Flamengo consiga, em breve, ultrapassar Inter e Grêmio na liderança dos programas de sócio-torcedor pelo país.

Aos poucos, os clubes vão entendendo que é preciso criar valor que vai além do ingresso para que o torcedor queira continuar associado. Apenas a paixão pelo time não é suficiente para fazer o torcedor desembolsar uma grana mensal para o clube. O Flamengo dá um novo significado ao sócio-torcedor com a ação criada. E, com certeza, deve puxar a fila de novas promoções que façam com que o ingresso para o jogo seja apenas um dos benefícios dos programas de sócio-torcedor.


Com medo, Rio tenta fugir do rótulo de “Capital do Esporte”
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Erich Beting

O discurso em 2010 era animador: ''Vamos ser a capital mundial do esporte''. Os planos do Rio de Janeiro eram ambiciosos. Na Copa do Mundo de 2014, a Cidade Maravilhosa já abrigaria o centro de mídia e também, entre outros jogos, a tão sonhada final da competição. A consagração veio em outubro de 2009, quando a cidade foi escolhida para receber os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

Pronto! O cenário estava armado e, não restava dúvidas, o Rio era a ''Capital Mundial do Esporte''. Assim, com letras maiúsculas cada palavra da frase.

Nesse contexto, vieram investimentos altos do Rio, que passou, tal qual Eike Batista, a querer conquistar o mundo. Fazer a Soccerex custa R$ 20 milhões por ano? Sem problemas! Vamos trazer os principais eventos do esporte para cá, o valor é o de menos! Com esse pensamento, investir para trazer o Oscar do Esporte, reunindo todos os principais nomes do mundo, era algo simples de ser feito. Era só redigir o contrato, passar o cheque no fim de tudo e pronto! Tudo em nome da Capital Mundial do Esporte…

Essa era, mais ou menos, a lógica que permeava a cabeça dos políticos do Rio entre 2009 e 2013.

Até que vieram os protestos no meio do ano passado, no embalo da Copa das Confederações e do aumento das tarifas de ônibus. E eles foram ligados aos dois acontecimentos. E continuaram. A rua da casa de Sérgio Cabral, governador fluminense, virou um transtorno. O sentimento de que a cobrança sobre a prefeitura e o governo não iria mais parar veio à tona.

E mudou, radicalmente, o posicionamento que o Rio de Janeiro tomou em relação a qualquer evento esportivo. Se, antes, o Rio sonhava em ser a Cidade do Esporte, hoje a história é bem diferente. Qualquer investimento além daquele já planejado para os megaeventos está sendo cancelado.

Foi assim com a Soccerex, no fim do ano passado. É agora, a dois meses do Laureus. Está sendo na discussão sobre prover a segurança para o Fan Fest na Copa do Mundo. Outros eventos de outras modalidades, que seriam preparatórios para Rio-2016, já começam a ter condições mais duras de negociação com o Rio.

O problema que acomete o Rio é, basicamente, aquele que faltou para o país em todo o processo de sede dos dois maiores eventos esportivos do planeta. Ao assinar os contratos com Fifa e COI, o Brasil se comprometeu a fazer o evento acontecer, mesmo que não houvesse financiamento privado para eles. Até aí, nenhuma novidade. É assim desde que COI e Fifa endureceram o jogo após verem que tinham uma mina de ouro em suas mãos.

Acontece que, no Brasil, ficamos no oba-oba de que teríamos Copa e Olimpíada e esquecemos de ficar com o devido ''frio na barriga'' de que teríamos de planejar e, principalmente, executar com maestria toda essa história de megaeventos. Os estádios estão ficando prontos quase dois anos depois do previsto. As obras de entorno, que seriam importantes para ajudar na mobilidade urbana já caótica da maioria das sedes, estão uma a uma sendo derrubadas, ou subdimensionadas em relação ao plano original.

O atraso não é de agora. Em 2008, menos de um ano após a escolha do Brasil como sede da Copa, um levantamento da equipe da Máquina do Esporte já mostrava que estávamos mais atrasados que a Alemanha pré-2006 e que, em alguns pontos-chaves, já estávamos atrás da África-2010, que caminhava para fazer do Mundial uma oportunidade perdida para ajudar no desenvolvimento do país.

O cancelamento de eventos que serviriam para promover o Rio de Janeiro para o mundo é mais uma prova de que não conseguimos levar para a prática aquilo que a teoria mostrava ser possível. Faltou, basicamente, conversar com quem fez grandes eventos de sucesso para implementar, da mesma forma, esses conceitos por aqui.

Londres fez isso na pré-candidatura para 2012. Uma equipe designada pelo governo inglês foi a Munique (sede dos Jogos de 1972), Montreal (1976), Barcelona (1992), Sidney (2000) e Pequim (que receberia os Jogos de 2008). Conversou com todos para então montar o plano das Olimpíadas. De Munique, extraiu o conceito do Parque Olímpico. De Montreal, entendeu onde o Canadá errou para ter de pagar, até 2006, a conta dos Jogos de 30 anos antes. Em Barcelona, aprendeu como revitalizar uma área degradada da cidade. Em Sidney, descobriu que, para manter o orçamento em dia, precisaria criar uma lei para evitar a especulação imobiliária. E, em Pequim, soube como fazer um bom marketing promocional do país a partir do evento.

Só a partir disso foi construído o projeto olímpico londrino. Executado com maestria, dentro do orçamento, sem grande desgaste com a população, mesmo com uma grave crise econômica estourando no meio do processo.

Por aqui, não estudamos, não conversamos, não planejamos. E, agora, nos resta como alternativa cancelar.

O Rio percebeu, tardiamente, que não dá mais para ganhar com os eventos. Ou melhor. Até dá para faturar, mas o custo disso está muito alto para correr riscos aparentemente desnecessários. E, nesse contexto, é melhor tentar fugir do rótulo de ''Capital do Esporte''.


Anderson Silva e o Fantástico; quem se dá melhor?
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Erich Beting

Mais uma derrota. Mais uma ida ao Fantástico. Anderson Silva foi juntar os cacos de mais uma perda de título no UFC em nova ''entrevista oficial'' no programa de domingo da Globo. Como já dito aqui quando da primeira derrota para o americano Chris Weidman, o que foi fazer o lutador ao dar entrevista para o programa (relembre aqui)?

Afinal, os públicos do Fantástico e do UFC são absolutamente distintos. Por isso mesmo, a estratégia de Silva ir ao programa da Globo para falar pela primeira vez atende muito mais aos anseios da TV do que dele mesmo.

Como é a promotora do UFC no país, a Globo precisa popularizar ao máximo a imagem de Anderson Silva. A audiência dela já é cativa na venda de pacotes de PPV das lutas, tanto que o confronto de 28 de dezembro, em plena folga de fim de ano, bateu o recorde de venda da assinatura unitária dos combates. Da mesma forma, a transmissão do VT da luta na TV aberta chegou a 15 pontos, sendo que a luta começou a ser exibida com Silva já tendo até dado entrada no hospital!

No fim das contas, quando vai ao Fantástico, o lutador dá à Globo a corda que ela precisa para manter a aura do UFC viva na mente do torcedor. Anderson Silva é transformado em ''coitadinho'', expõe suas fraquezas, mostra seu lado humano, deixa claro que é mais um que participa do ''show da vida''.

Isso alimenta, e muito, a necessidade de a Globo promover o UFC em sua programação, mas será que atende aos anseios de Silva? O maior desafio que UFC, Globo e Anderson Silva têm nos próximos meses é provar de que ambos conseguem viver sem o outro. O caminho para a TV está bem traçado, ao manter na mente das pessoas o interesse pela modalidade.

O mais difícil será para Anderson Silva. Não foi só com o Fantástico que ele construiu sua fama. E, definitivamente, não será com ele que será possível mantê-la…


Com gols, Ferroviário coloca patrocinador no Fantástico
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Erich Beting

O fato aconteceu na semana passada, mas só hoje liguei os pontos. Essa talvez seja a melhor ação de emboscada já feita por uma marca com a Rede Globo. E, o que é mais legal. De forma absolutamente legal e usando as armas dadas pela própria Globo para cair na armadilha por ela armada.

O atacante Iarley (aquele mesmo, campeão do mundo pelo Inter, mas que passou antes por Paysandu e Boca Juniors e depois pelo Corinthians) está, aos 36 anos, jogando pelo Ferroviário, do Ceará. Na abertura do Campeonato Cearense, Iarley fez três gols na goleada de 7 a 2 sobre o Crato. E, como o próprio apresentador Tadeu Schmidt fez questão de enfatizar, surgiu o ''primeiro artilheiro musical de 2014'' no Fantástico, programa dominical da Globo que oferece ao jogador o direito de pedir uma música quando faz três gols.

Iarley foi enfático ao dizer para a TV:

''Eu gostaria de pedir a música do Forró Sacode, o patrocinador''.

Até aí não teria nada demais. Afinal, o gosto do jogador é o que teoricamente guia a escolha da música. Não fosse por um detalhe. Quem é ''o patrocinador'' do Ferroviário?

sacode-frente

Pois é. A banda Forró Sacode estampa a marca na camisa do clube… Mas, o que é mais engraçado, é que a mudança da marca da banda para o peito da camisa só foi oficializada na última sexta-feira. No dia do jogo dos três gols de Iarley, o patrocinador ainda estava na manga do uniforme (que é possível ver, só de relance, no vídeo que a Globo mostrou – aqui). No dia, o Fantástico teve uma média de 19 pontos na medição do Ibope na cidade de São Paulo, o que equivale, numa conta aproximada, a cerca de 3,5 milhões de pessoas só na região da capital paulista.

A sacada do Sacode foi simplesmente genial…