Negócios do Esporte

Gaviões da Fiel processa torcida gay corintiana. Mas e o Corinthians?
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Erich Beting

A Gaviões da Fiel decidiu entrar com um processo para impedir que a Gaivotas Fiéis, torcida gay que foi fundada por Felipeh Campos, que ficou nacionalmente famoso por participar da atração ''Qual é a Música'', de Silvio Santos. O motivo alegado pela Gaviões é o uso indevido do escudo do clube e um plágio do símbolo da própria torcida organizada.

O processo já está na polícia, e poderá modificar os planos de Campos na criação da primeira torcida gay de um clube de futebol (detalhes sobre o caso estão aqui).

As polêmicas de Emerson Sheik

Veja Álbum de fotos


O curioso da história toda não é nem tanto o processo movido pela Gaviões, mas o argumento usado pela instituição para vetar a ''Gaivotas''. Ao denunciar o uso indevido da marca do Corinthians, a torcida organizada acaba criando um motivo para ela mesma acabar sendo punida.

Sim, a Gaviões acusa a Gaivotas de deturpar o símbolo do Timão ao descaracterizar o timão e usar elementos que fazem referência ao grupo LGBT. O argumento usado por Ricardo Cabral, advogado da torcida organizada mais tradicional é o de que é permitido o uso do símbolo do clube, mas não a ''deturpação'' dele.

O uso do símbolo do Corinthians, de forma ''correta'' ou ''deturpada'', caracteriza em apropriação de maneira indevida da marca de outro. Apesar de bater no peito e ter orgulho em dizer que a Gaviões é ''dona'' do Corinthians, legalmente isso não existe.

Tanto os Gaviões quanto as Gaivotas, ou qualquer outra torcida organizada no Brasil, deveriam ter a licença formal para uso da marca de um clube. Em tese, inclusive, as torcidas deveriam pagar uma licença para comercializar produtos com a marca dela e do clube.

Hoje, uma perda importante de receita dos clubes está na exploração comercial das organizadas. Para ficar no exemplo da torcida corintiana. Quando a Gaviões vende um produto, ela só o consegue pela existência do Corinthians. Sendo assim, deveria remunerar o clube pelo uso da marca dele. Por mais que esse artigo não necessariamente leve o símbolo do clube, possivelmente ele tem as mesmas cores e também faz alusão a ele, mesmo que de forma indireta.

As organizadas se transformaram, ao longo das últimas décadas, num poder paralelo aos clubes. Elas exploram comercialmente a marca e não pagam absolutamente nada por isso. Com receio de peitar o status quo, o clube permite o jogo e não faz nada para coibir a pirataria da sua marca.

O processo da Gaviões, dependendo do desfecho que tiver, pode abrir jurisprudência para que as torcidas organizadas sejam cobradas pelo uso da marca dos clubes.

Sinceramente esse seria um bom motivo para que começássemos a recolocar em ordem os negócios no futebol. Nenhuma torcida pode se apropriar de símbolos do clube sem ter a devida licença para isso.

Quem deveria abrir um processo por uso indevido da marca tanto a Gaviões quanto a Gaivotas é o Corinthians. Talvez a Gaviões dê a corda para ela mesmo se enforcar lá na frente…

Ao saber do possível processo, Felipeh Campos comentou a atitude da Gaviões. ''Engraçado, deveriam processar os torcedores que matam e indenizar as famílias que tiveram seus filhos mortos em campeonatos. São tão desinformados que me colocam como o cantor ''Pablo''. Primeiro: o Pablo era dublador e não cantor e juntamente com a Ellen Roche entramos na atração no início do ano 2000. Não existe plágio. Existiria plágio se tivéssemos colocado cílios e salto alto no brasão (Gavião). Gaivota é feminino e gavião é masculino. Deixam claro que é uma retaliação homofóbica e preconceituosa. Nunca quis denegrir a imagem da torcida. Em conversa com o meu advogado, ele disse que não existe por que me processarem. Eles que devem ficar espertos, pois homofobia é crime e ainda posso pedir indenização. Gays do mundo inteiro estarão no Brasil ano que vem para a Copa. Cadê o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e José Maria Marin, presidente da CBF, que não manifestam pelo assunto? Irão deixar chacinas acontecerem?'', falou. 


Pato mantém “sina” corintiana pós-Ronaldo
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Erich Beting

Boa Jogada? Essa foi a chamada de capa da edição 8 da revista Máquina do Esporte, em dezembro de 2008, quando Ronaldo foi anunciado como reforço do Corinthians. A reportagem debatia se o Fenômeno poderia ser ''o cara'' para o Timão. Em meio a mais um período inativo por lesão, sua volta aos gramados era absolutamente incerta. Ronaldo colocava o Corinthians naquela tênue linha que separa uma ação de marketing de um sucesso estrondoso para um fracasso retumbante.

Bom, meio ano depois, com a conquista da Copa do Brasil e uma monstruosa elevação de receita e, principalmente, autoestima do torcedor corintiano, Ronaldo já provava que o ponto de interrogação, para ele, era sempre desentortado para uma exclamação. O sucesso do casamento entre as duas partes foi exatamente o que motivou o Corinthians a tentar repetir, em menores proporções, essa estratégia.

Depois de Ronaldo vieram Roberto Carlos, Adriano, Defederico, Liedson e, agora, Alexandre Pato. Jogadores que tinham além de uma premissa técnica, algum apelo para ações extra-campo. Sem dúvida que não com o mesmo apelo de envolver o mercado publicitário como Ronaldo, que ajudou a resgatar a credibilidade do Corinthians com o patrocinador. Mas pelo menos com apelo para que o torcedor mantivesse o interesse de consumo pelo clube, o que é fundamental para a boa saúde financeira dele.

De todos eles, Adriano e Pato foram sem dúvida os nomes mais celebrados pela mídia – e pelo clube – para que mantivessem um pouco o roteiro de Ronaldo. Apesar de não terem nem um terço do apelo de marketing do Fenômeno, ambos traziam para o torcedor aquela vontade de ver um ídolo mundial em campo com a camisa do time, o que já é um enorme passo para o aumento de consumo (a contratação de Neymar pelo Barcelona é o melhor exemplo disso).

Mas o fato é que, desde Ronaldo, nenhuma estrela conseguiu brilhar tanto no Corinthians. Pelo menos não individualmente. Nas campanhas vitoriosas, o coletivo prevaleceu, sempre.

A sinergia entre os departamentos técnico e de marketing pode gerar combinações muito boas para um clube. Mas também podem levá-lo a uma situação complicada. A sina corintiana pós-Ronaldo é um exemplo disso. Mesmo tendo o aval da comissão técnica, o marketing pode errar absurdamente numa contratação.

Alexandre Pato é mais um que caminha sob essa tênue linha no Corinthians dos últimos anos. Contratado a peso de ouro, apresentado sem grande estardalhaço, mas no embalo da campanha da Locospirose que embalou o título mundial no Japão, ele tinha tudo para ser o cara a mobilizar a torcida a partir de uma ótima performance dentro de campo.

A cavadinha de ontem pode ter jogado Pato para dentro da vala comum. O que é, literalmente, uma pena. Tanto no sentido técnico quanto no de marketing.


O que a Allianz deve pensar da briga entre Palmeiras e WTorre?
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Erich Beting

A disputa entre Palmeiras e WTorre começa a ganhar ares de tragicomédia italiana. Aquela mesma que ajudou bastante o Palmeiras a cair para a Série B pela segunda vez e que, parece, não consegue nunca deixar de dar uma passadinha pelo clube. O contrato que pode estar mal redigido, as pressões ocultas dos dois lados, os interesses que quase nunca são aqueles que estampam as manchetes jornalísticas.

Vários são os fatores ocultos nessa queda de braço. Pode ser que o Palmeiras tenha percebido, com as novas arenas já em funcionamento, que ganharia mais se tivesse direito a 100% de parte dos ingressos. Pode ser também que a WTorre tenha mudado de opinião pelo mesmo motivo, e decidiu reler o contrato e mudar a história.

O fim dessa discussão só na Justiça ou, então, publicando-se o contrato assinado entre as partes, numa não-necessária transparência de Palmeiras e WTorre nessa história.

O que mais me intriga, porém, é saber o que se passa na cabeça dos executivos da Allianz.

Uma empresa de seguros, com sede na Alemanha, que assinou contrato de 20 anos com a WTorre para dar nome ao Allianz Parque. Para quem trabalha com análise de risco, de todas as variáveis que foram analisadas, sem dúvida não haveria uma que preveria uma rota de colisão entre Palmeiras e WTorre nos meses finais de negociação do estádio.

É bem possível que a Allianz já tenha, nos bastidores, pressionado a construtora, que é quem vendeu o patrocínio, para que seja tomada uma decisão.

O que mais me impressiona é que, nessa briga entre Palmeiras e WTorre, ambos esquecem que já existe um cliente da arena antes mesmo de ela estar em pé. E que ele desembolsará R$ 15 milhões por ano no espaço por, pelo menos, 20 anos. Não seria prudente conversar com o patrocinador para não correr o risco de também perder esse negócio?

O futebol brasileiro já é um ambiente absolutamente imprevisível para as empresas investirem, tanto que é cada vez mais raro achar patrocinadores que invistam altas quantias. Os novos estádios, que precisam necessariamente ter lucro, pareciam para o mercado um investimento mais seguro, tanto que três arenas já conseguiram acordos de naming right. 

O estrago que essa briga entre Palmeiras e WTorre pode gerar é muito maior do que se imagina para o futuro do futebol no Brasil.


Com supremacia de Barça e Real, Espanha cria o próprio Superbowl
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Erich Beting

A supremacia de Barcelona e Real Madrid na Espanha fez com que o país vivesse no ''El Clásico'', que acontece no próximo sábado, um fenômeno similar ao Superbowl, o grande jogo decisivo do futebol americano. Empresas, mídia e torcedores passam o ano todo à espera do confronto entre os dois clubes, que têm no duelo a primeira das decisões do campeão espanhol.

Alguns fatores levam a isso. O primeiro, mais óbvio, é o fato de que o que resta de competitividade no futebol da Espanha estar restrito aos dois clubes. O segundo, que também provoca essa concentração de ''esforços'' no duelo é a crise econômica que o país atravessa. Com menos dinheiro, as empresas vão gastar no tiro certo. E, aí, a disputa do jogo que reúne a maioria dos torcedores de futebol da Espanha, passa a concentrar boa parte dos investimentos em ativação de marca.

Nos EUA, o Superbowl é o evento esportivo mais visto do país. Esporte mais popular, o futebol americano reúne, em seu jogo decisivo, todos os torcedores. As marcas usam o evento para fazer o lançamento de produtos. A mídia pauta a cobertura conforme a partida. A cidade-sede fatura horrores com a promoção do turismo. Músicos disputam o status de ''dono'' do show do intervalo, etc.

Na Espanha a ativação do ''El Clásico'' não chega a ser desse jeito, logicamente pelo fato de não existir uma final no Campeonato Espanhol, disputado no sistema de pontos corridos. Mas aos poucos ele começa a concentrar a verba das marcas. Um bom exemplo foi o vídeo lançado pela Audi, que faz uma brincadeira com o duelo nas pistas. Patrocinadora dos dois times, a criação da peça rodou o mundo (o vídeo está ao final do texto) e mostrou o caminho banal de ativação de marca via redes sociais.

Outra sacada bem humorada foi feita pelo Salão Erótico de Barcelona, que brincou com a rivalidade dos dois clubes para promover o evento. Mais uma vez a bipolarização da disputa na Espanha praticamente guia a publicidade, até mesmo daquilo que não tem nada a ver com o futebol (vídeo também ao fim do texto).

Para quem está de fora, como é o caso do mercado brasileiro, o frenesi em torno de Barcelona e Real Madrid parece mostrar o exemplo a ser seguido pelo futebol daqui. É preciso, porém, ir muito além da repercussão mundial desses clubes para perceber o quão vazio é o sucesso de ambos. Todo o oba-oba sobre a dupla espanhola é reflexo direto da ausência de outros clubes competitivos no mercado local. Graças ao orgulho espanhol, o governo ajudou a criar esse cenário, apoiando a bipolarização do futebol no país como uma estratégia para elevar a imagem da Espanha em todo o mundo.

Hoje, Real Madrid e Barcelona são, respectivamente, o primeiro e o segundo em geração de receitas no mundo. Na lista dos 20 clubes mais ricos, não há nenhum outro time da Espanha. Financeiramente, há um enorme abismo entre os dois e o restante dos clubes espanhóis. Esportivamente, também. É muito legal ver que ''El Clásico'' é hoje um evento global. Mas ao custo de dizimar o futebol local, realmente é algo que não gostaria de ver acontecer por aqui.

Enquanto o Brasil seguir olhando o futebol europeu como exemplo de gestão, correremos sempre o risco de cada vez mais deixarmos as vitórias restritas a poucos.

Mas, até lá, vale ver como as marcas têm se aproveitado da bipolarização no mercado espanhol.


Ação da Audi pré-jogo


Chamada do Salão Erótico de Barcelona


Transferência de atletas nas cinco maiores ligas soma R$ 7 bilhões
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Erich Beting

A transferência de atletas nas cinco principais ligas de futebol da Europa somou, na última abertura da janela de transferências, 1,938 bilhão de libras, que é o equivalente a R$ 7 bilhões. Esse foi o valor gasto pelos clubes das primeiras divisões de Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália para a contratação de jogadores para a atual temporada.

O levantamento faz parte de um cruzamento de dados de dois sites especializados no mercado de transferência de atletas, o Transfermarkt e o Statto, e foram compilados no site ''Transfer Window'' (para quem quiser brincar de descobrir até sobre a transferência de jogadores na terceira divisão inglesa, clique aqui).

O montante alcançado na abertura do mercado este ano contrasta com a realidade econômica da Europa e mostra quanto o futebol atingiu um status de ''mundo paralelo'' no Velho Continente. Inflado pelo dinheiro de megainvestidores e pela necessidade competitiva dos clubes que não possuem donos, o mercado de transferência de atletas na Europa vive um de seus momentos mais valorizados dos últimos tempos.

Prova disso é que o ''saldo'' das transferências foi deficitário. Enquanto os clubes dessas ligas gastaram R$ 7 bi na compra de atletas, eles faturaram R$ 4,85 bi na venda. Ou seja, no balanço final, o ''prejuízo'' total foi de R$ 2,15 bilhões.

A gastança desenfreada dos clubes tem ''respaldo'' justamente naqueles que são os contra-exemplos de gestão financeira austera, especialmente os clubes que possuem um dono bilionário. As balanças mais deficitárias foram de Monaco (140 milhões de libras de ''prejuízo'') e Manchester City (92 milhões), clubes que ainda estão na fase de injeção de dinheiro do investidor sem o retorno, tanto esportivo quanto financeiro.

Os maiores gastadores foram, pela ordem, Real Madrid, Monaco, City e PSG. Todos tiveram prejuízo superior a 50 milhões de libras (R$ 175 mi), sendo que o Real é o único desses clubes que não possui um dono para injetar dinheiro nele. Não por acaso, o clube espanhol foi o único a ter vendas significativas, de 100 milhões de libras, para compensar parte do investimento em contratações.

Conhecida pela racionalidade nos gastos, a Bundesliga, da Alemanha, continua a ser a liga que menos gastou entre as cinco mais (231 milhões de libras).

A curiosidade do levantamento, porém, fica por conta do saldo das balanças das ligas espanhola e italiana. Gastadores convictos, dessa vez italianos e espanhóis encerraram a janela de transferências gastando menos do que arrecadaram. O ''lucro'' que essas ligas tiveram revela a dificuldade financeira que os dois países encontram. Barcelona e Real Madrid são as duas exceções, mas só conseguem fazer isso por serem os dois clubes que mais faturam no mundo.

Numa leitura mais aprofundada desses dados, podemos perceber que o futebol, na Europa, caminha para uma era de megainvestidores. Pelo movimento que teve início com Roman Abramovich no Chelsea, em 2003, é bem possível acreditar que, em mais dez anos, o futebol no continente será uma festa para abastados. Pelo menos para quem quiser ser relevante mundialmente.


Após Brasil, Gillette se apropria de amistosos da Argentina
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Erich Beting

Patrocinadora da seleção brasileira e da argentina, a Gillette decidiu ampliar as ações de ativação da marca. Nesta sexta-feira, anunciou que vai patrocinar os últimos amistosos do ano envolvendo as duas seleções. O que antes era para ser mais dois jogos do Gillete Brasil Global Tour agora foi ampliado para o Gillette International Soccer Series, incluindo as partidas da Argentina contra Equador e Bósnia, que também acontecem agora em novembro nos Estados Unidos.

A compra dos amistosos da Argentina já mostram a pisada no acelerador que a Gillette dá tendo em vista a Copa do Mundo. Há mais ou menos quatro anos que a marca começou a se mexer em relação ao Mundial. Começou com o patrocínio a seleções no mercado latino-americano, que tem sido importante para a empresa.

Agora, com a Copa batendo à porta, a marca começa a ativar as partidas amistosas dos principais times patrocinados, sempre usando os atletas que têm contrato com a marca para ações com a imprensa. O patrocínio aos jogos da Argentina é o primeiro passo maior nesse sentido.

A custa de uma grana considerável, a Gillette achou um caminho para se apropriar do futebol na América do Sul e, assim, se relacionar indiretamente à Copa do Mundo. O valor investido, em patrocínio e ativação, acaba sendo menor que aquele que seria investido num aporte à Fifa. O resultado mostra que a estratégia de patrocinador não-oficial pode, muitas vezes, ser mais eficiente e menos custosa.

Mas para chegar a essa conclusão, a Gillette conta com mais de 100 anos de ações de marketing esportivo e, também, com a experiência de já ter sido patrocinadora de Copa do Mundo. Possivelmente após o Mundial muita marca vai perceber que teria sido possível fazer mais coisa com o mesmo dinheiro empenhado no status de ''patrocinador oficial''. E isso servirá como um bom aprendizado para o patrocínio esportivo no Brasil…


Dono do Redskins peita presidente dos EUA. E se fosse aqui?
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Erich Beting

Reza a lenda, ou pelo menos é isso que filmes e seriados americanos tentam transmitir, que o presidente dos Estados Unidos é o homem mais poderoso do planeta. Ir contra o Mr. President é quase uma sentença para que o cidadão ou aquela instituição se dê mal.

Só que filme americano algum já pensou em retratar o que acontece no Washington Redskins, time que disputa a liga de futebol americano, a NFL. Pelo menos lá, o presidente dos Estados Unidos não manda. Barack Obama teve seu pedido ignorado para a mudança do nome do clube.

Em meio a uma corrente politicamente correta de coibir o uso do apelido Redskins (que numa tradução livre quer dizer ''pele-vermelha'', maneira pejorativa usada pelos americanos para se referirem ao povo indígena no passado), Obama deu seu pitaco outro dia, de maneira politicamente correta, por assim dizer, sobre abolir o apelido.

“Não quero prejudicar os maravilhosos torcedores do Washington Redskins, que o amam com razão, mas, se dependesse de mim, eu pensaria em trocar o nome. Nomes como redskins ofendem um bom número de pessoas'', afirmou Mr. President.

A resposta veio por meio de uma nota oficial assinada por Daniel Snyder, proprietário do Washington Redskins:

''Washington Redskins é muito mais que o nome que nós temos chamado nosso time de futebol americano ao longo das últimas oito décadas. É o símbolo de força, coragem, orgulho e respeito, valores compartilhados pelos próprios índios americanos'', afirmou Snyder, entre outras coisas (leia a reportagem completa aqui).

Ao peitar Obama, o dono da franquia explica, mesmo que indiretamente, como funciona a cabeça do esporte nos Estados Unidos. A lógica é mais ou menos simples de ser entendida. E, para deixar bem claro, é preciso enumerar tudo o que acontece por meio de alguns ''princípios básicos''.

1 – O clube tem um dono.

2 – O dono vê no clube um negócio, que precisa ser rentável. Sendo assim, você precisa saber conseguir dinheiro para manter o negócio funcionado.

3 – A razão de ser do negócio clube é o torcedor. É por causa dele que existe o clube.

4 – Para satisfazer o torcedor, é preciso criar conexões com ele, que vem, principalmente, por meio de conquistas esportivas.

5 – Além das conquistas esportivas, é preciso ressaltar a história e o vínculo emocional que o torcedor tem com o clube.

6 – Como a pessoa é dona do clube, ela faz aquilo que considera melhor para ele, sem precisar de interferências, até mesmo do presidente dos Estados Unidos!

Não necessariamente nessa ordem, esses são alguns dos preceitos que explicam um pouco de por que o esporte nos Estados Unidos tem a área de marketing muito bem desenvolvida. Até por conta de um traço cultural americano, de ser um povo que gosta de estimular e receber estímulo para o consumo, isso funciona muito bem. O torcedor ama o clube, mas sabe que aquilo é um negócio e que há alguém que merece ganhar dinheiro às custas dessa paixão. Se ela está sendo correspondida, ok, é isso que ele quer.

Na Europa, essa mentalidade começou a permear a cabeça de alguns dirigentes de alguns clubes, especialmente na Inglaterra e na Alemanha. Não à toa, essas duas ligas são as mais avançadas em questão de geração de receitas, produção de bom espetáculo e, também, na invasão de investidores para a compra dos clubes (ainda mais na Inglaterra). Aos poucos, outros países começam a aderir à era do clube de futebol com dono.

Donos que sabem que a razão de existir de um clube tradicional é o torcedor. E que essa paixão precisa ser alimentada. Por mais popular e público que seja o esporte, o dono do clube continua soberano na hora de tomar uma decisão.

Por aqui, com a cultura esportiva baseada nas associações dos clubes, não há hoje qualquer brecha cultural para que um time venha a ter um dono. Nem mesmo em outros esportes, que reúnem menos torcedores que o futebol, essa hipótese é considerada.

Por conta disso, os conchavos políticos são fundamentais. São eles que garantem o prestígio dos presidentes, muito mais do que o negócio de um clube, que seria dar lucro e trazer o resultado em forma de desempenho esportivo. E, assim, fica muito, mas muito difícil, um projeto de longo prazo ser colocado em prática dentro de um clube. O mesmo raciocínio serve para a política, em que os planos são muito mais de poder do que de governo. É o sistema que leva a isso, muito mais do que a incompetência de quem está nos cargos.

Ah, mas na Espanha Real Madrid e Barcelona seguem o modelo brasileiro e são um sucesso…

Sim, mas lá, principalmente por uma questão de conveniência, o governo permitiu e estimulou o fim da competitividade interna para promover a Espanha por meio de dois únicos clubes.

Você, torcedor, aceitaria ver seu clube passar só a sobreviver para outros dois brilharem?

Pois é.

Por mais impopular que possa parecer, os lugares onde o esporte mais encanta o consumidor são aqueles em que a gestão deles é feita de maneira absolutamente privada. Por mais interesse público que o tema possa gerar. Barack Obama e o Washington Redskins estão aí para provar isso.


Com Alemão, Fox agita de vez mercado de TV paga no Brasil
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Erich Beting

O mercado de direitos de transmissão ficará agitado pelo menos até amanhã, quando se encerra a Sportel, grande feira que reúne os principais vendedores e compradores de direitos esportivos do mundo. A feira, realizada em Mônaco, já trouxe o primeiro grande reflexo para o mercado brasileiro: a partir da temporada 2015/2016, a Fox Sports será a detentora exclusiva da transmissão da Bundesliga, o Campeonato Alemão.

O negócio é mais um que a Fox consegue vencer sobre a ESPN. Mas, acima disso, ele reflete o momento de ebulição pelo qual passa os direitos de transmissão no país. Para a felicidade dos detentores desses direitos, a entrada da Fox, no ano passado, fez o Brasil se valorizar enquanto a crise na Europa diminuiu um pouco o apetite das empresas de mídia por lá.

Aqui, as disputas já envolveram campeonatos com maior apelo local, como a Libertadores, e outros mundiais, como a Liga dos Campeões, a Premier League (Inglaterra) e o Campeonato Italiano. Só para se ter uma ideia, a Fox pagou, para ter a exclusividade da liga italiana no continente americano, quase cinco vezes mais do que havia pago no período anterior.

As vitórias da Fox nas competições estrangeiras têm relação direta com o poder de compra global que a emissora tem. Antes privilégio da ESPN, a empresa de Rupert Murdoch passou a fazer uso de seu alcance em diferentes regiões do planeta para conquistar alguns direitos de transmissão que considera importante em alguns mercados.

Foi o caso da Bundesliga. O principal objetivo dos alemães atualmente é aumentar a receita com a venda de direitos de transmissão para o exterior. No acordo com a Fox, são 80 países incluídos no pacote, sendo que o Brasil é um dos mais comemorados pela emissora. Até pouco tempo atrás, era a ESPN que fazia uso de seu alcance em diversos países para conquistar alguns campeonatos importantes. Hoje, o esporte faz a farra e consegue um leilão interessante com a disputa das duas grandes emissoras mundiais do esporte.

No caso do Brasil, a Fox já incomoda bastante. O mercado ainda tem a liderança do Sportv, mas o crescimento da Fox em apenas dois anos é marcante, tanto que em alguns momentos ela bate a ESPN. No ano que vem, com o segundo canal da empresa, a tendência é a disputa ficar ainda mais acirrada.

Para o torcedor, quanto mais canal de esporte existir, melhor. Para o esporte, também, já que isso abre a possibilidade de ganhar mais dinheiro com a briga entre as emissoras. Fazia tempo que o mercado de TV paga no Brasil não estava tão agitado. Curioso porém é ver como o esporte, por aqui, não percebeu isso e continua a ter como meta, sempre, um acordo com uma única emissora.


Até na falta de criatividade Nike e Adidas permanecem unidas
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Erich Beting

''Ao anoitecer, o litoral de Santos ganha um brilho especial com o reflexo das luzes da orla no mar. Essa cena serviu de inspiração para a nova camisa 3 do Peixe, que a Nike acaba de lançar em homenagem à cidade de Santos''.

''Flamengo e adidas apresentam nesta terça-feira, 15, o novo terceiro uniforme do clube. A nova camisa é preta e tem como destaque grafismos inspirados nos cenários da cidade do Rio de Janeiro. Nos ombros, as três listras estão em vermelho.
A equipe, que volta a ter um 3º uniforme, o primeiro confeccionado pela adidas nesse retorno ao clube, terá no peito imagens que remetem a pontos como o Pão de Açúcar, Corcovado e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nas costas da camisa o selo “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo – 1895” continua presente''.

Os dois textos foram extraídos dos comunicados divulgados à imprensa por Nike e Adidas para apresentarem as novas terceiras camisas de Santos e Flamengo. O duelo entre as duas maiores fabricantes de material esportivo do mundo é tão interessante que chega a ser curioso como até na falta de criatividade ambas conseguem se assemelhar.

Usar elementos da cidade que o clube representa na camisa é um dos mais antigos expedientes dos fabricantes de camisas. Foi, no passado, algo inovador. Hoje, só mostra que anda faltando criatividade na confecção dos uniformes dos clubes. Logicamente que a ideia de se fazer os grafismos alusivos à origem dos clubes é uma forma de aproximar as instituições das cidades que elas representam. O problema é se o orgulho do torcedor não é maior pelo clube do que pela cidade.

Os terceiros uniformes finalmente se transformaram numa regra do mercado brasileiro. Fugindo das tradicionais camisas dos clubes, eles trazem um novo apelo de consumo para o torcedor. Como quase sempre acontece na indústria esportiva, o mercado funciona em algumas ondas.

Hoje, a tendência é inserir símbolos e grafismos nos materiais confeccionados (a bola da Copa, que será apresentada em dezembro, trará essa característica). Resta saber se essa moda vai pegar.

camisa 3 do Santos

Camisa 3 do Santos, inspirada na orla da cidade

Camisa 3 do Flamengo, com símbolos do Rio de Janeiro


NBA prova que público para bom evento existe no esporte
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Erich Beting

A pergunta veio para mim pelo perfil no Twitter, ainda no começo de Chicago Bulls x Washington Wizards: ''O fiasco do público do jogo da NBA no Rio seria erro de precificação?''. Tinha programado tirar o sábado de folga, mas não deu para controlar a vontade de ligar a TV e tentar ver o tal ''fiasco'' do público.

Claramente havia alguns buracos nas cadeiras do HSBC Arena, mas nada que chamasse muito a atenção. Pelo contrário, a sensação que tinha era a de que havia muita gente, sim, presente no ginásio. Enquanto o Twitter pegava fogo num debate, voltei para a folga e esperei a segunda-feira para estudar um pouco mais o tema e tentar analisar com mais frieza o que foi a primeira vez da NBA no Brasil.

O fato é que o Brasil, dos seis jogos já disputados até agora por times da NBA fora dos Estados Unidos, foi o segundo país a levar mais gente para um ginásio e, na proporção, o que mais ocupou o ginásio (detalhes aqui). Foram 13.635 torcedores para 14.000 ingressos colocados à venda no ginásio na Barra da Tijuca (97,4% de aproveitamento do espaço). Só o jogo realizado em Taipei, na China, atraiu mais gente até agora (13.686 pessoas foram ontem acompanhar o Houston bater o Indiana Pacers), mas o ginásio local era um pouco maior, com capacidade para 15.082 pessoas (a ocupação lá foi de 90,7%).

Como já havia dito aqui na sexta-feira, a NBA deu uma aula de como promover um evento para o público. Mais do que a semana de ações, a liga já havia tratado de ''desembarcar'' no Rio de Janeiro no final de agosto, quando promoveu um evento no Parque de Madureira, num campeonato de 3 contra 3 durante um final de semana.

O evento no HSBC Arena foi o ''grand finale'' de um ano repleto de ações da NBA por aqui. Durante todo o ano, o torcedor brasileiro teve contato com a liga de alguma forma. Seja em eventos para o torcedor (o torneio de 3 contra 3 ocorreu, no primeiro semestre, em São Paulo), seja por meio de ações promocionais de parceiros comerciais, seja por meio de promoções online.

Mas, mais do que mostrar que é preciso um trabalho constante de promoção do espetáculo para estar perto do público, a NBA prova que, para levar gente a evento, é preciso que ele seja, antes de mais nada, bom. Os ingressos para o jogo-exibição por aqui eram altíssimos (de R$ 180 a R$ 2.000). Mesmo assim, o ginásio lotou.

O fã do basquete vai provavelmente começar a poupar agora o dinheiro para acompanhar mais uma partida da liga no ano que vem. Por mais caro que seja o ingresso, na cabeça do torcedor o preço empregado nele vale a pena.

Não é somente a qualidade da arena esportiva que vai determinar o preço do ingresso, mas sobretudo a qualidade do produto que será exibido ali. É isso que falta ao futebol brasileiro hoje perceber. Não serão apenas os novos estádios que trarão um aumento de receita para os clubes. É preciso, urgentemente, melhorar o produto. Essa foi a mudança provocada pela Inglaterra nos anos 90 e, recentemente, pela Alemanha, e que explica boa parte do sucesso desses dois países na gestão de público nos estádios. Nos Estados Unidos, esse conceito existe desde que o primeiro jogador rebateu uma bola de beisebol.

Público consumidor de esporte sempre vai existir. Mas para isso, é preciso saber encontrar a relação custo-benefício. Hoje, e a venda de ingressos para a Copa e para o jogo da NBA estão aí para provar, querer cobrar muito para um produto ruim é pedir para não ganhar dinheiro com ingressos.